"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

COMO PREVIMOS, AS CRÍTICAS A PAULO FREIRE FORAM MARCADAS PELO PRECONCEITO



É impressionante como o preconceito político pode ser irracional. A dicotomia entre direita e esquerda (ou entre capitalismo e comunismo) é tão antiga e arcaica que precisa ser urgentemente sepultada. Está morta e não sabe. Exala um odor putrefato, pestilento e nauseabundo. Mesmo assim, há pessoas extremamente intelectualizadas que ainda caem nesse tipo de armadilha, perdem tempo discutindo ideologia, quando precisamos simplesmente encontrar soluções.
PRECONCEITO INFANTIL – Quando citamos Paulo Freire aqui na Tribuna da Internet, mencionamos que o grande educador brasileiro, respeitado no mundo inteiro, infelizmente continua sujeito a uma espécie de “preconceito infantil” em seu próprio país.
Exatamente como previmos, surgiram as mais disparatadas críticas a Paulo Freire, centradas apenas no fato de ter sido comunista, só faltaram atribuir a ele as atrocidades de Stalin. Ninguém abordou a excelência de seu método de ensino, que conseguiu alfabetizar adultos com apenas 30 horas de aula e hoje é oficialmente adotado em um expressivo número de países, entre os quais o México, que nada tem de comunista.
ILUSTRES DESCONHECIDOS – Para demolir a reputação de Freire, foram citados aqui na TI alguns inexpressivos e desconhecidos “pensadores” do Hemisfério Sul, todos sem a menor credibilidade e movidos por um radicalismo político que beira o ridículo, numa era em que as ideologias já estão totalmente superadas e o mundo civilizado procura uma maneira de se livrar dos males atuais de um capitalismo predominantemente financeiro, que está aprofundando o abismo da distribuição de renda, embora qualquer idiota possa perceber que jamais poderá haver convivência pacífica entre a riqueza total e a miséria absoluta.
Já se sabe que a melhor saída é a esboçada pelos países escandinavos, que vêm desenvolvendo um regime inovador, que podemos classificar como neocapitalismo ou neossocialismo, pois é uma mistura dos dois sistemas, confirmando os preciosos ensinamentos de Arquimedes de que o equilíbrio sempre estará está no meio.
Nesses comentários sobre Paulo Freire, as melhores e mais precisas observações foram feitas por Virgilio Tamberlini, que recentemente passou a ser um dos mais odiados participantes de nosso blog, justamente por andar assumindo atitudes radicais e anárquicas.
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AH, ESSES COMUNISTAS…   
Virgilio Tamberlini
Considerado um dos grandes pedagogos da atualidade e respeitado mundialmente, Paulo Freire nasceu em Recife em 1921 e faleceu em 1997. Embora suas idéias e práticas tenham sido objeto das mais diversas críticas, é inegável sua grande contribuição em favor da educação popular. Suas primeiras experiências educacionais foram realizadas em 1962 em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde cerca de 300 trabalhadores rurais foram alfabetizados em apenas 45 dias.
Suas atividades foram interrompidas com o golpe militar de 1964, que mandou prendê-lo. Exilou-se por 14 anos no Chile, onde implantou um trabalho revolucionário. Sua atuação levou o país a receber uma distinção da Unesco, por ser uma das nações que na época mais contribuíram para a superação do analfabetismo. Em 1970, junto a outros brasileiros exilados,  criou na Suíça criou o IDAC (Instituto de Ação Cultural), que até hoje assessora diversos movimentos populares, em vários locais do mundo.
Retornando do exílio, Paulo Freire continuou com suas atividades de escritor e debatedor, assumiu funções em universidades e ocupou o cargo de Secretario Municipal de Educação da Prefeitura de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina. Algumas de suas principais obras são “Educação como Prática de Liberdade”, “Pedagogia do Oprimido”, “Cartas à Guiné Bissau”, “Vivendo e Aprendendo” e “A importância do ato de ler”.
UM INTELECTUAL FESTEJADO – Quando o conheceu Paulo Freire, o liberal professor paulistano João Villa Lobos ficou admirado e previu que esse ‘rapaz’ iria ser conhecido no mundo inteiro. Detalhe: o Prof. Villa Lobos sempre escreveu para o conservador Estadão é foi um dos líderes do Movimento pela Escola Pública, onde sua filha estudou. E quem levou Paulo Freire para a Unicamp foi o falecido e inesquecível professor Rubem Alves, que também nunca foi comunista…
“Pedagogia do Oprimido”, obra mais conhecida de Paulo Freire, foi editada primeiro em inglês e espanhol em 1970, só aparecendo no Brasil quatro anos depois, embora o manuscrito fosse de 1968. Esse livro foi traduzido em mais de 20 idiomas e prefaciado por Ernani Maria Fiori.
As obras de Freire têm sido publicadas em diversas línguas e influenciado educadores e militantes políticos. Vejam quantos “comunistas” consagraram o professor Paulo Freire: Prêmio Rei Balduíno para o Desenvolvimento – Bélgica, 1980; Prêmio UNESCO da Educação para a Paz, 1986; e Prêmio Andres Bello como Educador do Continente – Organização do Estados Americanos, 1992, entre outras honrarias.
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PS
 – É preciso parar com esse radicalismo pueril que divide o mundo entre direita e esquerda. Hoje, temos de analisar apenas o que é certo e o que é errado. Simples assim. As ideologias já morreram. Por uma questão de piedade cristã, devemos sepultá-las, até porque já estão fedendo demais. Quanto a Paulo Freire, deveríamos nos orgulhar do trabalho dele. No entanto, como dizia Tom Jobim, os brasileiros costumam ter ódio de quem faz sucesso. (C.N.)


10 de agosto de 2016
Carlos Newton

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