Se o governo Michel Temer acabar em poucos meses, será um duro golpe (calma, calma) para mim. Em 6 de abril de 2016, escrevi duas páginas na "Ilustríssima" sobre as perspectivas do governo Temer, aproveitando o gancho de uma discussão sobre patrimonialismo que, semanas antes, mobilizara dois intelectuais importantes, Jessé de Souza e Marcus Melo. Deu trabalho escrever o artigo.
Por isso, se Temer cair rápido, vou me sentir meio idiota por ter gasto tanto conceito com pouco governo. Terá sido como escrever sobre algum desses governos de curta duração que aterrorizam os vestibulandos, como o de Brochado da Rocha. Algum sujeito entrou para a história das ideias brasileiras por sua análise do governo Brochado da Rocha? Pois é.
Digo isso tudo porque começa a haver ruídos na aliança que derrubou Dilma Rousseff. Na semana passada, o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, foi demitido e saiu dizendo que o governo quer parar a Lava Jato. A suspeita de que o PMDB fez o impeachment para parar a Lava Jato já existia desde que o presidente do PMDB, Romero Jucá, foi gravado dizendo que teria de mudar o governo para "estancar essa sangria". Digam o que quiserem, era uma pista.
Com o afastamento de Dilma Rousseff, parece que já podemos falar sobre o assunto, de modo que, enfim, dessa vez o pessoal reclamou. Os movimentos pelo impeachment protestaram contra a demissão de Medina Osório, e, fica aqui o reconhecimento, a "Veja" deu capa. O PSDB voltou a fazer sua cara de "também não sei como foi que vim parar aqui".
A pergunta importante é: o pessoal que apoiou o impeachment vai abandonar Temer? O PSDB, o DEM, os movimentos de rua, aquele cara que se vestia de Batman, o outro que talvez seja cassado nesta segunda (supondo que se trate de duas pessoas diferentes)?
O governo vai continuar sendo o que é. Acredito que há, sim, chances de a economia melhorar. Mas a política vai ser isso mesmo que vimos nesta semana. No dia da votação do Senado disseram que haviam vencido a justiça, a verdade, a ética, o Brasil. Não sei quem venceu, mas quem tomou posse foi o velho PMDB. Eles sempre fazem isso, impressionante.
Ninguém precisa me explicar os argumentos para não apoiar o novo governo, eu não o apoio. Mas esses argumentos não eram válidos antes da votação no Senado? O plano era derrubar o PT e correr de volta para o Facebook na hora de virar vidraça? Alguém aí do outro lado vai entrar no movimento por novas eleições? Eu acharia isso bom. Ou estão pensando em algo alucinado, como eleição indireta ou parlamentarismo?
E, finalmente, se a turma do impeachment abandonar Temer, isso não diminui as chances de os deputados aprovarem as medidas que deveriam garantir a recuperação econômica? Nesse caso, posso mandar fazer a camiseta "Meu amigo foi na passeata de impeachment e só me trouxe de presente um novo governo Sarney"?
O mais provável é que todo mundo ali continue apoiando o governo e escrevendo textos críticos apropriadamente inofensivos. Mas é uma pena que a renegociação de nossa Constituição (pois é disso que trataremos nos próximos meses) seja feita em meio a esse teatro ridículo. Essa era uma boa hora para um diálogo nacional franco, mas esse é um cenário ainda mais improvável do que um segundo governo Brochado da Rocha.
13 de setembro de 2016
Celso Rocha de Barros, Folha de SP
Por isso, se Temer cair rápido, vou me sentir meio idiota por ter gasto tanto conceito com pouco governo. Terá sido como escrever sobre algum desses governos de curta duração que aterrorizam os vestibulandos, como o de Brochado da Rocha. Algum sujeito entrou para a história das ideias brasileiras por sua análise do governo Brochado da Rocha? Pois é.
Digo isso tudo porque começa a haver ruídos na aliança que derrubou Dilma Rousseff. Na semana passada, o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, foi demitido e saiu dizendo que o governo quer parar a Lava Jato. A suspeita de que o PMDB fez o impeachment para parar a Lava Jato já existia desde que o presidente do PMDB, Romero Jucá, foi gravado dizendo que teria de mudar o governo para "estancar essa sangria". Digam o que quiserem, era uma pista.
Com o afastamento de Dilma Rousseff, parece que já podemos falar sobre o assunto, de modo que, enfim, dessa vez o pessoal reclamou. Os movimentos pelo impeachment protestaram contra a demissão de Medina Osório, e, fica aqui o reconhecimento, a "Veja" deu capa. O PSDB voltou a fazer sua cara de "também não sei como foi que vim parar aqui".
A pergunta importante é: o pessoal que apoiou o impeachment vai abandonar Temer? O PSDB, o DEM, os movimentos de rua, aquele cara que se vestia de Batman, o outro que talvez seja cassado nesta segunda (supondo que se trate de duas pessoas diferentes)?
O governo vai continuar sendo o que é. Acredito que há, sim, chances de a economia melhorar. Mas a política vai ser isso mesmo que vimos nesta semana. No dia da votação do Senado disseram que haviam vencido a justiça, a verdade, a ética, o Brasil. Não sei quem venceu, mas quem tomou posse foi o velho PMDB. Eles sempre fazem isso, impressionante.
Ninguém precisa me explicar os argumentos para não apoiar o novo governo, eu não o apoio. Mas esses argumentos não eram válidos antes da votação no Senado? O plano era derrubar o PT e correr de volta para o Facebook na hora de virar vidraça? Alguém aí do outro lado vai entrar no movimento por novas eleições? Eu acharia isso bom. Ou estão pensando em algo alucinado, como eleição indireta ou parlamentarismo?
E, finalmente, se a turma do impeachment abandonar Temer, isso não diminui as chances de os deputados aprovarem as medidas que deveriam garantir a recuperação econômica? Nesse caso, posso mandar fazer a camiseta "Meu amigo foi na passeata de impeachment e só me trouxe de presente um novo governo Sarney"?
O mais provável é que todo mundo ali continue apoiando o governo e escrevendo textos críticos apropriadamente inofensivos. Mas é uma pena que a renegociação de nossa Constituição (pois é disso que trataremos nos próximos meses) seja feita em meio a esse teatro ridículo. Essa era uma boa hora para um diálogo nacional franco, mas esse é um cenário ainda mais improvável do que um segundo governo Brochado da Rocha.
13 de setembro de 2016
Celso Rocha de Barros, Folha de SP
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