Viu-se ontem, ao longo do interrogatório do ex-presidente Lula, que o juiz Sérgio Moro é um magistrado dotado de extrema habilidade e completa tolerância e paciência. Ao menos com Lula foi assim. Houve dois momentos que Lula deveria ter sido advertido. Foi quando Lula referiu-se à vida pessoal do juiz. “Não sei se o senhor é casado”. Esta resposta-indagação nem os bandidos perigosos dizem em seus interrogatórios. Isto porque a moralidade mínima não admite tomar a pessoa do juiz como referência, como exemplo, para qualquer situação que se queira comparar ou expor. Lula queria dizer que os homens que têm mulheres em casa sabem que são elas que mandam.
O segundo momento — o mais grave — foi quando o interrogando disse textualmente ao juiz Sérgio Moro: “Quando o senhor for candidato a presidente”.
Ao dizer isso, Lula quis desmoralizar a autoridade do juiz. Foi uma afirmação para afrontar e desqualificar o juiz Moro para julgá-lo, não apenas julgar Lula como todos os processos da Lava Jato. Mais do que insinuação, Lula deixou claro que Moro está se preparando para ser candidato à presidência da República e se serve da Lava Jato para projetá-lo.
PROVOCAÇÃO – Quando Lula fez essa maliciosa afirmação referente à pessoa do Juiz, Moro deveria tê-lo advertido para que não utilizasse a pessoa do magistrado como referência à qualquer exemplo comparativo. É certo que se Moro tivesse advertido Lula, os ânimos ficariam exaltados e haveria bate-boca. Mas a serenidade, a sapiência e a sabedoria do juiz falaram mais alto. Moro deixou isso prá lá. Deu a entender que não ouviu, ou que não deu importância à afirmação de Lula de que Moro seria candidato a presidente da República.
De resto, vendo-se o vídeo sob a ótica da compostura, se constata que o ex-presidente não a tem. O tempo todo bebeu água (mineral, talvez) pelo gargalo da garrafa, enquanto se via sobre a mesa vários copos plásticos. Seu tom de voz foi de extremada arrogância. Quando o juiz entregava um documento para o interrogando examinar, Lula pegava o documento das mãos do juiz e demonstrava desprezo e pouco caso.
RASURA – Das muitas vezes que isso aconteceu, a que mais marcou foi quando o juiz Moro entregou a Lula um contrato em que o número do apartamento estava rasurado. E Lula perguntou ao Juiz, numa inversão de posições: “quem rasurou?”. Foi encontrado em sua casa, na diligência de busca e apreensão, respondeu o juiz Moro. Desconheço esse documento, respondeu Lula desprezando a pergunta e o documento.
O interrogatório durou cerca de cinco horas. Dos vídeos exibidos pelas televisões e internet se pode imaginar como foram os oito anos de governo Lula. Se diante do juiz que decidirá sua sorte Lula se comportou com arrogância, o que não aconteceu nos palácios, nos salões e gabinetes em Brasília e no trato com ministros, assessores e funcionários? Urbanidade da parte de Lula, não. Lula não tem urbanidade. Respeito no trato da coisa pública, não. Lula não sabe o que é isso. Ética e vocabulário à altura de um chefe de governo e de estado, também não. Lula não tem ética e seu vocabulário, curto, pois só conhece poucas palavras, é vocabulário de baixo nível.
Lula tem personalidade perigosa. Perigosa e vingativa. O juiz leu o depoimento que Lula prestou na Polícia Federal quando para lá foi levado coercitivamente. No depoimento lido pelo juiz Lula disse que “em 2018 eu vou me lembrar de todos vocês”. Lula referia-se aos policiais federais. E quando o juiz Moro indagou o que o interrogando queria dizer ao afirmar em recente discurso que no futuro “eu é quem posso prender vocês”, Lula disse que era “força de expressão”. Não era não. O juiz Moro bem avaliou o caráter do interrogando. E tudo isso tem um peso enorme na hora do sentenciamento.
11 de maio de 2017
Jorge Béja
Nenhum comentário:
Postar um comentário