Dias depois, mandou uma equipe de engenheiros da OAS até a residência de Toffoli para fazer uma vistoria. Os técnicos constataram as avarias, relataram a Léo Pinheiro que havia falhas na impermeabilização da cobertura e sugeriram a solução. É um serviço complicado e, em geral, de custo salgado.
O empreiteiro indicou uma empresa especializada para executar o trabalho. Terminada a obra, os engenheiros da OAS fizeram uma nova vistoria para se certificarem de que tudo estava de acordo. Estava. O ministro não teria mais problemas com as infiltrações — mas só com as infiltrações.
DELAÇÃO PREMIADA – A história descrita está relatada em um dos capítulos da proposta de delação do empreiteiro Léo Pinheiro, apresentada recentemente à Procuradoria-Geral da República e à qual Veja teve acesso. Condenado a dezesseis anos e quatro meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no escândalo do petrolão, Léo Pinheiro decidiu confessar seus crimes para não passar o resto dos seus dias na cadeia.
Para ganhar uma redução de pena, o executivo está disposto a sacrificar a fidelidade de longa data a alguns figurões da República com os quais conviveu de perto na última década. As histórias que se dispõe a contar, segundo os investigadores, só são comparáveis às do empreiteiro Marcelo Odebrecht em poder destrutivo.
No anexo a que Veja teve acesso, pela primeira vez uma delação no âmbito da Lava-Jato chega a um ministro do Supremo Tribunal Federal.
SEM DETALHES – No documento, Veja constatou que Léo Pinheiro, como é próprio nas propostas de delação, não fornece detalhes sobre o encontro entre ele e Dias Toffoli. Onde? Quando? Como? Por quê? Essas são perguntas a que o candidato a delator responde apenas numa segunda etapa, caso a colaboração seja aceita. Nessa primeira fase, ele apresenta apenas um cardápio de eventos que podem ajudar os investigadores a solucionar crimes, rastrear dinheiro, localizar contas secretas ou identificar personagens novos. É nesse contexto que se insere o capítulo que trata da obra na casa do ministro do STF.
Tal como está, a narrativa de Léo Pinheiro deixa uma dúvida central: existe algum problema em um ministro do STF pedir um favor despretensioso a um empreiteiro da OAS? Há um impedimento moral, pois esse tipo de pedido abre brecha para situações altamente indesejadas, mas qual é o crime?
ALGO NO AR – Léo Pinheiro conta que a empresa de impermeabilização que indicou para o serviço é de Brasília e diz mais: que a correção da tal impermeabilização foi integralmente custeada pelo ministro Toffoli. Então, onde está o crime?
A questão é que ninguém se propõe a fazer uma delação para contar frivolidades. Portanto, se Léo Pinheiro, depois de meses e meses de negociação, propôs um anexo em que menciona uma obra na casa do ministro Toffoli, isso é um sinal de que algo subterrâneo está para vir à luz no momento em que a delação for homologada e os detalhes começarem a aparecer.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – As relações entre o ministro e o empreiteiro existem desde 2012, pelo menos, quando Pinheiro é lembrado por um assessor a respeito de um presente de aniversário para Toffoli. Em agosto de 2013, Léo Pinheiro menciona uma reunião com Toffoli em Brasília sobre o “assunto dos aviões”. Na mesma data, Pinheiro indaga a um executivo da OAS sobre uma mensagem a respeito de Toffoli: “Vou precisar do material para AGU”. Antes de se tornar ministro do Supremo, Toffoli foi advogado do PT e chefiou a AGU, a Advocacia-Geral da União, onde deixou valiosos contatos. Em 13 de novembro de 2014, sem saber que seria preso pela PF horas depois, Pinheiro trocou mensagens com um amigo, o ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Estou indo para a África na segunda. Você vai ao aniversário do ministro Toffoli no domingo?” Benedito respondeu que ainda não sabia se compareceria à festa. O ministro do STJ então marcou encontros com Pinheiro no Rio de Janeiro e São Paulo, mas a prisão impediu o presidente da OAS de comparecer. Segundo a revista Veja, existia uma relação escabrosamente promíscua do empreiteiro com Benedito Gonçalves. Quanto à proximidade de Toffoli com o então presidente da OAS, agora levanta-se também suspeita sobre o voto do ministro do Supremo, em abril do ano passado, que foi decisivo no julgamento do habeas corpus do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, benefício estendido a Léo Pinheiro. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – As relações entre o ministro e o empreiteiro existem desde 2012, pelo menos, quando Pinheiro é lembrado por um assessor a respeito de um presente de aniversário para Toffoli. Em agosto de 2013, Léo Pinheiro menciona uma reunião com Toffoli em Brasília sobre o “assunto dos aviões”. Na mesma data, Pinheiro indaga a um executivo da OAS sobre uma mensagem a respeito de Toffoli: “Vou precisar do material para AGU”. Antes de se tornar ministro do Supremo, Toffoli foi advogado do PT e chefiou a AGU, a Advocacia-Geral da União, onde deixou valiosos contatos. Em 13 de novembro de 2014, sem saber que seria preso pela PF horas depois, Pinheiro trocou mensagens com um amigo, o ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Estou indo para a África na segunda. Você vai ao aniversário do ministro Toffoli no domingo?” Benedito respondeu que ainda não sabia se compareceria à festa. O ministro do STJ então marcou encontros com Pinheiro no Rio de Janeiro e São Paulo, mas a prisão impediu o presidente da OAS de comparecer. Segundo a revista Veja, existia uma relação escabrosamente promíscua do empreiteiro com Benedito Gonçalves. Quanto à proximidade de Toffoli com o então presidente da OAS, agora levanta-se também suspeita sobre o voto do ministro do Supremo, em abril do ano passado, que foi decisivo no julgamento do habeas corpus do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, benefício estendido a Léo Pinheiro. (C.N.)
21 de agosto de 2016
Robson Bonin, Thiago Bronzatto e Rodrigo Rangel
Veja
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