Nicolas Sarkozy, antigo presidente da França, é um ser frenético, dono de personalidade hiperativa. Esse traço de caráter marcou sua presidência. Estava por toda parte, falava pelos cotovelos, ocupava a cena, ofuscava seus ministros. Divorciou-se, casou-se de novo e foi pai ― tudo isso durante seu mandato de 5 anos.
Chegado o momento de escolher novo presidente, Sarkozy naturalmente candidatou-se à reeleição. Seu adversário-mor, na intenção de marcar terreno e enfatizar a diferença entre seu estilo e o bulício da presidência que findava, proclamou aos quatro ventos que, se eleito, seria um presidente normal.
Foram os dois para o segundo turno. Por uma margem de votos que, sem ser apertada, tampouco foi ampla, Sarkozy foi dispensado de suas funções e François Hollande tomou seu lugar.
Diferentemente do Brasil, os candidatos franceses, uma vez empossados, costumam ser cobrados pelos eleitores por suas promessas de campanha. Mas ninguém sabia direito o que seria uma presidência normal ― talvez até nem o próprio Hollande soubesse bem como tornar o slogan realidade.
Instalado no palácio presidencial há já quase dois anos, Monsieur Hollande bem que tem tentado mostrar-se menos falante, menos frenético, mas… não tem jeito. Anda amargando os níveis de popularidade mais baixos já experimentados por um presidente desde que esse parâmetro começou a ser medido. O desditoso está abaixo de Chirac, de Mitterrand e até do próprio Sarkozy, o hiperativo.
Semana passada, Closer, uma revista sensacionalista francesa, publicou uma reportagem bomba revelando a ligação amorosa do presidente com uma atriz quase 20 anos mais jovem que ele. Escândalo no país!
Durante dias, não se falou de outro assunto. Jornais impressos, radiofônicos e televisivos abriam invariavelmente com as mais recentes informações, opiniões e palpites sobre o caso.
Segundo Closer, o modo de proceder foi relativamente simples. A presidência da República mantém alguns apartamentos mobiliados, situados em imóveis discretos, onde costuma alojar visitantes temporários, gente cuja presença em Paris não deve ser tornada pública.
O presidente tem autoridade para requisitar, quando lhe apraz, algum desses apartamentos para seu uso pessoal ― para encontrar-se discretamente com algum figurão, por exemplo.
Os repórteres da revista, não se sabe como, foram informados de que os encontros do presidente com a atriz ocorriam num desses apartamentos, a tal dia, a tal hora. A partir daí, foi fácil. Postaram seus fotógrafos na saída do palácio presidencial e na entrada do edifício que abriga a garçonnière.
Não deu outra: o presidente saiu de seu palácio, coberto por um capacete, na garupa de um scooter ― aquele meio de transporte que os antigos conheciam como lambreta ou motoneta. Dirigiu-se ao local onde já o esperava outro fotógrafo. As cenas foram registradas, mas o presidente nem se deu conta do que estava acontecendo.
A revista não perdeu a ocasião. Publicou a revelação em edição extra.
A tiragem, que costuma ser de 150 mil exemplares, foi quadruplicada. Assim mesmo, esgotou-se em poucas horas. Atualmente, tem gente vendendo um exemplar (usado) daquele número pela elevada soma de 15 euros (perto de 50 reais).
É bem sabido que a desgraça de uns sempre acaba fazendo a felicidade de outros. Sixt, uma locadora de automóveis, saltou sobre a ocasião. Acaba de lançar uma divertida peça publicitária com os dizeres:
«Senhor presidente, da próxima vez, evite o scooter. Sixt aluga carros com vidros fumês».
O povo francês está começando a descobrir um dos traços que caracterizam um presidente normal. É pular a cerca de vez em quando, como fazem tantos maridos.
PS: No dia seguinte ao da publicação, a companheira fixa do presidente ― aquela que é considerada a primeira-dama ― foi internada com graves problemas de saúde. Não se sabe bem que mal a acomete, mas o fato é que, passados mais de 10 dias, continua hospitalizada. Pode ser coincidência. Ou não.
17 de fevereiro de 2014
Jose Horta Manzano
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