O ex-governador Ciro Gomes, pré-candidato às eleições presidenciais pelo PDT, comentou neste domingo (dia 14) as perspectivas de que Antonio Palocci faça sua delação premiada, como anunciado recentemente. Não se diz ansioso: “Quero que se ferrem todos”. E repetiu: “Todos. Quem deve tem que pagar”, afirmou a jornalistas após discursar em Oxford no Brazil Forum, um evento voltado a estudantes brasileiros que moram no Reino Unido.
O ex-governador criticou, no entanto, a maneira com que a delação premiada tem sido utilizada nas investigações da Lava Jato. Disse, por exemplo, que as declarações dadas não têm valor sem provas, mas, no meio-tempo, destroem reputações. “Um dos maiores interessados em que a Lava Jato tenha êxito sou eu. Não estou em lista nenhuma”, Gomes disse. “Se os caras forem culpados, fico provavelmente sozinho na área. Mas isso não me permite violentar minha consciência jurídica.”
TRÍPLEX E SÍTIO – Ciro Gomes havia participado de um debate na mesma mesa do ex-ministro Jaques Wagner, que disse à Folha que tampouco se preocupa com a delação de Palocci. “Eu não sei o que ele vai falar. Se alguém pode estar tenso, é quem teve relacionamento com ele”, disse. “É difícil que o Lula tenha preocupação. O Lula e a Dilma.”
“A coisa do Lula não é o patrimônio. É muito mais fazer política. Inventaram um triplex, um sítio. Dizem que há milhões em uma conta no exterior. Cadê a conta?”.
Questionado sobre as razões que levaram Palocci -ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil – à delação, Wagner disse não existir surpresa. “No sistema jurídico que vivemos, a delação virou a única saída para não ficar preso por muito tempo.”
Réu em dois processos em Curitiba, Palocci teme que suas penas possam ultrapassar os 30 anos de prisão. A negociação do acordo será feita pelos advogados Adriano Bretas e Tracy Reinaldet.
O FUTURO – O tema do debate entre Gomes e Wagner era o futuro da política após o impeachment e a Lava Jato. No sábado, o juiz Sergio Moro e o ex-ministro José Eduardo Cardozo, do PT, haviam falado entre vaias e aplausos.
“Querem transformar a política em uma torcida organizada de futebol”, disse Wagner, criticando a crescente polarização brasileira. Ele criticou também a existência do cargo de vice-presidente, que descreveu como “gasto de dinheiro” e “fórum de intriga”. No caso do afastamento de Dilma, ele disse que teria sido melhor haver eleições antecipadas.
“Vice-presidente, vice-governador e vice-prefeito só servem para tramar”, disse. “Com a rapidez em que a gente chega de avião, não tem sentido ter um vice.”
SEM REAÇÕES – O debate entre Wagner e Gomes não teve grandes demonstrações políticas da plateia, ao contrário do dia anterior, quando Moro e Cardozo causaram comoção. Em outra mesa, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso foi chamado de “golpista”.
Já o ex-ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, foi chamado de “demagogo”. Ananias havia feito duras críticas às reformas implementadas pela gestão do presidente Michel Temer. “Do que Karl Marx e Rosa Luxemburgo não conseguiram me convencer, esse governo golpista conseguiu.
Foi a segunda edição do evento Brazil Forum, que também trouxe neste ano nomes como os ex-governadores Ciro Gomes (PDT) e Jaques Wagner (PT), que dividiram um painel sobre a política nacional.
Os debates do primeiro dia foram realizados na capital britânica, na London School of Economics. O encerramento, neste domingo, ocorreu na Universidade Oxford.
15 de maio de 2017
Diogo Bercito
Folha
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