A presidente afastada Dilma Rousseff, em reportagem de Eduardo Barreto, O Globo de quarta-feira, ao afirmar que o PT precisa reconhecer todos os erros que cometeu, praticamente despediu-se do governo e, ao mesmo tempo, explodiu a legenda do partido para as eleições deste ano e provavelmente também para sucessão presidencial de 2018. “Eu acredito”, disse ela, “que o PT tem que passar por uma grande transformação do ponto de vista da prática da ética e da condução de todos os processos de uso de verbas públicas, incluindo suas fontes”.
Com isso, acenou o lenço branco do adeus aos senadores e senadoras que ainda a defendem no julgamento do impeachment, pois suas palavras na realidade chocam-se com as posições assumidas pelos seus quase ex-correligionários. Digo ex-correligionários, porque até eles perdem a condição psicológica de se manterem ao lado de Dilma, depois do conteúdo acusatório contido nas afirmações da presidente reeleita nas urnas de 2014.
Porém, pelo transcurso dos acontecimentos, os personagens atingidos indiretamente pelas críticas de Dilma Rousseff acharam melhor passar por cima do episódio e permanecerem na sua defesa.
UM NOVO QUADRO – A partir de agora, o quadro certamente começará a mudar, esgotado o prazo de defesa prévia na Comissão do Impeachment. Os pronunciamentos de cada senador somente ocorrerão no julgamento definitivo. Entretanto, todos sabem que o processo, se já se encontrava decidido, passou à condição de mais decidido ainda.
Se a própria presidente da República sustenta que o PT, seu partido, precisa reconhecer todos os erros que cometeu, evidentemente ela está transferindo esses erros de sua pessoa para a legenda partidária, como se não tivesse responsabilidade alguma no consentimento a tais erros.
Além do mais, esses erros somente se verificaram pelo menos pela omissão que caracterizou o posicionamento do Planalto quanto à onda de corrupção que inundou a Petrobrás e também o governo do país.
MISSÃO IMPOSSÍVEL – Transferir responsabilidade em política é impossível. Isso porque o exercício firme do poder é sempre algo solitário, acionado pela caneta mágica que firma e fixa as decisões. E tais decisões não se restringem aos atos escritos, mas também a matérias que deveriam ter sido escritas e não foram.
Portanto, se o PT necessita praticar uma autocrítica, o governo igualmente também necessita exercê-la. Isso porque se o partido errou nas suas posturas, o governo endossou seus erros por ação ou omissão. Se roubaram enormemente na Petrobras, foi porque o governo permitiu que o assalto acontecesse. Agora é tarde demais para lamentar os erros que vão ficar para sempre registrados na política brasileira.
UM PARTIDO CORROMPIDO – O PT nasceu com a ideia da reforma social, mas se transformou numa legenda profundamente conservadora. Aliás, além de conservadora, manchada pelo rastro de corrupção que deixou no caminho.
Por isso, enfrentará as consequências nas urnas deste ano e nas de 2018. O PT explodiu junto com Lula da Silva, Dilma Rousseff, José Dirceu e João Vaccari, para citar apenas estes personagens. Não é preciso alongar a lista de fracassos.
04 de agosto de 2016
Pedro do Coutto
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