"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

NARCOESTADOS, PRESENTE OU FUTURO NA REALIDADE BRASILEIRA?

Milicianos presos no Morro do Fubá, bairro Campinho, no Rio


O crime organizado está nacionalizado no Brasil. A exportação para outros estados do modelo de facções e milícias, criado no Rio de Janeiro e em São Paulo, parece definitivamente não estar sendo percebida pelo Ministério da Justiça. A ausência de um projeto brasileiro integrado de combate a esses grupos facilita a expansão deles em escala industrial por capitais e cidades médias. As políticas baseadas na repressão policial feita em trincheiras, esquina por esquina, não levam em conta a extensão territorial do país e a capilaridade das diversas facções.

Não é mais somente o monopólio da venda de drogas ou do gás no varejo que deve ser levado em questão, mas também a ocupação das cidades por facções e milícias que se impõem como um poder paralelo instituído através de ações violentas, torturas e assassinatos, que disseminam o medo em qualquer um que levante a voz contra seus interesses.

POTENCIAL LUCRATIVO – Esses grupos criminosos agem no vácuo deixado pelo Estado, que perde territórios urbanos ao se anular negando políticas públicas, estrutura e direitos básicos às periferias. Cada região abandonada é uma nova área livre a ser ocupada pelo poder paralelo, que enxerga nesses vazios enorme potencial lucrativo através da exploração criminosa.

Cidades como Fortaleza, João Pessoa, Natal, Vitória e Maceió, para citar algumas, assistem impassíveis à expansão de facções que se afirmam pichando suas siglas em muros e postando relatos de dominação no YouTube. Esses grupos se atentaram para a importância da disputa do poder institucional, e hoje buscam espaço na política partidária financiando campanhas e indicando candidatos em algumas dezenas de municípios brasileiros.

Somente no estado do Ceará, advogados de partidos políticos com os quais conversei reservadamente estimam 14 cidades com candidatos a prefeitos, que podem ser eleitos no próximo domingo, indicados pelo tráfico de drogas.

BANCANDO CAMPANHAS – Os traficantes desconhecem dificuldades financeiras e bancam campanhas através de cidadãos laranjas que emprestam, muitas vezes coercitivamente, seus nomes e CPFs para pequenas doações que, somadas, chegam a milhões. Subterrâneas, essas facções não são vistas pelos Tribunais Regionais Eleitorais, que estão atentos apenas a possíveis fraudes no âmbito político-partidário, e que sequer têm capilaridade e força investigativa para deter a expansão deste assombroso fenômeno.

Estamos diante da formação de narcoestados brasileiros que, como um câncer, se instalam silenciosamente, inspirados no modelo mexicano em que o crime se faz representado no Poder Executivo e Legislativo, ditando leis não somente através da política do terror e do medo, mas defendendo também os interesses de seu “negócio”.

Nossas instituições não estão percebendo, ou não querem ver, a profissionalização do crime, seja através de milícias ou facções que se embrenham cada vez mais no Estado, tornando-se parte dele como um cupim que pode, aos poucos, corroer toda a sua estrutura. Será que acordaremos a tempo de combater esse fenômeno, ou já é tarde demais?


29 de setembro de 2016
Chico Regueira

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