O Natal começa com mensagens de amor e fraternidade e termina com muita gente entediada ou irritada com os parentes. Talvez uma coisa explique a outra. Justamente porque exigimos virtudes de nós próprios, ficamos contrariados quando não percebemos virtudes nos outros.
Há um passo pequeno entre a vontade de melhorar o mundo e a tentação de legislar sobre a vida alheia. Quanto mais próximo o amigo ou o parente, maior essa compulsão para mudar seu jeito de ser ou alinhá-lo às nossas preferências.
Você terá um Natal mais livre e mais feliz se não acreditar em propagandas de TV que propagam “um mundo mais humano”. Será mais tolerante com si próprio e com os outros durante as festas de fim de ano.
BOM EGOÍSMO – Costumamos acreditar que o egoísmo é a fonte de discórdia entre famílias ou países. Mas nem todo egoísmo é mau, assim como nem todo altruísmo é bom.
Muitas guerras e maldades foram causadas pela devoção coletiva a uma ideologia, a uma nação, e não pelo árido interesse individual. O maior vilão de todos os tempos é um exemplo. Mensagens de ajuda mútua e auto sacrifício permeavam livros didáticos, propagandas e lemas nazistas. “Aprenda a sacrificar-se pela pátria”, dizia a legenda de uma foto de Hitler vendida aos alemães. “Nós somos mortais, mas a pátria segue em frente.”
E quase todas as maravilhas ao nosso redor – remédios para doenças antes incuráveis, aparelhos para telefonar de graça a qualquer lugar do mundo, os emojis do WhatsApp – foram invenção de gente interessada apenas em encher o bolso de dinheiro oferecendo produtos melhores e/ou mais baratos que a concorrência.
INTERESSE PRÓPRIO – Como afirma Ayn Rand, a filósofa objetivista, egoísmo significa apenas “pensar no próprio interesse”, sem carga moral. O termo não necessariamente está relacionado a trapacear, roubar ou violentar os outros.
Pelo contrário, muitas vezes a melhor forma de atingir objetivos individuais é cooperando com os outros e construindo uma reputação de pessoa generosa e confiável.
Estudos sobre a evolução do comportamento humano, muitos deles compilados por Richard Dawkins em “O Gene Egoísta”, apagaram a fronteira entre egoísmo e altruísmo. Mostraram que o interesse individual pela sobrevivência (ou melhor, pela transmissão dos genes) fez dos humanos seres essencialmente cooperativos, dotados de compaixão e desejo de aprovação e de punir quem não coopera. É uma interessante contradição da natureza humana. Se não fôssemos egoístas, não seríamos altruístas.
24 de dezembro de 2016
Leandro Narloch
Folha
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