Alguns amigos já conhecem a história, mas agora que o Dia D de Lula se aproxima, e tanto se fala do primeiro Château Pétrus que ele tomou, pensei em dar a ela maior difusão. Lula elegeu-se Presidente, pela primeira vez, com meu voto: como a maioria do povo brasileiro, acreditei nas promessas e não “tive medo”. Qual a minha alegria quando soube que sua primeira viagem ao exterior, como Presidente eleito, seria a Buenos Aires e Santiago. Na época, eu era Encarregado de Negócios (=Embaixador interino) no Chile. Minha mulher e eu nos desdobramos para agradar ao nosso novo Presidente, que ficou hospedado com a comitiva na Residência da Embaixada, um grandioso palácio neoclássico construído no séc. XIX por um arquiteto italiano para um magnata do salitre, monumento tombado pelo Governo chileno.
(Aqui cabe um parêntese: fiquei boquiaberto com o à-vontade de Lula entre mármores italianos, lustres de cristal, castiçais de prata, tapetes persas, salões suntuosos e criados de libré. Parecia que tinha passado a vida por ali. E eu, inocente, preocupado com a possibilidade de ele se sentir incômodo! Aliás, também surpreendeu-nos o assunto dele com minha mulher, durante o jantar que lhe oferecemos: a melhor maneira de preparar coelho, sua especialidade, segundo ele. Não, não era churrasco, polenta, buchada, sarapatel, carne de sol ou dobradinha que o ex-engraxate e torneiro mecânico nordestino preparava nos fins de semana: era “civet de lapin”!)
Como sou desde jovem apreciador dos bons vinhos - o Chile é pródigo neles - e já levava algum tempo em Santiago, resolvi dar um presente ao “meu” Presidente. Às vésperas de sua chegada, compus, a minhas custas, uma caixa com os 12 vinhos mais deliciosos que conhecia. Entreguei-a aos cuidados da comitiva presidencial e nunca mais ouvi falar do assunto. Lula não teve a amabilidade de me agradecer pelo mimo, que foi embarcado no jatinho (da Odebrecht?) que levava a turma. Pensei que talvez ele preferisse mesmo a velha caninha, como se comentava, e continuei na lida.
Se resposta houve, chegou meses depois, quando a gestão petista, sem qualquer aviso prévio ou escrúpulos, removeu minha mulher para Brasília e me orientou a ficar no exterior. Tomamos conhecimento ex-post facto de algo que transtornou nossa vida e prejudicou – e muito - nossa saúde (os amigos sabem dos problemas graves que afetaram em seguida a Ana Cristina e a mim).
Os anos passaram, e já no segundo mandato de Lula, às vésperas de viagem que ele faria ao país onde eu era Ministro-Conselheiro, notei no meu Chefe o semblante perplexo. Perguntei-lhe qual a razão para aquilo - ele que era o retrato da serenidade - e respondeu-me que acabara de receber um telefonema da Presidência da República, instando-o a comprar 12 garrafas de vinhos muito finos para oferecer ao Presidente, exigência de Sua Excelência! Pode?!
11 de maio de 2017
Carlos Alberto Asfora é diplomata.
Publicado originalmente no Facebook
(Aqui cabe um parêntese: fiquei boquiaberto com o à-vontade de Lula entre mármores italianos, lustres de cristal, castiçais de prata, tapetes persas, salões suntuosos e criados de libré. Parecia que tinha passado a vida por ali. E eu, inocente, preocupado com a possibilidade de ele se sentir incômodo! Aliás, também surpreendeu-nos o assunto dele com minha mulher, durante o jantar que lhe oferecemos: a melhor maneira de preparar coelho, sua especialidade, segundo ele. Não, não era churrasco, polenta, buchada, sarapatel, carne de sol ou dobradinha que o ex-engraxate e torneiro mecânico nordestino preparava nos fins de semana: era “civet de lapin”!)
Como sou desde jovem apreciador dos bons vinhos - o Chile é pródigo neles - e já levava algum tempo em Santiago, resolvi dar um presente ao “meu” Presidente. Às vésperas de sua chegada, compus, a minhas custas, uma caixa com os 12 vinhos mais deliciosos que conhecia. Entreguei-a aos cuidados da comitiva presidencial e nunca mais ouvi falar do assunto. Lula não teve a amabilidade de me agradecer pelo mimo, que foi embarcado no jatinho (da Odebrecht?) que levava a turma. Pensei que talvez ele preferisse mesmo a velha caninha, como se comentava, e continuei na lida.
Se resposta houve, chegou meses depois, quando a gestão petista, sem qualquer aviso prévio ou escrúpulos, removeu minha mulher para Brasília e me orientou a ficar no exterior. Tomamos conhecimento ex-post facto de algo que transtornou nossa vida e prejudicou – e muito - nossa saúde (os amigos sabem dos problemas graves que afetaram em seguida a Ana Cristina e a mim).
Os anos passaram, e já no segundo mandato de Lula, às vésperas de viagem que ele faria ao país onde eu era Ministro-Conselheiro, notei no meu Chefe o semblante perplexo. Perguntei-lhe qual a razão para aquilo - ele que era o retrato da serenidade - e respondeu-me que acabara de receber um telefonema da Presidência da República, instando-o a comprar 12 garrafas de vinhos muito finos para oferecer ao Presidente, exigência de Sua Excelência! Pode?!
11 de maio de 2017
Carlos Alberto Asfora é diplomata.
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