Eduardo Cunha rompeu com a presidente Dilma, mais ou menos como Floriano Peixoto desligou-se de Deodoro da Fonseca. Passou-se para a oposição, como afirmou sexta-feira. Significa o quê essa declaração? Nada, como deputado federal pelo Rio de Janeiro. Mas tudo, como presidente da Câmara, capaz de dar início à abertura de processo de impeachment de Madame, já protocolado por um grupo parlamentar. Porque o Cunha de verdade é o presidente, mil vezes mais potente do que o deputado.
Deixou de ser um entre 513 ao ser eleito para dirigir os trabalhos dos representantes do povo. Claro que perdeu apoio no próprio partido, o PMDB, cuja maioria prefere permanecer mamando nas tetas do governo, qualquer que seja seu chefe. Como também diminuiu-se ao não contraditar as acusações de corrupção pelo suposto recebimento de cinco milhões de dólares desviados dos cofres da Petrobras.
Mesmo assim, são muitas as armadilhas que poderá antepor ao Executivo. Na prática, por simples questão aritmética, chefia o Legislativo, acima e além do dispositivo constitucional que dá ao presidente do Senado a presidência do Congresso. Depende dele obstar a votação de projetos do interesse do governo, assim como fazer aprovar obstáculos capazes de emperrar a máquina administrativa federal.
Eduardo Cunha está convencido de partirem de Dilma as escaramuças agora transformadas em conflito com o palácio do Planalto. Inovou, na presidência da Câmara, retirando do arquivo projetos de interesse nacional. Fazendo discutir e votar a reforma política, apesar dos pálidos resultados, balançou as estruturas institucionais do país.
É CANDIDATO EM 2018?
A pergunta é sobre que dividendos pretende tirar da agressiva postura agora adotada. Tornar-se candidato do PMDB à presidência da República em 2018? Não dá, pois conhecido apenas em Brasília, a maioria do eleitorado nacional ignora se é beque do Flamengo ou pastor da Igreja dos Amigos de Plutão.
A estratégia de Eduardo Cunha é outra: promover ainda este ano a ebulição final impulsionada pela crise econômica e gerar o impeachment da presidente da República e de seu vice e correligionário, Michel Temer, pois é o terceiro na linha sucessória, mesmo limitado a convocar novas eleições em sessenta dias. Aqui as coisas poderiam enrolar, lembrando Floriano Peixoto, que deveria mandar realizar eleições após a renúncia de Deodoro da Fonseca e governou por todo o primeiro mandato republicano, com o respaldo da Câmara dos Deputados. O Marechal de Ferro apoiava-se no Exército. O Cabo de Palha, na indiferença nacional.
Eduardo Cunha obteve sucesso em todas as suas artimanhas, até agora. Sacrificar a Constituição não lhe custará nada, se para tanto tiver disposição de uns e desinteresse de outros.
A ESTRADA FICA
Desavisado turista brasileiro alugou um carro em Portugal, aventurando-se a percorrer o interior. Num belo dia, perdeu-se. Vendo um camponês postado na beira da estrada, indagou se aquela estrada levava a Lisboa. Ouviu que não. Prosseguiu algumas centenas de metros quando deparou-se com uma placa indicando a proximidade da capital lusitana. Irritado, deu marcha-a-ré e cobrou do patrício a má informação, mas a resposta foi a mesma: a estrada não levava a Lisboa: “quem vai é o senhor. A estrada fica aqui…”
A historinha se conta a propósito da crise econômica. Quem deve vencê-la não é o governo. Somos nós…
22 de julho de 2015
Carlos Chagas
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