O ex-ministro Antonio Palocci sinalizou ao juiz Sérgio Moro que pode municiar a Lava-Jato com novas informações, capazes de “dar mais um ano de trabalho”. Depois de afirmar em audiência que sabia da existência de caixa 2, mas que nunca operou ou organizou pagamentos, o ex-ministro disse ao juiz que, quando ele quiser, pode apresentar as informações. “Apresento todos os fatos com nomes, endereços e operações realizadas. Posso lhe dar um caminho que vai lhe dar mais um ano de trabalho, que faz bem ao Brasil” – disse Palocci, afirmando que falaria sobre “nomes e situações” que optou por não falar na audiência.
Ao responder perguntas do seu advogado, Palocci contou uma história que pode dar indicativos do que ele tem a contar em uma possível delação. Afirmou que, antes da campanha presidencial de 2010, foi procurado por um banqueiro, a quem ele definiu como “uma personalidade do meio financeiro” a quem caberia fazer “coisas relativas a financiamento de campanha, a reservas, provisões”.
R$ 200 MILHÕES – Segundo Palocci, o banqueiro lhe disse que falava em nome “de uma autoridade de primeiro escalão do governo”, mas que a então candidata Dilma Roussef não sabia disso.
Palocci disse que chamou sua atenção o fato de o banqueiro ter utilizado a palavra “provisões”, a mesma usada por Marcelo Odebrecht para se referir a dinheiro reservado à campanha petista um mês antes. Em depoimento de delação, Marcelo relata ter provisionado R$ 200 milhões para o PT, dos quais R$ 133 milhões teriam sido gastos.
O empreiteiro afirma que o PT pediu dinheiro duas vezes como “contrapartida” – um crédito para Angola e a aprovação da MP da Crise, este segundo um pedido do ex-ministro Guido Mantega.
CHAMADO POR LULA – O ex-ministro disse ainda que o banqueiro em questão sabia da “provisão” feita pela Odebrecht e pediu ajuda para liberá-la. Palocci teria mentido e dito que sabia sobre o dinheiro da empreiteira.
Dois meses antes de falar com o banqueiro, Palocci diz ter sido chamado pelo então presidente Lula, que teria ficado sabendo da “provisão” da Odebrecht.
Segundo o ex-ministro, Lula ficou “um pouco irritado” ao ficar sabendo que a Odebrecht tinha uma provisão de R$ 200 milhões para doar ao PT e queria saber do que se tratava e por que a doação para a campanha presidencial não havia sido feita pelas vias legais.
“Esse assunto deu muita cria, em assuntos relacionados a Lava-Jato. Se o senhor me ouvir em sigilo, me prontifico a falar tudo. Isso tem desdobramentos importantes, inclusive em relação a Odebrecht…” – concluiu o ex-ministro.
AUDIÊNCIA PÚBLICA – “Prefiro não dizer agora porque essa audiência é pública”, disse Palocci, que admitiu a existência de caixa 2 nas campanhas, mas disse que nunca operou o dinheiro.
“Digo ao senhor, não deixei de cometer erros (..) Não me sinto em condições de falar o que todo mundo está falando, dizer que nunca existiu, que tudo foi aprovado em tribunais. Todo mundo sabe que teve caixa 2 em todas as campanhas. Não vou mentir” – afirmou ao juiz.
Palocci se defendeu com veemência da acusação de ter determinado pagamentos aos marqueteiros João Santana e Mônica Moura no exterior, com base em contratos de sondas da Petrobras. Disse que o pagamento a Santana foi feito um ano antes da contratação das sondas.
SANTANA E MÔNICA – “Jamais, absolutamente não” – disse Palocci. – “Isso se aplica a João Santana, Mônica Moura. Nunca tratei de onde seria pago ninguém, onde pagar alguém’.
“Quem decidia como pagar?’ – indagou o defensor.
“Era a empresa e o recebedor”.
Perguntado se solicitou, interferiu ou defendeu interesse da Odebrecht ou da Sete Brasil na questão das sondas, o ex-ministro foi afirmativo.
“Eu digo não. Absolutamente não”.
Palocci disse ainda que nunca pediu nem recebeu Doações partidárias da Odebrecht como contrapartida por projetos da empresa com o governo federal.
COMPRA DE MPs – O ex-ministro admitiu, porém, que havia episódios em que as empresas procuravam políticos prometendo doações caso seus interesses fossem atendidos. Ele cita como exemplo a votação da medida provisória 460, de 2009, que previa mudanças na cobrança de tributos para incorporadoras.
“Não preciso dizer o quanto se falava no Congresso sobre contrapartidas para a MP 460. Era uma coisa… Aconteceu intensamente, mas jamais recebi ou ofereci da Odebrecht qualquer contrapartida” — afirmou Palocci.
Ao longo do depoimento, Palocci se lembrou de uma visita que recebeu do então presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, a quem descreveu como “insistente” ao defender seus interesses econômicos.
SUBMARINO – Segundo a versão do ex-ministro, Marcelo teria dito que foi procurado por um petista, que pedira uma doação como contrapartida pela liberação de um projeto de submarino que era de interesse da Odebrecht.
“Ele (Marcelo) me pediu para ajudar a tirar esse assunto da mesa. Faço isso porque sou absolutamente contra qualquer vinculação a projeto” — disse Palocci. “Eles jamais me pediram uma contrapartida e jamais dei margem que eles pensassem que era possível”.
Moro quis saber que petista havia feito o pedido a Marcelo. Palocci respondeu que não saberia indicar um nome, mas que, na época, a única pessoa que solicitava doações em nome do partido era o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
APOIO DO BNDES – Palocci disse ainda que nunca atuou em favor da empresa para que fosse facilitada a liberação de créditos no BNDES.
“Jamais fui ao BNDES buscar linha de crédito para qualquer empresa, não digo só a Odebrecht”.
A exceção, segundo o ex-ministro, só deu em casos de empresas que estavam ameaçadas de falência. “Aí, sim, discutíamos com as empresas e o BNDES a possibilidade de salvamento. Essa nunca foi a situação da Odebrecht”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Quem operava as transações no BNDES era diretamente Guido Mantega, que presidiu o banco, e depois dava as ordens a Demian Fiocca e Luciano Coutinho, seus substitutos no cargo. Durante a gestão de Carlos Lessa, o PT jamais se atreveu a interferir no BNDES. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Quem operava as transações no BNDES era diretamente Guido Mantega, que presidiu o banco, e depois dava as ordens a Demian Fiocca e Luciano Coutinho, seus substitutos no cargo. Durante a gestão de Carlos Lessa, o PT jamais se atreveu a interferir no BNDES. (C.N.)
20 de abril de 2017
Cleide Carvalho, Sérgio Roxo e Tiago Dantas
O Globo
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