Quando o ortodontista de seu filho ofereceu ao jornalista Jeff Donn, da agência Associated Press, uma dica para uma matéria, ele teve dúvidas.
A informação era simples: não há nenhuma evidência sólida de que o uso do fio dental realmente funciona.
“Quando comecei a ler as pesquisas, percebi que era uma boa dica – e definitivamente a melhor que já recebi de um ortodontista”, disse Donn, que já foi finalista do prêmio Pulitzer em 2012, em entrevista ao instituto de jornalismo Poynter.
A matéria que escreveu sobre o assunto teve um grande impacto na imprensa e acabou ajudando a mudar as orientações oficiais do governo dos Estados Unidos, que antes recomendavam o uso do fio dental.
“Por lei, as orientações do governo devem ter base na ciência, então pedi aos funcionários das agências responsáveis a documentação por trás dessa recomendação”, disse.
Depois de semanas sem uma resposta, ele fez um pedido formal de acesso à informação. Seis meses depois, o governo publicou uma nova edição atualizada das orientações, na qual a recomendação de uso do fio dental havia sido discretamente abandonada.
GOVERNO CONFIRMA – Donn recebeu no dia seguinte uma carta do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, dizendo que não havia registros científicos relevantes sobre o assunto. “No fim, esta pareceu ser uma rara ocasião em que um simples pedido de acesso à informação mudou a política do governo.”
Baseado nessa experiência, Donn recomenda que o jornalistas “questionem tudo, incluindo se sua mãe realmente ama você”.
Ele também confirmou que, apesar da descoberta, continua usando o fio dental para remover pedaços de comida presos no dente. “Mas acho que a melhor ciência indica que não estou fazendo nada de benéfico para minha saúde.”
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Vejam a que ponto chega o poder do marketing comercial. E as fábricas de fio dental, é claro, insistem em apregoar os supostos benefícios que jamais foram comprovados pela ciência. (C.N.)
21 de agosto de 2016
Deu na Folha
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