“Eu diria que o presidente está tomando uma posição de covarde. Quem não deve não teme.” Essas frases não são de tucanos frustrados porque Lula conseguiu adiar um depoimento que poderia colocá-lo em maus lençóis, mas do próprio Lula. O paradoxo se desfaz com a informação de que as palavras foram proferidas no já longínquo ano 2000, quando o então líder oposicionista fustigava o então presidente Fernando Henrique Cardoso por manobrar para enterrar uma CPI contra seu governo.
A versão tucana do “quem não deve não teme” é naturalmente mais prolixa. Em 2006, diante do mensalão petista, FHC escreveu: “quem transgride as leis, os costumes, as práticas aceitas em uma comunidade (…), responderá pela transgressão perante a comunidade e estará sujeito às penalidades do caso”.
O que eu gosto da política é que ela escancara a parcialidade de nossos cérebros, que não hesitam em adequar os critérios morais que usamos à pessoa que está sendo julgada. Aos amigos, os benefícios da dúvida, aos inimigos, os rigores da lei.
“TIMING” DAS SUSPEITAS
Como não sou amigo nem inimigo nem de FHC nem de Lula, tenho algumas observações a fazer. O “timing” das novas suspeitas levantadas contra FHC é obviamente suspeito. Elas surgem num momento em que o líder petista vinha tendo dificuldades para explicar seu relacionamento com empreiteiras. A possibilidade, porém, de que a história contra FHC tenha sido desenterrada por encomenda não muda o fato de que ela precisa ser explicada.
É cedo, porém, para os petistas soltarem rojões. Mesmo que FHC se afunde nas explicações, isso não significará que Lula e o PT tenham se livrado de seus problemas, que são em maior número e parecem mais graves. O paralelismo entre os dois ex-presidentes também desaparece em relação ao futuro. FHC não seria candidato a mais nada, enquanto Lula é a grande esperança do PT para 2018.
Hélio Schwartsman, Folha
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