"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 11 de julho de 2015

MINISTRO DO TRABALHO OFENDE A INTELIGÊNCIA ALHEIA

Uma coisa é preciso admitir: o ministro Manoel Dias faz na pasta do Trabalho o pior o melhor que pode. Nos primeiros cinco meses de 2015, fecharam-se no Brasil 244 mil postos de trabalho. Um recorde. O pior resultado desde 2002.

Instado a dizer algo, o companheiro Manoel Dias saiu-se com essa: “Nós geramos 23 milhões de empregos [desde 2003]. Não são 200 mil, 300 mil [vagas eliminadas] que significam que estamos vivendo um desastre.”

Aplicado no universo das pesquisas de opinião, o raciocínio do ministro resultaria numa conclusão assim: “Em setembro de 2011, o Ibope informou que a taxa de aprovação de Dilma Rousseff era de 71%. Superou Lula (69%) e FHC (57%). Não é o índice de 9% que ela ostenta hoje que significa que seu governo virou um desastre.”

Agora, experimente imaginar a seguinte situação hipotética: João das Couves trabalhava como auxiliar de serviços gerais num edifício de São Paulo. Ganhava salário mínimo. Casado, pai de uma menina de 2 anos, levava uma vida dura. Sabrava-lhe mês no fim do salário.

A crise apertou. O que era ruim tornou-se muito pior. O síndico do prédio mandou João das Couves para o olho da rua. Seus afazeres foram absorvidos pelo porteiro do prédio, que, receoso de perder o emprego, executa sem chiar as novas tarefas.

Desempregado há dois meses, João das Couves passou a viver de bicos. Há dias em que não consegue levantar nem o do leite da criança. Se tivesse de comentar sua tragédia, o ministro Manoel Dias diria: “O que é uma reles vaga de auxiliar de serviços gerais perto de 23 milhões de empregos criados entre 2003 e 2014?”

Quem ouve o ministro do Trabalho se convence de que a crise real do Brasil é de semântica, não de escassez de empregos. Antes de discutir se a estagnação da economia está levando a vaca para o brejo será necessário combinar o que é brejo. Ao final do processo, talvez se confirme a tese segundo a qual o grande erro da humanidade é a insensatez não doer. Sobretudo quando ofende a inteligência alheia.

11 de julho de 2015
Josias de Souza

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