As mais recentes revelações feitas pelos marqueteiros João Santana e Mônica Moura, de tão detalhadas, sentenciam o que procuradores da República e policiais federais vêm dizendo há tempos: o Estado brasileiro foi tomado por uma organização criminosa. Por mais que uma parcela da população ainda se recuse a acreditar nos relatos dos delatores, não há o que questionar. As histórias impressionantes, que têm se tornado públicas, estão totalmente amarradas. Independentemente do interlocutor, tudo o que é dito só confirma o esquema gigantesco que foi montado para saquear a Petrobras e o país.
Pela proximidade que tinham com os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, as delações de Mônica e João Santana, responsáveis pelas três últimas campanhas presidenciais do PT, são mais estarrecedoras do que as de todos os ex-dirigentes da Odebrecht, empresa que financiou a maior parte da corrupção descoberta pela Operação Lava-Jato.
É MUITA SUJEIRADA – O casal de marqueteiros não só mostra que Lula e Dilma sabiam de toda a roubalheira, como revela que informações sigilosas das investigações policiais foram usadas indevidamente pela ex-chefe do Executivo.
Dilma teria avisado Mônica e o marido que eles seriam presos. A mensagem cifrada é impactante: “O seu grande amigo está muito doente. Os médicos consideram que o risco é máximo, 10. O pior é que a esposa, que sempre tratou dele, agora está com câncer e com o mesmo risco. Os médicos acompanham os dois, dia e noite”. Se confirmada essa denúncia, a petista poderá responder por violação de sigilo, corrupção, crime de responsabilidade, obstrução da Justiça e crime contra a administração pública.
Dilma, até então, vinha conseguindo manter uma certa distância do lamaçal evidenciado pela Lava-Jato. A cada denúncia contra ela, fazia questão de bater no peito e alardear sua honestidade.
“MULHER HONESTA” – Foi assim no processo de impeachment. Em sua defesa no Senado, enfatizou: “Saibam todos que vocês estão julgando uma mulher honesta, uma servidora pública dedicada e uma lutadora das causas justas”.
Com esse discurso, a ex-presidente procurou se manter na posição de vítima. Agora, contudo, entra na lista dos principais suspeitos de corrupção na Petrobras. A petista teria, inclusive, criado um e-mail com o nome fictício de Iolanda para se comunicar com os marqueteiros sem levantar suspeitas. E sugeriu a eles que transferissem para Cingapura o dinheiro de caixa dois depositado em uma conta na Suíça, por ser mais seguro.
João Santana e Mônica Moura foram os responsáveis pela campanha recheada de mentiras que reelegeu Dilma em 2014. Ameaçada de perder o mandato, a petista desencadeou uma onda de ataques contra seus principais adversários recorrendo a inverdades. Algumas peças publicitárias beiravam o terrorismo. Nas propagandas, ela também vendia um país fictício, em plena ordem, que renegava a inflação alta e o desemprego e a recessão que batiam à porta. Boa parte dessa campanha mentirosa foi bancada pelo dinheiro da corrupção, como revelam muitas das delações que se tornaram públicas.
UMA MAQUIADORA – Dilma caiu acusada de desrespeitar preceitos básicos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Maquiou o quanto pôde as contas públicas. Quebrou todos os pilares que davam sustentação à economia. Essa, porém, foi a parte visível das estripulias da petista, que, por sinal, estão custando muito caro ao país. Nos bastidores, segundo os delatores, ela usufruía, sem constrangimento, do esquema que devastou o caixa da Petrobras. Até o seu cabeleireiro e a sua maquiadora eram pagos com recursos oriundos de propina. A petista continua negando todas as acusações. Mas já não convence mais.
A situação de Dilma e Lula pode se complicar ainda mais se Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil, realmente fechar o acordo de delação premiada que está negociado com a Justiça. Ele já avisou ao juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Lava-Jato, que dará informações suficientes para mais um ano de trabalho da força-tarefa formada pela Polícia Federal e o Ministério Público. Não está blefando.
Palocci está no centro de todas as denúncias. Era ele quem distribuía, entre os petistas, o dinheiro surrupiado da Petrobras. Tudo, é claro, “com o conhecimento do chefe”. As delações de Palocci podem se tornar a pá de cal na defesa de Lula e Dilma. É esperar para ver.
15 de maio de 2017
Vicente Nunes
Correio Braziliense
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