"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

MÍDIA INFLA MALALA

Nem todas as adolescentes paquistanesas têm a sorte de levar um tiro na cabeça. Ora, direis que faço piada, e piada de mau gosto. Nada disso. Não fosse o tiro providencial dos taleban, Malala Yousafzai continuaria cumprindo sua triste rotina, anônima e sem futuro, em Swat, na fronteira com o Afeganistão. Aliás, antes do atentado dos bárbaros, nem do distrito pashtun de Swat, de 1250 habitantes, o Ocidente tinha notícias.

Bárbaros, escrevi. Sim, mas inteligentes. Os taleban sabem o que fazem. A melhor maneira de anular uma pessoa é proibi-la de educar-se. O crime de Malala foi freqüentar uma escola. Mulher que se educa é sempre um perigo para um macho covarde. Bala nela.

Hoje centro de atenções da mídia internacional, Malala revela um discurso bem articulado, apesar de sua pouca idade. O que não a impede de dizer bobagens. Ainda há pouco eu comentava seu discurso na ONU, em julho passado, onde dizia:

- Não há arma mais poderosa do que o conhecimento nem maior fonte de conhecimento do que a palavra escrita. Canetas e livros são armas que derrotam o terrorismo.

Ora, que o conhecimento é uma arma poderosa, isto não se discute. Mas terroristas não só riem dos livros, como tem sido através dos livros que se prega o terrorismo. Que o digam Bakunin e Netchaiev. Ou, mais perto de nós, Che Guevara e Marighella. O terrorismo contemporâneo tem sido perpetrado por fanáticos que conhecem muito bem a palavra escrita. Bin Laden não era nenhum analfabeto.

Em entrevista para a Veja desta semana, diz Malala:

- Por que o Talibã tem medo de você?
- O Talibã tem medo porque sabe que, se as mulheres tiverem acesso à educação, serão capazes de exercer um papel ainda maior do que o que elas já têm na sociedade. Em geral, são as mulheres que cuidam das famílias. São elas que administram a casa, cuidam dos filhos. Com a educação apropriada, elas poderão ter ainda mais oportunidades. Isso assusta o Talibã. É uma visão muito ruim, porque o mundo precisa de igualdade. Se as mulheres, que são metade da população mundial, não tiverem acesso à educação, o mundo não se desenvolverá. O Talibã também desenvolveu um sistema próprio de leis, que não tem nada a ver com o Islã. O Islã nos diz que a educação e o conhecimento são direitos de todas as pessoas. Então, eu acho que o Talibã não leu o Corão da forma apropriada. Eles precisam sentar e ler o texto novamente, com calma. O profeta Maomé nos ensina sobre igualdade, sofre fraternidade, sobre o amor ao próximo. O Talibã se esquece de tudo isso e só se lembra da jihad. Nós, meninas, temos nossa própria jihad pela qual lutar. Temos que lutar pelos nossos direitos e pela educação.

Malala denuncia os taliban, mas se omite quanto à fonte do mal. Isto é, Maomé. Acha que os taliban não leram o Corão. Pelo jeito, Malala também não leu.

Mulher é campo a ser lavrado, quando o macho quiser. Sura 2:223:
Vossas mulheres são, para vós, campo lavrado. Então, achegai-vos a vosso campo lavrado, como e quando quiserdes...

O homem é naturalmente superior. Sura 2:228:
Os esposas têm os mesmos direitos que os maridos têm de acordo com os princípios gerais conhecidos. Naturalmente, os homens estão um grau acima delas em seu status.

Nas heranças, um homem vale por duas mulheres. Sura 4:11:
Ao homem, cota igual à de duas mulheres...

O testemunho de uma mulher vale metade do testemunho de um homem. Sura 2:282:
E tomai duas testemunhas, dentre vossos homens. E, se não houver dois homens, então um homens e duas mulheres, dentre quem vós aceitais por testemunhas, pois, se uma delas se descaminha da lembrança de algo, a outra a fará lembrar.

As escravas são propriedade sexual de seus donos. Sura 4:24:
E vos é proibido esposardes as mulheres casadas, exceto as escravas que possuís.

Um homem pode ter quatro mulheres. Sura 4:3:
Se temerdes ser injustos no trato com os órfãos, podereis desposar duas, três ou quatro das que vos aprouver, entre as mulheres. Mas, se temerdes não poder ser eqüitativos para com elas, casai, então, com uma só, ou conformai-vos com o que tendes à mão.

Os maridos podem bater à vontade em suas mulheres, pois Alá é grande. Sura 4:34:
… àquelas de quem temeis a desobediência, exortai-as, pois, e abandonai-as no leito, e batei-lhes. Então, se eles vos obedecem, não busquei meio de importuná-las. Por certo, Allah é Altíssimo, grande.

- No Paquistão – pergunta o repórter - muitas meninas da sua idade já estão casadas e com filhos. Você aceitaria um casamento arranjado?

- De forma alguma. Sou totalmente contra casamentos forçados porque eles destroem o futuro das meninas. Na minha escola no Paquistão, havia uma menina que abandonou os estudos muito cedo, acho que ela tinha 11 anos na época. Dois ou três anos depois, ela me ligou. Ela me disse que já estava casada e tinha dois filhos. Imagine só, ela tem a mesma idade que eu e já tem dois filhos! Não quero que as pessoas sejam forçadas a se casar tão jovens.

A menina que acha que Maomé ensina sobre igualdade, sofre fraternidade, sobre o amor ao próximo, esquece que o profeta – abençoado seja nome – casou com uma menina de seis e consumou o casamento aos nove anos dela.

Cotada para o Nobel da Paz por uma imprensa sedenta de heróis, caitituada pelos grandes do mundo, Malala foi picada pela mosca azul. Aos dezesseis, já quer ser primeira-ministra. Quanto ao Nobel, já acha que tem direito. Só acha que ainda é cedo.

Heróis, há ainda pouco tempo, eram os homens ou mulheres que sobressaíam por seus feitos. Ou seja, que superavam as próprias forças e faziam mais do que deles era esperado. Com a mídia, herói passou a ser aquele que simplesmente cumpre o seu dever. Por exemplo, um bombeiro que socorre as vítimas de um incêndio. Pior ainda: hoje basta ser vítima para ser herói. Malala queria estudar e levou um tiro na cabeça. Então é heroína.

Enfim, algum mérito há nisso tudo. Chama a atenção para o nó górdio do Islã, a condição da mulher. Mas isto vem sendo denunciado há muito tempo. Fora levar um tiro, Malala nada traz de novo.


14 de outubro de 2013
janer cristaldo

Um comentário:

  1. Muito bom, pior que é verdade! Ela só levou um tiro na cabeça, se eu levasse uma cassetada eu também virava herói, né?🙁isso é triste

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