Ex-ministro Fernando Bezerra Coelho tenta evitar conflitos de interesses entre o desenvolvimentismo de Eduardo Campos e o viés ambiental de Marina Silva
Fernando Bezerra Coelho, ex-ministro da Integração Nacional e coordenador do programa de governo do pré-candidato Eduardo Campos (Elza Fiúza/ABr)
"Não há problema de a pessoa no banco de reservas ser forte. A Marina, ao tomar decisão de vir ao PSB, veio porque disse que queria apoiar a candidatura de Eduardo Campos."
É possível conciliar as ideias de Campos com as ideias ambientalistas de Marina? Claro que dá para unificar as duas visões de mundo. Eduardo traz duas ideias-forças. Uma é a proposta de colocar o desenvolvimento brasileiro em um outro patamar. Outra ideia é o conceito da eficiência da gestão pública, da racionalidade, da meritocracia, da transparência. No caso de Marina, as duas ideias-forças dela são o conceito da sustentabilidade, que é uma coisa muito cara à sociedade brasileira e a ideia de ensejar uma nova participação das pessoas na vida pública, com novos meios de participação popular e diminuição da importância dos partidos políticos.
Campos vinha construindo alianças mesmo com quem não têm afinidade direta com o que pensa Marina. É possível desprezar algum tipo de aliança? Claro que não dá para desprezar. Quanto mais alianças, melhor. Mas essas duas ideias-forças de Marina e Eduardo vão ser traduzidas nesse acordo programático. Elas não são conflitantes. Nem as ideias nem as alianças. Marina inaugura um novo momento e cria quase a figura de um consórcio partidário. Sem perder a integridade dela, ela vai entrar dentro dessa proposta a ser construída agora entre o PSB e a Rede. O que está se privilegiando é o acordo programático, a proposta. Isso independe dos palanques, porque se tivermos bandeiras bem definidas, bem colocadas, poderemos mobilizar a sociedade por cima dos partidos, dos palanques e das estruturas político-partidárias tradicionais.
As alianças serão amplas? Até junho de 2014, nas convenções partidárias, se esse acordo programático for mobilizador, como esperamos que seja, é evidente que os partidos políticos que estão estruturados tendem a se aproximar. A partir daí, discutimos onde vai ser possível formar aliança, porque todos precisam de alianças partidárias para viabilizar tempo de televisão e candidaturas proporcionais. Agora existe uma inversão: em vez de estarmos correndo atrás de palanques e de candidaturas, estamos priorizando a elaboração de um acordo programático com bandeiras e ideias que poderão sensibilizar vastos segmentos da sociedade e, por consequência, poderão aproximar os partidos.
Como fazer essa aliança programática procurando partidos das mais diversas ideologias? Primeiramente temos de definir em torno do que estamos unidos. Isso é a prioridade tanto do PSB quanto da Rede até dezembro. A partir de janeiro, vamos ver a repercussão de nossas ideias e aí vão se intensificar as movimentações. Vão ter reações a favor e contra, e isso é natural. A proposta a ser apresentada poderá aproximar ou afastar determinadas posições políticas. Definidas claramente as ideias [do programa de governo], uns vão se aproximar e outros vão se afastar. Quem quiser apoiar claro que vai poder apoiar, desde que com compromisso.
A Marina terá poder de veto nas alianças? Não. A Marina está entrando no PSB trazendo uma série de contribuições. Pegue o Paulo Bornhausen, por exemplo, que é originário mais da direita e que apoia a candidatura de Eduardo Campos. Os que quiserem aderir à candidatura de Eduardo Campos vão ter de aderir ao programa e às ideias. E nossa questão não é em relação ao passado. Queremos tratar de construir o futuro. Queremos olhar o Brasil para frente, e não para trás.
Como o PSB vê a Marina, que pode ser vice na chapa, sendo mais forte e tendo maior preferência do eleitorado? Isso está sendo administrado com muita tranquilidade no partido. A candidatura de Eduardo Campos é uma decisão já tomada. Não há problema de a pessoa no banco de reservas ser forte. A Marina, ao tomar decisão de vir para o PSB, veio porque disse que queria apoiar a candidatura de Eduardo Campos.
É possível que Marina transfira para Campos os 20 milhões de votos que teve nas eleições de 2010? Nada é automático na vida. Tudo tem que ser conquistado e trabalhado. Nada é aritmético. Agora estamos vivendo o momento mais rico dessa pré-campanha com a decisão dela vir para o PSB. Precisamos saber se essa decisão vai ter desdobramentos do ponto de vista eleitoral. Acreditamos que terá se traduzirmos bem esse acordo programático e essas ideias-forças que animam tanto o PSB quanto a Rede.
Pelo fato de serem ex-ministros do governo Lula, fica mais fácil para Campos e Marina apontarem os erros da gestão petista? Eles avalizam para um grande segmento do eleitorado brasileiro que é preciso ir além. É daqui para melhor. É preciso levar adiante todas as conquistas sociais para que elas não se percam.
Marina disse que Campos estava no “mesmo balaio” que Aécio Neves e que a presidente Dilma. As críticas e ataques ficaram no passado? Depois que o Brizola chamou o Lula de sapo barbudo e engoliu o sapo tudo tem como ser administrado. Não existe nenhum tipo de manifestação que não possa ser minimizada ou compreendida agora nesse novo contexto de respeito às pessoas. Não houve nenhuma agressão do ponto de vista pessoal.
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14 de outubro de 2013
Laryssa Borges - Veja
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