Os mais recentes fatos políticos reforçam uma dúvida inquietante – até que ponto o presidente Michel Temer está refém dos caciques do PMDB? O caso do misterioso projeto destinado a anistiar os crimes eleitorais de caixa 2 reforça essa hipótese, porque o chefe do governo disse em Nova York ter se surpreendido com o assunto. Ao ser indagado sobre a postura de Geddel Vieira Lima, secretário de Governo e Articulação Política, que defendeu ardentemente a anistia, Temer considerou “personalíssima”a opinião do ministro. Afirmou que não via como “prosseguir ou prosperar” essa questão, assinalou que se trata de assunto do Congresso e completou dizendo que não daria “nenhuma orientação” à base de seu governo sobre a matéria.
REVELAÇÃO ESPANTOSA – Ao mesmo tempo, em Brasília, Geddel dava entrevista à repórter Marina Dias, da Folha, para fazer uma revelação espantosa. Simplesmente, disse que conversou por telefone com o presidente Temer, que não teria lhe recriminado a respeito do projeto de lei que abriria brecha para anistiar políticos alvo da Lava Jato.
“Falei com Temer, mas ele não me pediu explicações. Ele sabe que é minha opinião pessoal”, afirmou Geddel à Folha, dizendo que ligou para o presidente antes que ele desse a entrevista em Nova York sobre o assunto.
EXPECTATIVA – Diante de uma contradição desse tipo, com o presidente dizendo uma coisa e o ministro, outra, criou-se uma grande expectativa. Quem estaria mentindo: Temer ou Geddel? Ninguém sabe, porque o Planalto criou uma terceira hipótese, ao decretar silêncio total sobre o assunto. É como se não tivesse acontecido nada, numa tentativa de esconder que Câmara e Senado efetivamente armaram com o Planalto a aprovação de uma emenda que não existia e foi estrategicamente criada para favorecer a todos os políticos com caixa 2 nas campanhas, entre os quais se inclui o próprio Temer, ameaçado de cassação justamente por esse motivo.
Para ocultar a crise do governo, a atrapalhada prisão de Guido Mantega veio a ser providencial, porque ganhou as manchetes e dominou o noticiário. E assim a questão da anistia ficou tudo por isso mesmo, como se dizia antigamente. A única manifestação política do Planalto, nesta quinta-feira, foi uma nota oficial sobre a adiada escolha do porta-voz.
UM DELES MENTIU – O fato é que um dos dois mentiu – Geddel ou Temer. E isso torna ainda mais intrigante a autoria da fraude na proposta de anistia, que entrou sub-repticiamente na pauta da Câmara nesta segunda-feira. A manobra só ia funcionar porque o suposto autor, Régis de Oliveira, nem está mais na política. E no seu projeto, apresentado em 2007, não constava a concessão de anistia.
Para ser aceita e tramitar no Congresso, qualquer proposta, moção, projeto, solicitação, emenda etc. precisa ter indicação de autoria, seja individual, conjunta (dois ou mais parlamentares) ou coletiva (bancadas ou partidos). Neste caso específico, até agora não foi revelada a autoria da emenda ou do substitutivo à proposição do então deputado Régis Oliveira, que é desembargador aposentado do Tribunal de São Paulo e está querendo saber quem foi o autor da “sacanagem”, assim classificada por ele.
TODOS MENTEM – Sem medo de errar, pode-se dizer que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), está diretamente envolvido. Ele também mentiu, ao atribuir a decisão exclusivamente às lideranças partidárias. Mas o primeiro-secretário da Mesa, Beto Mansur (PRB-SP), que presidiu a insólita sessão, logo entregou Rodrigo Maia, ao revelar que a pauta das sessões é sempre determinada pela presidência da Câmara.
Todos mentem, mas já se sabe que o líder do governo, deputado André Moura (PSD-SE) e Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, estão envolvidos, juntamente com lideranças do PSDB, PMDB, DEM, PP, PT e PCdoB, entre outros partidos.
A VERDADE LIBERTA – A anistia, que beneficiaria envolvidos na Lava Jato, só foi retirada de pauta após pressão de uma minoria de deputados que estavam na Câmara na noite desta segunda-feira, dia 19, liderados por Miro Teixeira (Rede-RJ), Ivan Valente (PSOL-SP) e Esperidião Amin (DEM-SC).
A verdade será logo conhecida. E as alternativas são as seguintes: 1) Como Lula e Dilma, Temer também não sabia de nada. 2) O presidente é refém dos caciques do PMDB, que no caso da anistia estão aliados aos chefões de todos os partidos investigados por fazerem caixa 2 nas campanhas. 3) Temer está participando da trama para abafar a Lava Jato, como principal beneficiário da anistia aos crimes eleitorais.
Como dizia Abraham Lincoln, ninguém consegue enganar a todos, o tempo todo. Lula gosta de citar o grande presidente dos EUA, disse até que leu a biografia dele, mas era conversa fiada. Foi apanhado na mentira porque citou um episódio na sala do “telex” (era telégrafo) que não existia no livro, a cena foi criada pelo roteirista do filme de Spielberg. Lula jamais leu um livro, e antigamente até se orgulhava disso.
23 de setembro de 2016
Carlos Newton
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