Abaixo um pequeno trecho do capítulo “Relatório sobre a Organização Higiênico-Sanitárias do Campo de Concentração para Judeus de Monowitz (Auschwitz –Alta Silénia)”, do livro “Assim foi Auschwitz”, escrito por Primo Levi e Leonardo de Benedetti.
Em outubro de 1944, a seleção de doentes, até então limitada aos pavilhões do hospital, estendeu-se a todos os “blocos”, mas foi a última vez, porque depois disso a seleção foi suspensa e as câmaras de gás de Birkenau foram desativadas. Contudo, naquele trágico dia, foram escolhidas 850 vítimas, entre elas oito judeus de cidadania italiana.
O funcionamento das câmaras de gás e do crematório anexo ficava a cargo de um Comando Especial, que trabalhava dia e noite em dois turnos. Os integrantes desse Comando viviam à parte, ciosamente isolados dos outros prisioneiros e do mundo exterior. Suas roupas exalavam um cheiro nauseabundo, estavam sempre sujos e tinham um aspecto absolutamente selvagem, de animais ferozes. Eram escolhidos entre os piores criminosos condenados por graves crimes de sangue.
Temos conhecimento de que, em fevereiro de 1945, inauguraram em Birkenau novas instalações de um crematório e de uma câmara de gás, mais racionais, dos que estavam em operação até aquele mês. Eram compostas de três partes: a câmara de espera, a “sala das duchas” e os fornos. No centro dos fornos erguia-se uma chaminé alta, ao redor da qual havia nove fornos, com quatro aberturas cada um; cada uma delas permitia a passagem simultânea de três cadáveres.
As vítimas, introduzidas na primeira sala, recebiam ordens de se despir totalmente, porque – diziam-lhes – precisavam tomar banho; para disfarçar ainda mais o sórdido engano, entregavam-lhes um pedaço de sabão e uma toalha. Depois disso, eram conduzidas à “sala das duchas”, um aposento grande, com um falso sistema de chuveiros nas paredes, onde se destacavam avisos como: “Lavem-se, porque limpeza é saúde”, “Não economizem sabão”, “Não esqueçam a toalha!”, de modo que a sala podia dar a impressão de ser realmente um local de banhos.
No teto plano havia uma abertura ampla, hermeticamente fechada por três grandes chapas de metal, que se abriam com uma válvula. Alguns trilhos atravessavam toda a extensão da câmara até os fornos. Quando todos entravam nas câmaras de gás, as portas eram fechadas (e vedadas contra a entrada de ar) e, pelas válvulas do teto, soltava-se um preparado químico em forma de pó grosseiro, de cor cinza-azulada, contido em latas, cujo rótulo especificava “Zyklon B – Para a destruição de todos os parasitas animais”, e apresentava a marca de uma fábrica de Hamburgo. Tratava-se de um preparado de cianureto, que se evaporava a determinada temperatura. Em poucos minutos, todos os trancafiados na câmara de gás morriam. Então as portas e janelas eram abertas, e os encarregados do Comando Especial, usando mascaras, entravam em ação para transportar os cadáveres até os crematórios.
Antes de introduzir os corpos nos fornos, havia indivíduos encarregados de cortar os cabelos de quem ainda os tinha, isto é, dos cadáveres daqueles que, recém-chegados num comboio, tinham sido levados imediatamente para o abate, sem entrar nos campos, e de extrair os dentes de ouro de quem os tivessem. As cinzas, como se sabe, eram usadas como fertilizantes em campos e hortas.
______________________________
Depois de tudo isso, os judeus sobreviventes fundaram o Estado de Israel, e: “Para quem não sabe, Israel é um país de 68 anos de idade e teve um ancestral que se tornou o judeu mais conhecido e amado do mundo – Jesus –, se é que esse nome diz alguma coisa à juventude atual! Esse povo milenar, hoje constitui um país democrático – uma ilha de democracia entre um oceano de teocracias totalitárias. Neste país vivem também mais de 2 milhões de árabes em total liberdade e prosperidade.”
(Trecho do artigo “Não em meu Nome”, de Carlos Reis, 20/7/2006)
24 de fevereiro de 2016
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário