Charge do Paixão, reproduzida da Gazeta do Povo |
O título sintetiza uma realidade com base na reportagem de Carolina Linhares, Folha de São Paulo, edição de segunda-feira, na qual destaca o empenho do presidente Michel Temer de não ser atingido pelo obstáculo da inelegibilidade, mesmo por questões incluídas no rol das simplicidades. Simplicidade como a que atingiria, não fosse uma decisão judicial, Juliano Gasparini, candidato a prefeito da cidade paulista de Loureiro, acusado de no pleito municipal de 2012 ter feito doações a três candidatos, acima do limite legal.
O CASO DE TEMER – O mesmo caso do então vice-presidente da República, que, na sucessão de 2014, avançou o sinal e teve que pagar multa de 80 mil reais. A preocupação de Michel Temer não é com a multa, mas com a hipótese de ser enquadrado na lei da Ficha Limpa. Tal preocupação, claro, não procede.
Mas o episódio ilumina a perspectiva de voltar a ser candidato que envolve o chefe do Executivo. Afinal de conta, no elenco do PMDB qual seria o nome capaz de dividir com ele a preferência da legenda? Hoje nenhum. E no passado recente, em 2015, quando iniciou seu afastamento de Dilma Rousseff, Temer afirmou que o PMDB disputaria a sucessão com um candidato próprio na cabeça de chapa. Portanto, a preocupação de se tornar inelegível não deve surpreender ninguém.
PSDB REAGE – As restrições a tal postura só podem vir do PSDB que pelo menos os fatos revelam, deseja colocar um candidato de seus quadros acima da escolha do partido do governo. Mas qual dos três se apresentaria? Geraldo Alckmin? José Serra? Ou Aécio Neves? O PMDB não apresenta igual tríplice escolha. Eis a diferença.
Isso no quadro de hoje. Na estrada para 2018 o panorama pode mudar. Dois anos no espaço político são uma eternidade. Basta examinar acontecimentos que a história moderna do Brasil apresenta. E se dois anos são uma eternidade, esse pensamento vale tanto para o PMDB, quanto para o PSDB. Isso porque a aliança entre as duas legendas não parece estável.
É preciso levar em conta que projetos como a reforma da Previdência Social e da CLT são temas de natural rejeição popular. São projetos inclusive que miram efeitos de longo prazo. E o povo não quer saber de prazos longos. Já bastam as promessas impossíveis que são exibidaS por candidatos nos horários de propaganda eleitoral.
DIVIDIR O BOLO – Longo prazo lembra inevitavelmente a expressão usada pelo ministro Delfim Neto durante os governos militares. PrimeIro tem que fazer o bolo crescer para depois dividI-lo. Mas o problema não está na divisão em si, mas na divisão em parte menos desiguais. A palavra divisão conduz a uma utópica visão de igualdade. Mas não é isso que exprime. Pois alguém pode dividir um total por 10 e atribuir a si 9,5 frações. Está dividindo, não se pode matematicamente negar. Porém dividindo à base da lei do mais forte. É fundamental – como definia meu amigo Antônio Houaiss – diferenciar o significado do significante, da mesma separar o substantivo do adjetivo.
Michel Temer, com a preocupação que expôs, deixou no ar com nitidez que se considera um candidato natural à própria sucessão. E é verdade. No momento, seu grande adversário é o PSDB. Política é assim. Ele próprio foi aliado da ex-presidente Dilma Rousseff em duas eleições presidenciais. E depois…
29 de setembro de 2016
Pedro do Coutto
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