Uma coisa é preciso admitir: o ministro Manoel Dias faz na pasta do Trabalho o pior o melhor que pode. Nos primeiros cinco meses de 2015, fecharam-se no Brasil 244 mil postos de trabalho. Um recorde. O pior resultado desde 2002.
Instado a dizer algo, o companheiro Manoel Dias saiu-se com essa: “Nós geramos 23 milhões de empregos [desde 2003]. Não são 200 mil, 300 mil [vagas eliminadas] que significam que estamos vivendo um desastre.”
Aplicado no universo das pesquisas de opinião, o raciocínio do ministro resultaria numa conclusão assim: “Em setembro de 2011, o Ibope informou que a taxa de aprovação de Dilma Rousseff era de 71%. Superou Lula (69%) e FHC (57%). Não é o índice de 9% que ela ostenta hoje que significa que seu governo virou um desastre.”
Agora, experimente imaginar a seguinte situação hipotética: João das Couves trabalhava como auxiliar de serviços gerais num edifício de São Paulo. Ganhava salário mínimo. Casado, pai de uma menina de 2 anos, levava uma vida dura. Sabrava-lhe mês no fim do salário.
A crise apertou. O que era ruim tornou-se muito pior. O síndico do prédio mandou João das Couves para o olho da rua. Seus afazeres foram absorvidos pelo porteiro do prédio, que, receoso de perder o emprego, executa sem chiar as novas tarefas.
Desempregado há dois meses, João das Couves passou a viver de bicos. Há dias em que não consegue levantar nem o do leite da criança. Se tivesse de comentar sua tragédia, o ministro Manoel Dias diria: “O que é uma reles vaga de auxiliar de serviços gerais perto de 23 milhões de empregos criados entre 2003 e 2014?”
Quem ouve o ministro do Trabalho se convence de que a crise real do Brasil é de semântica, não de escassez de empregos. Antes de discutir se a estagnação da economia está levando a vaca para o brejo será necessário combinar o que é brejo. Ao final do processo, talvez se confirme a tese segundo a qual o grande erro da humanidade é a insensatez não doer. Sobretudo quando ofende a inteligência alheia.
11 de julho de 2015
Josias de Souza
Instado a dizer algo, o companheiro Manoel Dias saiu-se com essa: “Nós geramos 23 milhões de empregos [desde 2003]. Não são 200 mil, 300 mil [vagas eliminadas] que significam que estamos vivendo um desastre.”
Aplicado no universo das pesquisas de opinião, o raciocínio do ministro resultaria numa conclusão assim: “Em setembro de 2011, o Ibope informou que a taxa de aprovação de Dilma Rousseff era de 71%. Superou Lula (69%) e FHC (57%). Não é o índice de 9% que ela ostenta hoje que significa que seu governo virou um desastre.”
Agora, experimente imaginar a seguinte situação hipotética: João das Couves trabalhava como auxiliar de serviços gerais num edifício de São Paulo. Ganhava salário mínimo. Casado, pai de uma menina de 2 anos, levava uma vida dura. Sabrava-lhe mês no fim do salário.
A crise apertou. O que era ruim tornou-se muito pior. O síndico do prédio mandou João das Couves para o olho da rua. Seus afazeres foram absorvidos pelo porteiro do prédio, que, receoso de perder o emprego, executa sem chiar as novas tarefas.
Desempregado há dois meses, João das Couves passou a viver de bicos. Há dias em que não consegue levantar nem o do leite da criança. Se tivesse de comentar sua tragédia, o ministro Manoel Dias diria: “O que é uma reles vaga de auxiliar de serviços gerais perto de 23 milhões de empregos criados entre 2003 e 2014?”
Quem ouve o ministro do Trabalho se convence de que a crise real do Brasil é de semântica, não de escassez de empregos. Antes de discutir se a estagnação da economia está levando a vaca para o brejo será necessário combinar o que é brejo. Ao final do processo, talvez se confirme a tese segundo a qual o grande erro da humanidade é a insensatez não doer. Sobretudo quando ofende a inteligência alheia.
11 de julho de 2015
Josias de Souza
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