Quando os juros "do Banco Central" vão cair? A pergunta é chata. A princípio, a baixa parecerá imperceptível fora do universo paralelo das conversas econômicas. Mas juros em queda vão colocar um toco de carvão na lareira desta economia congelada.
O Banco Central não quis dar a entender nesta terça-feira que é certa a redução da taxa Selic em sua próxima reunião, em 19 de outubro. Mas os donos do dinheiro entenderam que a Selic vai baixar de 14,25% ao ano para pelo menos 14%. Caiu o custo de empréstimos entre eles.
Parece pouco, mas seria o princípio do fim da asfixia. As empresas estão sobrecarregadas de dívidas. Dados também os custos dos compromissos financeiros, mal conseguem sobreviver ou pagar impostos (piorando o deficit do governo), que dirá investir.
Não investem de resto porque, óbvio, a ociosidade na produção é enorme e as expectativas de lucro são incertas. Além do mais, não há cenouras, incentivos adiante. O investimento público está em níveis ridículos e não crescerá. Obras de concessões de infra-estrutura começam no fim de 2017, com sorte.
Os juros reais na praça baixam desde a semana passada. É coisa pouca e recente, mas baixam, em parte devido à expectativa de que está passando o choque de inflação do início do ano.
No primeiro terço deste 2016, ocorreu o pior choque de preços de alimentos desde 2003, quando a inflação estava toda destrambelhada por causa da desvalorização do real, no pânico da eleição de Lula.
Desde 2013, o tempo ruim tem causado choques feios em preços de alimentos, pancada que tem se espalhado pelo resto da economia, em parte devido à opinião de que a rédea do BC estava antes frouxa. Agora, a história está um tico diferente.
Desde que Goldfajn foi confirmado na presidência do BC (7 de junho), as expectativas de inflação caem de modo quase contínuo. Bom.
No entanto, como os juros futuros no mercado caíram bem menos, subiram as taxas reais de curto prazo (juros descontada a inflação esperada, em um ano). Na prática, houve um apertozinho monetário extra, ainda que os juros longos tenham se comportado melhor.
No Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta terça, o BC repetiu que seu objetivo ainda é chegar à meta de inflação de 4,5% em 2017 (o IPCA anda em 9% ao ano).
Dada esta meta, o BC reiterou que os juros vão cair apenas se: 1) O choque de preços do início do ano de fato arrefecer; 2) Os preços mais sujeitos a baixar com pauladas de juros (serviços) caírem mais; 3) O Congresso aprovar pelo menos o "teto" de gastos do plano Temer.
Sem novidades, pois. Mas os donos do dinheiro, os credores do governo, o dito "mercado", enfim, acham que vai acabar o ciclo de juros altíssimos. A não ser que o "teto" caia no Congresso, quando então toda está conversa irá à breca.
Com juros e dólar ora onde estão, o BC prevê que a inflação caia a 4,4% no ano que vem e a 3,8% em 2018 (baixa "demais", dada a meta). Logo, dado o efeito retardado das mudanças em taxas de juros, chegou-se perto do momento de baixá-los, pelo menos segundo os próprios princípios dos BCs.
Quando? Caso o BC se guie pela política, pela votação do "teto", talvez fique para novembro.
29 de setembro de 2016
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
O Banco Central não quis dar a entender nesta terça-feira que é certa a redução da taxa Selic em sua próxima reunião, em 19 de outubro. Mas os donos do dinheiro entenderam que a Selic vai baixar de 14,25% ao ano para pelo menos 14%. Caiu o custo de empréstimos entre eles.
Parece pouco, mas seria o princípio do fim da asfixia. As empresas estão sobrecarregadas de dívidas. Dados também os custos dos compromissos financeiros, mal conseguem sobreviver ou pagar impostos (piorando o deficit do governo), que dirá investir.
Não investem de resto porque, óbvio, a ociosidade na produção é enorme e as expectativas de lucro são incertas. Além do mais, não há cenouras, incentivos adiante. O investimento público está em níveis ridículos e não crescerá. Obras de concessões de infra-estrutura começam no fim de 2017, com sorte.
Os juros reais na praça baixam desde a semana passada. É coisa pouca e recente, mas baixam, em parte devido à expectativa de que está passando o choque de inflação do início do ano.
No primeiro terço deste 2016, ocorreu o pior choque de preços de alimentos desde 2003, quando a inflação estava toda destrambelhada por causa da desvalorização do real, no pânico da eleição de Lula.
Desde 2013, o tempo ruim tem causado choques feios em preços de alimentos, pancada que tem se espalhado pelo resto da economia, em parte devido à opinião de que a rédea do BC estava antes frouxa. Agora, a história está um tico diferente.
Desde que Goldfajn foi confirmado na presidência do BC (7 de junho), as expectativas de inflação caem de modo quase contínuo. Bom.
No entanto, como os juros futuros no mercado caíram bem menos, subiram as taxas reais de curto prazo (juros descontada a inflação esperada, em um ano). Na prática, houve um apertozinho monetário extra, ainda que os juros longos tenham se comportado melhor.
No Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta terça, o BC repetiu que seu objetivo ainda é chegar à meta de inflação de 4,5% em 2017 (o IPCA anda em 9% ao ano).
Dada esta meta, o BC reiterou que os juros vão cair apenas se: 1) O choque de preços do início do ano de fato arrefecer; 2) Os preços mais sujeitos a baixar com pauladas de juros (serviços) caírem mais; 3) O Congresso aprovar pelo menos o "teto" de gastos do plano Temer.
Sem novidades, pois. Mas os donos do dinheiro, os credores do governo, o dito "mercado", enfim, acham que vai acabar o ciclo de juros altíssimos. A não ser que o "teto" caia no Congresso, quando então toda está conversa irá à breca.
Com juros e dólar ora onde estão, o BC prevê que a inflação caia a 4,4% no ano que vem e a 3,8% em 2018 (baixa "demais", dada a meta). Logo, dado o efeito retardado das mudanças em taxas de juros, chegou-se perto do momento de baixá-los, pelo menos segundo os próprios princípios dos BCs.
Quando? Caso o BC se guie pela política, pela votação do "teto", talvez fique para novembro.
29 de setembro de 2016
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
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