"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 11 de julho de 2015

BRASIL: AME-O, OU NÃO

Eu te amo, meu Brasil. O refrão, composto por Dom, da dupla Dom e Ravel, valeu à dupla todo tipo de recriminações. Interpretado por Os Incríveis e sucesso em 1971, se tornou um dos hinos da Ditadura Militar, junto com os 90 milhões em ação do Tri e bem de acordo com slogans ufanistas do gênero “Ninguém segura este país” e, principalmente, o imperativo do “Ame-o ou deixe-o”. Muitos deixaram o país, amando ou não, à força, e outros, poucos, em busca de ares menos sufocantes. Era uma época em que, no Brasil e no mundo, a ideia do multiculturalismo estava longe de se espalhar e o nacionalismo era um valor pouquíssimo questionado. 
A frase, atribuída a Tom Jobim, sobre a saída para o músico brasileiro ser o aeroporto (na verdade, quem a disse foi o gaitista Maurício Einhorn, nos anos 1960) valeu ao compositor que hoje dá nome ao Galeão uma saraivada de críticas. Querer sair voluntariamente do Brasil, não por causa de arbitrariedades, mas por pragmatismo profissional ou qualquer outro motivo, era considerado, até recentemente, um ato de traição. Criticar o país era visto como “falar mal” da pátria que nos alimenta. E a única forma de amor ao país era vista como alinhamento incondicional aos absolutores de seu rumo.

A questão que vem à mente, neste momento lamentável por que passa a República, é se é possível amar o Brasil tal como está. É óbvio que o país progrediu, a outrora jovem democracia sobreviveu a todas as expectativas (e, muitas vezes, desejos) em contrário, e, com todas as agruras, o ciclo FH-Lula teve até uma certa continuidade doutrinária que desaguou num período de estabilidade e crescimento. Depois, pelo menos três quartos da vaca foram para o brejo, a economia estancou e o retrocesso político foi brutal. 

Independentemente de todas as discussões que apontam para as responsabilidades petistas (que são as predominantes), o que se vê é que nossa classe política jamais chegou a nível tão baixo, e não se fala aqui nem do aspecto gatuno, que é evidente, mas no sentido de formulações, de criatividade, de oratória, de estatura intelectual, de comprometimento com causas e com o público.

A batalha entre a Oposição e Dilma, em que pesem os ótimos e justificados motivos para contestá-la e a seu governo, é patética, na forma, no discurso, nas atitudes. Se Dilma parece tomada por surtos dissociativos que deixariam uma junta de grandes psiquiatras de olhos gordos, Aécio se embrenha num desfile de fanfarronices que inspiram, na melhor hipótese, vergonha alheia e, na pior, vergonha de pertencer à espécie humana. O ápice foi dizer que havia sido reeleito presidente da República, após a convenção para a presidência do partido. 
Dias antes, o PSDB, como um jogador reserva afoito, que deseja que o titular quebre o pescoço para ele entrar em cena, se diz pronto para governar a qualquer momento, o que, se não é bravata golpista, é uma descarada mentira: ninguém estaria pronto para governar no Brasil de hoje, assim como nenhum dos candidatos estava, a partir do que se viu nos degradantes debates eleitorais da campanha. Dilma, obviamente, não está, nunca esteve, nunca estará, mas vai lutar por sua sobrevivência. Se cair, cairá, junto, uma ficha de Itu: o futuro governo, pilotado por Renan, por Aécio, por Cunha ou por um sujeito ainda oculto (Juiz Moro?), vai enfrentar a pior das conjunturas, terá oposição, lidará com um Congresso confuso e dividido e com uma economia combalida.

Se não cair, vamos ver, primeiro, como terá feito para evitar o cerco que se configura, oxalá não recorra a brucutus, oxalá Lula não tenha que vir em sua ajuda, arrependido, convocando o Stédile e as ruas. Se a reação que ela ensaia vier a inspirar seus eleitores a reintegrarem a estatística de popularidade, a tendência é de um aplacamento. Do contrário, veremos um Brasil cada vez menos amável, e o aeroporto Tom Jobim, bem como outros aeroportos, passarão a povoar o imaginário dos que amam ou dos que odeiam tudo o que está aí, mesmo sabendo que o que está lá não vem cheirando, tampouco, nada bem.

A coisa tá feia. Não é mais questão do mérito das questões, mas da maneira como são conduzidas. Se por um lado se comemora o fato de grandes empresários estarem indo em cana e se desejar que a corrupção esteja de fato sendo enfrentada, não dá para comemorar os ritos que movem os camburões nem o fato de se passar por cima de uma série de arbitrariedades e de juízos sumários. Não dá para gostar de ouvir um magistrado, em plena audiência, parabenizar um delator, que faz parte da quadrilha, por “estar prestando um grande serviço à nação”. Assim, fica difícil amar e querer viver aqui. Mesmo que a gente não saia, o desejo de defenestração passa a povoar os piores sonhos.
Dilma deveria dar uma de Roosevelt e convocar um daqueles pactos sócio-político-econômicos, clamar por unidade nacional, andar de bicicleta com Aécio e atropelar o mal-estar. Um new deal. New Dilma. Para mostrar que amar o Brasilis not a big deal. Big Dilma. Ou no big Dilma. Eis a questão. De qualquer forma, a tragédia caminha para o clímax.
11 de julho de 2015

Arnaldo Bloch

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