"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

DIZER QUE TEM ÓDIO DE POLÍTICA NÃO RESOLVE NADA


Descia no elevador de um prédio comercial no centro de Belo Horizonte. Na mesma viagem, estavam jovens que aparentavam ter entre 20 e 25 anos, falantes e risonhas. O ascensorista só olhava e ouvia, cuidando para que o trajeto consumisse o tempo suficiente para que ele se inteirasse do assunto das moças. Um monitor de TV no elevador expunha slides de propaganda e ainda trazia o ocorrido no dia. Eis que aparece a presidente Dilma falando sobre os cortes que sua tesoura operará no orçamento.
De uma das jovens, em alto e bom som, partiu sua avaliação do momento da economia brasileira, com impressionante delicadeza: “essa vaca ainda vai tomar meu emprego; por isso que eu detesto política”.
Essa é a dimensão que o cidadão comum tem do momento brasileiro. Importam o emprego, o vale-transporte, a mensalidade da escola, o aluguel ou a prestação da Caixa, a compra do supermercado, o consórcio da moto ou do carro, a escova progressiva, a balada no fim de semana. É justo.
PRIMEIRA PARADA
O cidadão é a primeira parada do arrocho. É ele que está na linha de tiro, que vai pagar pela irresponsabilidade do gestor público que corrompe, que inverte as opções, que troca a nomeação de parentes-assessores por cargos necessários para que a educação, a saúde, a segurança aconteçam como uma prestação obrigatória do Estado. É ele que pagará a conta se o seu prefeito preferir custear, com milhões de reais, uma escola de samba do Rio. Tudo para que leve o nome do município no próximo Carnaval. Enquanto isso, na mesma cidade, faltam medicamentos nos postos de saúde, falta merenda nas escolas e as contas da prefeitura seguem atrasadas, definhando servidores e fornecedores. Isso não é apenas uma suposição. É fato e foi cogitado numa cidade da Grande Belo Horizonte. O assunto, mesmo polêmico, não está sepultado. Pode acontecer. O cidadão paga também a farra das câmaras municipais, com vereadores sentados em gabinetes inchados de apadrinhados, inservíveis quase todos.
ORGIA CUSTEADA
Os legislativos pontualmente decotam do orçamento de todos os municípios até 5% de suas receitas líquidas para custear essa orgia. As assembleias estaduais, a Câmara dos Deputados e o Senado têm o mesmo tratamento: chova ou faça sol, receberão sempre sua grana, terão abastecidos seus carros, pagas todas as verbas parlamentares, de gasolina à moradia, passando pela contratação de assessores que lá nunca vão.
Esse mesmo cidadão – que tem ódio de política – paga com sua omissão, permitindo que tudo isso ocorra e nunca mude. A política, gostemos ou não, é o único espaço onde pode o cidadão discutir o seu trabalho, pode brigar pela construção de políticas públicas, pode exigir a contraprestação do poder público aos impostos que se arrecadam. Não participar, escolher mal, ter ódio de política é o caminho natural para se chegar a lugar nenhum. É preciso mudar o destino dessa viagem.

29 de maio de 2015
Luiz Tito
O Tempo

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