Os números do balanço de pagamentos em 2017 mostram uma situação confortável para o País. As transações externas, como mostrou o relatório do Banco Central (BC), tiveram uma evolução bastante favorável ao longo do ano passado, influenciadas pelo bom desempenho das exportações e pelo ingresso expressivo – embora inferior ao de anos anteriores – de investimentos diretos na economia. No que se refere às contas externas, o País parece preparado para a reversão do cenário internacional, que continua benéfico para os países emergentes. Mas mudanças anunciadas nas políticas monetárias das economias industrializadas podem reduzir o fluxo de capitais que os têm favorecido. Os números do BC mostram, porém, que o País reforçou sua capacidade de absorver impactos de uma eventual deterioração do cenário internacional.
Os números do setor externo, aos quais se acrescenta uma inflação baixa para os padrões históricos, mostram uma economia mais sólida do que a deixada pelo lulopetismo. E também em recuperação, visto que a piora de alguns itens do balanço de pagamentos decorre da maior demanda por serviços e bens importados, sinal de que as empresas retomam investimentos.
O Brasil encerrou 2017 com um déficit em conta corrente do balanço de pagamentos de US$ 9,762 bilhões, que corresponde a 0,48% do Produto Interno Bruto (PIB). É o melhor resultado desde 2007, quando a conta corrente teve saldo de US$ 408 milhões. Entre os itens que compõem as transações correntes do balanço de pagamentos, a balança comercial, com superávit de US$ 64,03 bilhões, foi o que mais contribuiu para o resultado do ano passado. O saldo comercial de 2017 foi bastante superior ao de 2016 graças ao crescimento das exportações.
Destaque-se, porém, que também as importações cresceram (9,9%), demonstrando a maior demanda do mercado interno que é característica da retomada do crescimento. Também o aumento do déficit na conta de serviços, de US$ 30,5 bilhões para US$ 33,9 bilhões, indica recuperação. Com o crescimento esperado do PIB em 2018, que fará crescer os gastos do País com serviços e importações, o déficit das transações correntes pode chegar a US$ 9,76 bilhões neste ano.
No ano passado, o investimento direto no País (IDP) ficou em US$ 70,3 bilhões, valor 10,1% menor do que o registrado em 2016. A queda poderia significar menor interesse de investidores estrangeiros em aplicações no setor produtivo, o que seria compreensível diante da crise iniciada no segundo semestre de 2014 e que se agravou com as incertezas políticas que marcaram o período que se seguiu ao início do processo de impeachment de Dilma Rousseff.
Mas, a despeito da queda do IDP em 2017, o que os números do BC mostram é o aumento do investimento destinado a participação no capital de empresas sediadas no Brasil (de US$ 54,1 bilhões para US$ 59,1 bilhões). O item que provou a queda do IDP foi o relativo às operações intercompanhias, que caiu de US$ 24,1 bilhões para US$ 11,2 bilhões. Esse fato, segundo alguns analistas do mercado financeiro, pode ser explicado por decisões das matrizes de reduzir suas remessas para o Brasil em razão do quadro político incerto.
Em resumo, a queda do IDP não reflete desinteresse crescente dos investidores. Economistas e analistas das principais instituições financeiras consultados semanalmente pelo BC estimam que o ingresso de IDP alcançará US$ 80 bilhões neste ano. Está é também a estimativa do BC. O valor é mais do que suficiente para financiar o déficit em transações correntes, como vem ocorrendo há anos.
O rebaixamento da nota de crédito do País pela Standard & Poor’s é um alerta para os desequilíbrios vigentes na economia brasileira e que precisam ser eliminados. Apesar disso, o País vem conseguindo captar recursos como se sua nota não tivesse sido rebaixada. A situação do balanço de pagamentos contribui para isso, mas a resistência no meio político às reformas, como a da Previdência, pode causar perdas.
05 de fevereiro de 2018
Editorial Estadão
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