O Maranhão é um retrato de absoluto descaso com os mais fundamentais direitos humanos. Para falar só de educação, o estado conta com alguns dos piores indicadores em um país que já não tem indicadores muito bons.
Desde cedo, crianças maranhenses estão muito atrás do resto do país. De acordo com a Prova ABC, ao fim do 3º ano do ensino fundamental, só 27,9% delas são proficientes em leitura, 10% em matemática e 13% em escrita. As médias brasileiras são respectivamente 44,5%, 33,3% e 30%. Ou seja: o Maranhão tem menos de metade dos resultados já ruins do país, sendo que essas crianças estão apenas iniciando a trajetória escolar.Observando a outra ponta, vemos que, no Maranhão, somente 45% dos jovens de 15 a 17 anos estão matriculados no ensino médio, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Apenas 38% dos jovens de 19 anos que conseguiram chegar a essa etapa de ensino no estado a concluíram e, entre eles, só 11,8% aprenderam o mínimo adequado em língua portuguesa, e 1,6% em matemática.
Escola de palha em Balsas-MA. Foto: Cristiano Mariz / VEJA
A renda média dos demais 79.576 jovens dessa idade que não têm o ensino médio completo é de menos de 500 reais por mês. O estado está condenando essas pessoas a um ciclo perverso de desigualdade.
No sistema carcerário do Maranhão, palco das atrocidades que chocaram o país nos últimos dias, a cobertura educacional é precária: a taxa de matrícula de pessoas com privação de liberdade era de apenas 5% em 2012, segundo dados do InfoPen (Ministério da Justiça). Aqueles que não chegaram ao fim do ensino médio somavam então 91%, e, entre eles, a grande maioria sequer completou o ensino fundamental.
É urgente que haja maior prioridade, atenção e ação para rompermos a situação de calamidade da educação no Maranhão há anos. Até quando vamos remediar desastres anunciados? Não seria o caso de o Brasil acordar de vez para a importância estratégica e humanitária da educação das nossas crianças e jovens? Resta alguma dúvida sobre qual é a área em que deveríamos estar investindo prioritariamente nossos recursos para mudarmos de patamar e conquistarmos um Brasil que seja realmente de todos?
Entre o urgente e o importante, chegamos ao ponto de ter que lidar com ambos ao mesmo tempo. A vida de muitas crianças e jovens depende de nós — uma parte muito pequena de pessoas privilegiadas que acordam de manhã e pegam o jornal para ler.
Depende de nós demandar uma nova prioridade estratégica para o país de olhar o futuro de forma mais generosa para com toda a população brasileira, principalmente para aqueles que, mesmo sendo a maioria, têm pouca voz e influência.
Chegou a hora de a indignação se voltar para os milhões de crianças maranhenses e brasileiras cujo direito à educação é negado.
17 de janeiro de 2014
Priscila Cruz é diretora executiva do movimento Todos Pela Educação. O Globo
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