Ao contrário do ex-presidente Lula, conhecido por ser um agregador, a ex-presidente Dilma Rousseff sempre franqueou a poucos o livre acesso a seu gabinete e sua residência. João Santana e Mônica Moura eram dois desses poucos escolhidos.
Ao longo dos mais de cinco anos de governo da petista, o espectro de Santana rondou o Planalto. Tudo o que dava certo na comunicação do governo era atribuído ao publicitário e boa parte dos erros eram colocados na conta de suas ausências.
Quem acompanhava o dia a dia do governo era volta e meia surpreendido pela informação — nunca oficial — de que o publicitário baixara em Brasília e ia jantar com a presidente no Alvorada. Era sinal de que havia algum debate estratégico em pauta.
INTIMIDADE – Paralelamente, Mônica Moura transitava na intimidade da presidente, se tornando uma conselheira frequente inclusive sobre estilo. Não à toa, a delação de João Santana e Mônica é de longe a pior já surgida sobre a ex-presidente.
Enquanto a maioria dos delatores da Lava-Jato conviveu com parlamentares e tesoureiros — postos nunca ocupados por Dilma —, o publicitário e a mulher cultivaram um acesso incomum à presidente, que notoriamente centralizava os assuntos que considerava importantes.
Embora a narração de conversas francas sobre caixa dois e o avanço das investigações impressione, são os dados da conta de e-mail partilhada entre eles que parecem abrir o mais sólido caminho de investigação. Diálogos de jardim e recursos recebidos em dinheiro vivo são de difícil comprovação. O uso de e-mails não.
REGISTRO DO IP – O Google certamente teve por algum período os registros dos IPs (endereços únicos da internet) que acessaram a fatídica conta de e-mail, com dia e hora em que ela foi utilizada.
Se for verdade o que está na delação, provavelmente entre esses endereços estão os usados pelas redes que atendiam aos palácios da Alvorada e do Planalto. E o serviço de processamento do governo, por sua vez, pode saber inclusive qual máquina foi usada.
15 de maio de 2017
Paulo Celso Pereira
O Globo
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