Charge do Oliveira, reprodução do Humor Político |
Estava difícil entender por que está demorando tanto a ser aprovado o pedido de delação premiada do megaempresário Marcelo Bahia Odebrecht, que presidia uma das maiores corporações do país e está preso em Curitiba desde 19 de junho de 2015. Aparentemente, tudo parecia correr bem nas negociações entre a força-tarefa da Lava Jato e os dirigentes e executivos do grupo empresarial, já tendo havido grande número de depoimentos. Porém, na realidade a Odebrecht continua escondendo o jogo, sem revelar inteiramente como se processava seu relacionamento com o governo e os políticos no esquema de corrupção.
O fato concreto é que, desde o início, Marcelo Odebrecht acreditava que logo seria solto por seus advogados, aproveitando as famosas brechas da lei ou até mediante manobras verdadeiramente criminosas, como o suborno a policiais federais, conforme foi tentado infrutiferamente, inclusive com a colocação de uma falsa escuta na cela do doleiro Alberto Youssef, em Curitiba, para causar a anulação das provas.
ARROGÂNCIA – A arrogância do empresário era tamanha que ele chegava a jactar-se publicamente de sua “postura ética”. Dois meses e meio depois de ter sido preso, foi depor na CPI da Petrobras e fez questão de criticar os diretores da Petrobras que haviam pedido o benefício da delação premiada.
“Entre o meu legado, eu acho que tem valores, inclusive morais, dos quais eu nunca abrirei mão. Eu diria que entre esses valores, eu, desde criança, quando lá em casa as minhas meninas tinham discussão e tinham uma briga, eu dizia: ‘olha quem fez isso?’. Eu diria o seguinte: eu talvez brigasse mais com quem dedurou do que com aquele que fez o fato”, disse Odebrecht ao deputado Altineu Côrtes (PR-RJ), ao justificar por que não faria delação: “Primeiro, para alguém dedurar, ele precisa ter o que dedurar. Esse é o primeiro fato. Isso eu acho que não ocorre aqui. Segundo, tem a questão do valor moral”.
ARMAÇÃO NO STJ – E Marcelo Odebrecht continuou pensando que iria escapar da Justiça. O próximo passo errado foi armar com a presidente Dilma Rousseff e o presidente do Superior Tribunal de Justiça, Francisco Falcão, a nomeação de Navarro Dantas para o STJ, com a incumbência de libertar os empresários na Lava Jato. O golpe deu errado, o relatório do estreante Navarro Dantas foi recusado por unanimidade dos outros ministros, virou escândalo nacional e está sendo investigado no Supremo.
O patriarca Emilio Odebrecht se desesperou e a família inteira passou a pressionar Marcelo para que fizesse delação. Até que ele aparentemente aceitou. Publicamos a notícia aqui na “Tribuna da Internet”, com absoluta exclusividade, e no dia seguinte a empresa emitiu nota oficial confirmando nossa informação. Logo em seguida, passou a haver uma enxurrada de depoimentos, tudo indicava que a delação seria aceita.
SONEGANDO INFORMAÇÕES – Com as prisões de Guido Mantega e Antonio Palocci, a verdade enfim veio à tona. Marcelo e os dirigentes e executivos da Odebrecht continuavam sonegando informações, não revelaram os políticos envolvidos no chamado Setor de Propinas da corporação, supervisionado diretamente por Marcelo Odebrecht, e a força-tarefa teve de descobrir tudo sozinha.
Com essa manobra suicida, o megaempresário se arriscava a passar praticamente o resto da vida na cadeia. Já cumpriu um ano e quase quatro meses, ainda faltam e 28 anos e oito meses para fechar os 30 anos da pena máxima que inevitavelmente receberá.
“MAIS TRÊS CELAS” – O patriarca Emilio Odebrecht está desesperado, não sabe mais o que fazer para convencer o filho a contar tudo. Quando Marcelo foi preso, seu pai fez um desabafo brutal, ao afirmar: “Vão ter de construir mais três celas: para mim, para Lula e para Dilma!”, disse Emilio, que recentemente se ofereceu à força-tarefa para revelar tudo, mas não adianta, porque ele não está sendo acusado de nada, não tem como fazer delação.
O filho Marcelo é um cabeça dura bestial, mas pode ser que agora a ficha enfim caia e ele decida revelar como funcionava o Setor de Propinas da Odebrecht, que atendia pelo codinome de Departamento de Operações Estruturadas.
O ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, está na mesma situação. Quer fazer delação, mas revelando apenas o mínimo. Justamente por isso, perdeu no dia 5 deste mês o direito à prisão domiciliar e está novamente recolhido à cadeia em Curitiba, por determinação do juiz Sérgio Moro. Desse jeito, Pinheiro também se arrisca a apodrecer na cadeia. E la nave va…
29 de setembro de 2016
Carlos Newton
Nenhum comentário:
Postar um comentário