Montadoras, indústrias químicas e bancos europeus com atividades no País revelaram em seus últimos balanços financeiros queda no faturamento devido ao fraco crescimento econômico, redução do consumo e desvalorização do real
LONDRES - O impacto da desaceleração da economia brasileira já atravessou o Oceano Atlântico. Ao longo das últimas semanas, diversas multinacionais europeias publicaram balanços que revelaram o efeito negativo do quadro macroeconômico no Brasil. Aos analistas e investidores, executivos explicam que a atividade mais lenta diminuiu as vendas e afetou o resultado. Para piorar, a desvalorização do real reduz ainda mais o lucro quando o valor é convertido para o euro. Resultado: filiais brasileiras decepcionaram.
Alguns anos atrás, o Brasil era motivo de satisfação para multinacionais instaladas no País. Com o boom das commodities e o forte crescimento da demanda interna, resultados vistosos chamaram a atenção do mundo. O quadro, porém, parece que mudou: agora, balanços mostram deterioração do desempenho das filiais brasileiras e executivos precisam se explicar aos acionistas. O fenômeno foi visto em diversas companhias europeias, de fabricantes de produtos químicos a montadoras, passando por bancos, operadoras de telefonia e fabricantes de máquinas e equipamentos.
"O Brasil teve um resultado mais fraco que o esperado diante de uma surpresa com as dificuldades na economia", disse o presidente da suíça ABB, Joe Hogan, em teleconferência com investidores no fim de julho. No balanço, o motivo da frustração era evidente: as receitas da filial caíram 44% no segundo trimestre na comparação com igual período de 2012. Com isso, o Brasil derrubou o resultado da ABB nas Américas, que caiu 6% no período.
Enquanto o Brasil frustrou expectativas, as demais filiais da região avançaram: a unidade da ABB nos Estados Unidos registrou pequena alta de 1% nas vendas e o México teve um salto de 73% no faturamento - o maior aumento entre todas as filiais.
"Temos boas oportunidades no setor da construção e na distribuição de energia nos EUA", disse Hogan, ao mostrar que a multinacional aposta mais fichas no norte do continente.
Na Alemanha, a fabricante de matérias-primas químicas Basf não detalha números por país, mas mostrou que, entre as filiais das Américas, há duas tendências: desaceleração no Brasil e aceleração nos EUA.
"Devido à fraqueza do comércio exterior e da pequena alta no gasto dos consumidores, o crescimento do Brasil foi restrito no primeiro semestre", informou o balanço, que támbém mostra uma desaceleração da China. Por outro lado, há sinais positivos em economias centrais. "Apesar da política fiscal, os Estados Unidos apresentaram crescimento moderado", informou a companhia, que destaca a reação do Japão.
MONTADORAS
Apesar de manter certo fôlego, balanços mostram que o mercado de automóveis também dá sinais de cansaço no Brasil. Na Volkswagen, a venda de veículos somou 370 mil unidades de janeiro a julho de 2013, 1,9% menor há um ano.
Na francesa PSA Peugeot Citroën, o número de carros produzidos no País caiu em 2%, para 61 mil unidades. Para a Renault, a desaceleração de mercados emergentes, entre eles o Brasil, é uma das principais ameaças. "Há risco na demanda de curto prazo em mercados-chave: Brasil, Rússia e Turquia", disse o diretor de operações , Carlos Tavares.
BANCOS
Longe do chão de fábrica, bancos também perderam. A filial brasileira do britânico HSBC teve lucro 70% menor no semestre em comparação com 2012. "O Brasil está crescendo menos e o consumo está crescendo menos", disse o diretor executivo do HSBC, Stuart Gulliver, na apresentação do resultado em Londres. Na Espanha, o resultado gerado pelo Santander Brasil caiu 15,8% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses do ano devido ao "menor crescimento do mercado de crédito", que afetou a casa.
Não foi só a desaceleração da economia que prejudicou balanços. A desvalorização do real diminuiu o resultado das filiais quando o valor é convertido em euros ou libras para ser declarado no balanço das sedes. A Telefónica, por exemplo, registrou queda de 3,9% no faturamento trimestral da subsidiária brasileira que é dona da Vivo. Esse foi o pior desempenho entre as dez filiais na América Latina. A operadora explicou a piora especialmente pelo enfraquecimento da moeda brasileira.
21 de agosto de 2013
Alguns anos atrás, o Brasil era motivo de satisfação para multinacionais instaladas no País. Com o boom das commodities e o forte crescimento da demanda interna, resultados vistosos chamaram a atenção do mundo. O quadro, porém, parece que mudou: agora, balanços mostram deterioração do desempenho das filiais brasileiras e executivos precisam se explicar aos acionistas. O fenômeno foi visto em diversas companhias europeias, de fabricantes de produtos químicos a montadoras, passando por bancos, operadoras de telefonia e fabricantes de máquinas e equipamentos.
"O Brasil teve um resultado mais fraco que o esperado diante de uma surpresa com as dificuldades na economia", disse o presidente da suíça ABB, Joe Hogan, em teleconferência com investidores no fim de julho. No balanço, o motivo da frustração era evidente: as receitas da filial caíram 44% no segundo trimestre na comparação com igual período de 2012. Com isso, o Brasil derrubou o resultado da ABB nas Américas, que caiu 6% no período.
Enquanto o Brasil frustrou expectativas, as demais filiais da região avançaram: a unidade da ABB nos Estados Unidos registrou pequena alta de 1% nas vendas e o México teve um salto de 73% no faturamento - o maior aumento entre todas as filiais.
"Temos boas oportunidades no setor da construção e na distribuição de energia nos EUA", disse Hogan, ao mostrar que a multinacional aposta mais fichas no norte do continente.
Na Alemanha, a fabricante de matérias-primas químicas Basf não detalha números por país, mas mostrou que, entre as filiais das Américas, há duas tendências: desaceleração no Brasil e aceleração nos EUA.
"Devido à fraqueza do comércio exterior e da pequena alta no gasto dos consumidores, o crescimento do Brasil foi restrito no primeiro semestre", informou o balanço, que támbém mostra uma desaceleração da China. Por outro lado, há sinais positivos em economias centrais. "Apesar da política fiscal, os Estados Unidos apresentaram crescimento moderado", informou a companhia, que destaca a reação do Japão.
MONTADORAS
Apesar de manter certo fôlego, balanços mostram que o mercado de automóveis também dá sinais de cansaço no Brasil. Na Volkswagen, a venda de veículos somou 370 mil unidades de janeiro a julho de 2013, 1,9% menor há um ano.
Na francesa PSA Peugeot Citroën, o número de carros produzidos no País caiu em 2%, para 61 mil unidades. Para a Renault, a desaceleração de mercados emergentes, entre eles o Brasil, é uma das principais ameaças. "Há risco na demanda de curto prazo em mercados-chave: Brasil, Rússia e Turquia", disse o diretor de operações , Carlos Tavares.
BANCOS
Longe do chão de fábrica, bancos também perderam. A filial brasileira do britânico HSBC teve lucro 70% menor no semestre em comparação com 2012. "O Brasil está crescendo menos e o consumo está crescendo menos", disse o diretor executivo do HSBC, Stuart Gulliver, na apresentação do resultado em Londres. Na Espanha, o resultado gerado pelo Santander Brasil caiu 15,8% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses do ano devido ao "menor crescimento do mercado de crédito", que afetou a casa.
Não foi só a desaceleração da economia que prejudicou balanços. A desvalorização do real diminuiu o resultado das filiais quando o valor é convertido em euros ou libras para ser declarado no balanço das sedes. A Telefónica, por exemplo, registrou queda de 3,9% no faturamento trimestral da subsidiária brasileira que é dona da Vivo. Esse foi o pior desempenho entre as dez filiais na América Latina. A operadora explicou a piora especialmente pelo enfraquecimento da moeda brasileira.
21 de agosto de 2013
Fernando Nakawaga - Correspondente - O Estado de S.Paulo
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