Entra governo, sai governo, a maldição continua. O Brasil permanece na inglória posição de campeão dos juros altos. Com a presidente Dilma Rousseff não será diferente, com um agravante: parece ter cessado a tendência de redução gradual que vinha de 2003.
O Banco Central bem que se aventurou. Foi simpático ao propósito presidencial de reduzir os juros de forma acentuada, em troca de austeridade nas contas públicas. A taxa básica, a Selic, chegou a 7,25% em novembro de 2012.
Mas o governo não cumpriu sua parte. Impaciente com o ritmo da economia, errou no diagnóstico de que a letargia seria superada com a expansão da demanda, sobretudo consumo e gastos públicos.
Forçou, ainda, uma desvalorização de 20% do real diante do dólar em 2012, justamente quando havia um choque nos preços dos alimentos. Agravou, com isso, as pressões inflacionárias; produtos importados ficaram mais caros, e os custos altos foram repassados para itens produzidos localmente.
A despeito das evidências, o governo insistiu em teses equivocadas: a inflação seria problema pontual, não havia exagero com gastos públicos e as críticas partiam de rentistas aninhados na oposição.
Além disso, adotou medidas artificiais de controle de preços administrados (tarifas de energia e combustíveis, por exemplo). Sem isso, a inflação em 2013 teria sido ainda maior que os 5,91% medidos pelo IBGE.
Com o resultado, a alta dos preços no ano passado ficou acima da registrada em 2012, contrariando compromisso do Banco Central. Para este ano, a expectativa ainda é elevada, perto de 6%.
As pressões inflacionárias são profundas e persistentes. Há pelo menos 1,5 ponto percentual escondido nos preços administrados, os serviços sobem 8% ao ano e o setor privado não crê na meta de 4,5%. O câmbio tampouco ajuda.
O BC, sozinho na batalha, aumentou novamente os juros em 0,5 ponto percentual, para 10,5%, em desacordo com suas indicações de que reduziria o ritmo de alta.
O experimentalismo da política econômica cobra sua conta. Dilma Rousseff viu uma chance histórica de acabar com os juros escorchantes, mas a desperdiçou. Seu governo pode terminar com taxa próxima da registrada há quatro anos.
17 de janeiro de 2014
Editorial Folha de São Paulo
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