Enquanto Renan Calheiros, através da TV Senado, elogiava Eduardo Cunha e atacava frontalmente o projeto de ajuste do ministro Joaquim Levy – reportagem de Simone Iglesias e Luiza Damé, O Globo de segunda-feira -, o titular da Aviação Civil, mas de fato articulador político do Planalto, Eliseu Padilha, ressalvava a posição do presidente do Senado e acentuava que a crise atual ampliava o papel de Michel temer como chefe da articulação entre o Executivo, Legislativo e o Judiciário. Vamos por partes.
Em primeiro lugar, não se compreende a existência de uma articulação política entre o Palácio do Planalto e o Judiciário. Que pode significar tal afirmação? Não se pode conceber. Tampouco admitir qualquer conexão extralegal entre os dois Poderes. Sobretudo no estágio atual da Operação Lava-Jato que, a cada dia, desvenda e torna público mais um capítulo do gigantesco assalto praticado contra a Petrobrás e, portanto, contra a economia nacional. Qual é o diálogo pretendido no final da ópera? Refrescar os ladrões e os intermediários? Por qual motivo? Impossível. Os meios de comunicação vêm revelando de forma incessante as escalas dos roubos que abalaram o Brasil. Impossível anular tanto as investigações quanto as publicações.
LADRÕES DE CASACA
Sobretudo pelo motivo de estarem presos ladrões de casaca, como no filme de Hitchcock. Não pode haver nenhuma volta nesse caminho. Qualquer tentativa oficial ou mesmo oficiosa, além de rejeitada, faria o governo desabar, reduzindo ainda mais o processo de abalo que o atinge e envolve e, sobretudo, é impulsionado pela própria população do país. isso de um lado.
De outro, ao tentar afastar Cunha de Renan, a presidência da República revela tacitamente encontrar-se em posição difícil, ao ponto de se preocupar com um mais que provável entrosamento entre os dois presidentes das Casas do Congresso. Inclusive é preciso não esquecer que ambos estão sendo investigados pelo STF pelas acusações que lhes foram levantadas pelo Ministério Público Federal.
JANOT DE VOLTA?
No centro de tal procedimento o Procurador Geral da República Rodrigo Janot, cuja renovação do mandato depende de duas etapas: desfecho da eleição pelos próprios procuradores, indicação pela presidente Dilma e aprovação pelo Senado. A meu ver, ele será o pretendente mais votado porque, internamente, está em jogo o prestígio da própria Procuradoria Geral. Na sequência, o Legislativo não terá condição política de, perante à opinião pública, não aprovar seu nome para um novo mandato de dois anos.
Superadas as duas etapas, Dilma Rousseff não terá condições de não reconduzi-lo sob pena de se expor a humilhação geral. Qual o motivo que poderá alegar? Falando francamente, motivo algum poderá servir de pretexto. Dilma receberá a lista dos três mais votados e, como sempre agem os chefes do Executivo, nomeará o primeiro da lista. Ela, que já se encontra em meio á tempestade, não há de querer que na sequência exploda um maremoto em torno de Brasília.
Assim, diante desse quadro, primeiro, não há como poder afastar Renan de Cunha. Os dois estão unidos e a força que possuem vem da união entre ambos. Segundo, não é possível frear os degraus da Operação Lava-Jato. Não termina apenas com o juiz Sérgio Moro. Passa pela PGR e, em casos específicos, culmina no Supremo Tribunal federal. Qualquer tentativa de cooptação soa falso. Pois não se pode iludir a todos. Na frente de tudo está a opinião pública.
22 de julho de 2015
Pedro do Coutto
Nenhum comentário:
Postar um comentário