"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

OS ASNOS DO PALÁCIO DO PLANALTO E A LIÇÃO DE VOLTAIRE



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Charge do Paixão, reproduzida da Gazeta do Povo
















De 1715 a 1723, depois da morte de Luís XIV, a França foi governada por um Regente, tio de Luís XV, ainda uma criança. Jovem afoito e estouvado,  chegou a Paris François Marie Arouet,  para tornar-se um dos principais críticos dos costumes da realeza  e do clero. Apelidava-se de Voltaire. O Regente vira-se obrigado a intenso programa de contenção de gastos e despesas, determinando, entre outras medidas, que  se vendesse a metade das cavalariças reais. Voltaire escreveu logo depois que melhor faria o Regente se em vez das centenas de cavalos de raça, vendesse o monte de asnos que evoluíam em torno do trono.
Num domingo, passeando pelo Bois de Boulogne, o Regente deparou-se com Voltaire. Cumprimentando-o, disse que daria a Monsieur Arouet  a oportunidade de apreciar uma das mais bizarras vistas de Paris, que ele certamente não conhecia.
Logo vieram os soldados e levaram Voltaire para a prisão da Bastilha, onde ficou por quase um ano. Tinha liberdade para escrever, e lá completou a peça “Édipo”, de amplo sucesso na capital francesa por conta das alusões a tiranos, fidalgos e sacerdotes.
PENSÃO VITALÍCIA – Amigo influentes conseguiram que o Regente revogasse a prisão e  fizesse mais, assinando decreto que concedia ao jovem autor uma pensão vitalícia “para que enfrentasse as despesas com habitação e alimentação”.
De volta, Voltaire escreveu que aceitava a oferta, mas apenas pela metade. Agradecia que o tesouro real cuidasse de sua alimentação, mas quanto à sua habitação, deixasse que ele mesmo cuidaria…
Nova ordem de prisão foi expedida, mas o Regente tratou de negociar: soltaria Voltaire se ele embarcasse imediatamente para a Inglaterra, o que aconteceu. Ficou proibido de frequentar Paris, o que só fez aos noventa anos de idade.
Esse episódio é pinçado da larga biografia do irreverente gênio da literatura francesa, a propósito das dificuldades que o nosso Regente, versão 2016, vem enfrentando. Seria melhor que oferecesse para seus desafetos uma visão de Brasília, tomada da Papuda. Depois, uma sinecura qualquer para que ninguém recomendasse dever  livrar-se dos asnos que evoluem no Palácio do Planalto…

13 de setembro de 2016
Carlos Chagas

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