"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

"FANTASIAS DE 2014"

“Imagina na Copa”. Não dá para imaginar mais nada, mal ou bem, porque a Copa simplesmente chegou. A ficha caiu: faltam seis meses, só. E sem estádio ícone, nem aeroporto super, nem novíssimas estações de metrô, nem trem bala Rio-São Paulo, nem hotel das Arábias em cartão postal. Menos, menos, muito menos.
 
Segure a cívica vaidade vã, lamente a megalomania e nem se lembre do fantástico Ninho do Pássaro de Pequim (construção de US$ 500 milhões, equivalentes à reforma do Maracanã). Considere: o panteão moderno de Brasília, que custou R$ 1,7 bi e um operário morto, com aquelas colunas todas, bem que impressiona.
 
Esqueça a estrutura de ferro e aço que despencou na lama do estádio construído para abertura do Mundial, o Itaquerão de São Paulo – jazigo perpétuo de dois outros trabalhadores. Tragédia que nem os mais pessimistas esperavam.
 
Mantenha o prumo, caia na real, almeje o possível. Digamos: torcedores conscientizados ao longo dos últimos quatro anos e, quem sabe, um Maracanã sem inundação no seu entorno. Quanta ambição! Menos, bem menos: a realidade aqui é inimaginavelmente dura.

Maracanã. Foto: Severino Silva / Agência Estado

Até para a intocável Fifa. Escaldada pela Copa das Confederações, ela se prepara, sempre em grande estilo, para o pior: no sorteio da Copa, na sexta-feira passada, realizado em luxuoso e exclusivo resort da Bahia, soube-se que havia dois policiais para cada três convidados do evento.
 
Com ou sem protestos, a blindagem do público da Copa, ainda que por forças de segurança muito aquém do “padrão Fifa”, está mais do que testada. Iludida, revoltada ou alijada, a maioria dos brasileiros vai parar em Junho para ver o Mundial. Na Hora H da seleção, quem, no país do futebol, ficará indiferente?
 
Mesmo sendo anfitriões, nosso orgulho cívico dependerá mais do resultado obtido no gramado do que das realizações fora dele. Fora do campo, é patente – e gritaram isso as manifestações de Junho -, que as conquistas, no Esporte e além dele, foram superestimadas. Restará a batalhados atletas: jogar bem, controlar os adversários e contar com a sorte.
 
Se escaparmos dos riscos de vexame, no final será apresentado um balanço favorável da Copa, apesar de estouros em orçamentos regionais. Houve, é certo, quem trabalhasse direito. Mas se ganharmos o Hexa, que legado importa?
 
Começará em seguida a rodada que definirá o placar de Outubro. Veremos erguer-se novamente o mundo dourado para eleitores. A hora da abundância: mais, mais e mais promessas - inclusive para as Olimpíadas de 2016.
 
13 de dezembro de 2013
O Globo
Mara Bergamaschi é jornalista e escritora. Foi repórter de política do Estadão e da Folha em Brasília. Hoje trabalha no Rio, onde publicou pela 7Letras “Acabamento” (contos,2009) e “O Primeiro Dia da Segunda Morte” (romance,2012). É co-autora de “Brasília aos 50 anos, que cidade é essa?” (ensaios, Tema Editorial,2010). Escreve aqui às quintas-feiras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário