Analistas viram indicação em documento do Fed de que compras de títulos vão começar a reduzir em setembro. Banco Central brasileiro realizou leilão de swap cambial e vendeu US$ 987,9 milhões, mas moeda americana mantém alta
O dólar comercial disparou frente a diversas moedas depois da divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Analistas avaliaram que o Fed indicou que a redução das compras mensais de US$ 85 bilhões em títulos deve começar a ser reduzida em setembro, como acreditava boa parte do mercado. Esse estímulo desvaloriza o dólar desde 2008 e a indicação da reversão resultou em uma migração de capitais de países emergentes como o Brasil para os EUA, o que só fez a moeda americana se valorizar desde o fim de maio.
Com novos sinais na ata do Fed da proximidade da reversão dos estímulos, a divisa subiu ainda mais, com alta de 2,13%, a R$ 2,445 para venda, por volta de 15h32m. O documento foi publicado às 15h. A moeda disparou mesmo após intervenção do Banco Central no câmbio, no terceiro dia seguido de leilões. A desvalorização do real não foi amortecida nem pelo anúncio do BC brasileiro no meio da tarde de que vai vender 20 mil contratos de swap cambial, equivalente a US$ 1 milhão no mercado de dólar futuro, na manhã de quinta-feira.
— Após a ata, o mercado está mais confiante de que em setembro vai começar o processo de redução dos estímulos do Fed — disse Mike Moran, estrategista sênior de câmbio do banco Standard Chartered.
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O Banco Central realizou entre 10h30m e 10h40m desta quarta-feira um novo leilão de swap cambial tradicional, operação que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. Foram vendidos 20 mil contratos, no valor de US$ 987,9 milhões. Os contratos vencem em 1 de abril de 2014. Mesmo assim, o dólar não reduziu a alta. Hideaki Iha, operador de câmbio da corretora Fair, avalia que investidores ainda apostam na valorização da moeda americana diante da falta de mensagem clara do Banco Central de que atuará a partir de determinado nível do câmbio.— Depois do puxão de orelha que Tombini deu no mercado na segunda-feira, se não fizer nada diferente, o mercado vai continuar puxando o dólar para cima — diz Iha.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, lembra que o objetivo da autoridade monetária é amenizar a valorização do dólar.
— Com esses leilões, o BC tenta apenas reduzir a velocidade de alta da moeda americana frente ao real. Mas o contexto global é de alta do dólar com a expectativa de que o Fed comece a reduzir os estímulos à economia — diz o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Ontem o BC fez dois leilões de swap cambial e também ofertou dólares no mercado à vista em dois leilões de linha, uma espécie de empréstimo de dólares aos bancos, com compromisso de recompra no futuro. O BC ofertou US$ 4 bilhões nesses dois leilões, mais US$ 1 bilhão em contratos novos de swap cambial. No fim do pregão de terça, o dólar comercial apresentou uma desvalorização de 0,91%, sendo cotado a R$ 2,392 na compra e R$ 2,394 na venda. Na segunda, o BC fez outras três intervenções no câmbio para tentar frear a escalada do dólar, mas não teve sucesso.
Ontem e na segunda-feira o Tesouro Nacional também fez uma compra extraordinária de títulos públicos prefixados para estancar a alta de juros e acalmar os mercados. As taxas dos contratos de Depósito Interbancário (DI) são pressionadas pela alta do dólar. Com dólar em alta, impactando a inflação, cresce a expectativa de que o Banco Central eleve com mais intensidade a taxa básica de juro, a Selic.
Bolsa abre em queda, mas inverte o sinal
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o índice de referência abriu em queda, inverteu para alta e chegou a permanecer estável antes da ata do Fed. Mas, depois da divulgação, o Ibovespa engatou alta de 1,04%, aos 51.034 pontos. Ontem, o Ibovespa fechou em queda de mais de 2% após nove pregões consecutivos de alta.
Entre as ações mais negociadas do pregão, Vale PNA cai 0,92% a R$ 31,15; Petrobras PN tem alta de 1,16%, a R$ 17,33, e OGX Petróleo ON sobe 5,88%, a R$ 0,72.
As ações das companhias do Grupo EBX, do empresário Eike Batista, estão em alta nesta quarta-feira diante dos rumores de que a MMX, empresa de mineração, interessa à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e pelo fundo Mubadala, de Abu Dhabi. Os papéis da MMX sobem 2,20% a R$ 2,32. Já as ações da CCX, que tem minas de carvão, sobem 17,96% a R$ 1,51, também com rumores que circulam no mercado de que haverá venda de ativos.
Nos EUA, os principais índices acionários estão em queda. O Dow Jones cai 0,44%, o Nasdaq tem baixa de 0,26% e o S&P 500 recua 0,38%.
21 de agosto de 2013
Daniel Haidar e João Sorima Neto - O Globo com agências internacionais
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