"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

QUAIS AS RAZÕES DA CÂMARA PARA NÃO CASSAR DONADON?

 



Hoje a Câmara decide se cassa ou não o mandato do deputado Natan Donadon. Condenado pelo Supremo desde outubro de 2010, aguardava em liberdade o julgamento de seus recursos. A decisão da Câmara tem duas consequências distintas e interligadas.

A mais obvia é jurídica. Diz respeito a separação de poderes entre o Judiciário e o Legislativo. A paciência do Supremo pareceu se esgotar quando os advogados de Donadon entraram com um segundo embargo de declaração.

Ficou nítido que eram protelatórios. Expediu-se o mandado de prisão. Desde 28 de junho deste ano ele está preso. Mas continua deputado federal. O que a Câmara decidirá hoje é se mesmo preso ele continua ou não deputado.

Não seria essa cassação automática? A Constituição diz que os poderes são independentes. Mas a Constituição é um dever ser. Devem ser harmônicos. A realidade é outra.

As relações entre Judiciário, Executivo e Legislativo são sempre tensas. Em vez de harmonia, tensão. É a vida como ela é. O importante é não radicalizar a ponto de romper esta tensão. A tensão é a harmonia.

Natan Donado, deputado

O Senador Jarbas Vasconcelos acredita que em alguns casos deve prevalecer a decisão do Judiciário. O que alivia a possibilidade da tensão se reproduzir caso a caso.

Por isso, propôs um projeto de Emenda Constitucional, onde a perda do mandato do parlamentar condenado por crime contra a Administração Pública ou por improbidade administrativa é automática.

Esta proposta ainda está em tramitação. Já foi aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, mas precisa ser votada em dois turnos pelo plenário e depois pela Câmara. É uma demonstração de distencionamento.

A segunda consequência diz respeito às relações da Câmara com seus eleitores e com a opinião pública. Não cassar o mandato de Donadon, não implica tirá-lo da cadeia. Não o absolve. É deputado na cadeia. Lá ficará cumprindo a pena.

Tudo que a Câmara precisa é evitar esta relação deputado-cadeia. Em nome de quê, a Câmara vai convencer a opinião pública que um condenado na justiça por improbidade deve continuar a ser deputado?

Não estamos em tempos de perseguições políticas, revoluções. Mas a opinião pública precisa que a Câmara explicite claramente as razões de não cassar. Assim como o Supremo explicitou as razões de condenar.

21 de agosto de 2013
Joaquim Falcão

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