Exatamente como acontece no roteiro do célebre filme de Elio Petri, em que as evidências de autoria do crime são desconsideradas nas investigações, por se tratar de um cidadão acima de qualquer suspeita, também no governo de Michel Temer existe um desprezo absoluto pelos ilícitos cometidos por ministros e parlamentares. Aliás, era exatamente isso que ocorria na Era do PT, quando os crimes cometidos por companheiros e aliados passaram a ser apelidados de “malfeitos” por Dilma Rousseff, que se comportava como se o simples fato de a pessoa ser petista já seria suficiente para eximi-la de qualquer culpa.
PRIMEIRO E ÚNICO – Na Esplanada dos Ministérios, proliferam cidadãos acima de qualquer suspeita, mas nenhum deles tem o perfil do petista Dyogo Oliveira, que desde o governo Lula integra a equipe econômica, foi mantido por Henrique Meirelles e acabou se tornando ministro do Planejamento do governo Temer, na estranha condição de interino/titular, desde a saída de Romero Jucá.
A trajetória de Dyogo Oliveira demonstra que o artista plástico americano Andy Warhol tinha razão quando previu que as pessoas ficariam famosas por 15 minutos. Da mesma forma, a memória da mídia também passou a existir apenas por 15 minutos, como se constatou esta semana, quando se noticiou que o ministro Diogo Oliveira está citado na delação da Odebrecht.
FOLHA CORRIDA – Mas qual foi a surpresa? Será que já esqueceram a folha corrida deste cidadão chamado Dyogo Henrique, servidor público de carreira? Ninguém lembra que desde 2015 ele é alvo da Operação Zelotes, que apura a compra de medidas provisórias nos governos Lula e Dilma. Não se recordam de que em outubro de 2015 o Ministério Público Federal pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal dele entre 2008 e 2015, e a solicitação foi autorizada pela Justiça Federal?
Dyogo Oliveira está envolvido na Zelotes porque era secretário-adjunto de Direito Econômico do Ministério da Fazenda em 2009 e 2011, quando foram aprovadas as MPs 471 e 512, sob encomenda para ampliar a validade dos incentivos fiscais à montadoras de veículos instaladas no Norte, Nordeste e Centro Oeste.
ERA O OPERADOR – Naquela época, Dyogo Oliveira era operador do ministro Guido Mantega, como interlocutor dos lobistas que cuidavam da compra de medidas provisórias, numa quadrilha integrada também pelo então ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que até merece comentários à parte.
Quando surgiu o escândalo da “consultoria” do cidadão Pimentel, que recebeu vultosos pagamentos de importantes clientes, como a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, sem prestar serviços, a então presidente Dilma Rousseff fez questão de mantê-lo no Ministério, sob a justificativa de que os “malfeitos” foram cometidos antes que assumisse o cargo no governo, vejam que desfaçatez.
O resultado foi catastrófico. Pimentel contratou a própria amante, Carolina Oliveira, para assessorar o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que a ele era subordinado, um vexame sexual explícito. Apaixonado, Pimentel acabou largando a família para se casar com Carolina, e os dois se meteram em tantas maracutaias que acabaram ganhando uma força-tarefa exclusiva da Polícia Federal para investigá-los – a Operação Acrônimo.
FOLHA CORRIDA – Na Operação Zelotes, Dyogo Oliveira aparece em anotações do lobista Alexandre Paes dos Santos, o APS, que registrava dados sobre a negociação das MPs. Num dos trechos, ele anotou “Diogo/José Ricardo”, seguido de “Secretaria de Política Econômica” e “SPE”. Num documento de 2011, também a Marcondes e Mautoni Empreendimentos, empresa que atuou na compra das MPs, registra uma reunião com Dyogo entre 28 e 31 de março.
Detalhe: os lobistas Mauro Marcondes e Alexandre Paes dos Santos foram presos e denunciados por envolvimento no esquema. Marcondes também é investigado pelo repasse de R$ 2,6 milhões a uma empresa de Luís Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula no mesmo período da edição de MPs de interesse do setor automotivo.
O esquema depois foi confirmado quando a Lava Jato encontrou um e-mail enviado a Marcelo Odebrecht por Maurício Ferro, diretor jurídico da empreiteira, confirmando que era Dyogo Oliveira quem conduzia as operações fraudulentas, que enfrentavam resistências do corpo técnico da Receita Federal. “Será importante você ter a reunião com GM (Guido Mantega) amanhã depois da PR (presidente Dilma Rousseff). Receita continua criando dificuldades e Dyogo precisará do apoio do ministro”, sugeriu o diretor Ferro a Marcelo Odebrecht.
FOI PROMOVIDO – Diante dessa folha corrida, Dilma se impressionou com os serviços prestados por Dyogo Oliveira e promoveu o companheiro ao estratégico cargo de secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Além disso, elevou a remuneração dele para mais de R$ 60 mil mensais, ao nomeá-lo integrante do Conselho de Administração do BNDES, com jeton de R$ 14.486,25 para participar de uma reunião mensal no Rio de Janeiro, com todas as despesas pagas. E este valor se somou aos R$ 30 mil do salário na Fazenda e aos R$ 15,9 mil que Oliveira recebia mensalmente do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) para não fazer absolutamente nada.
Agora, a imprensa e a opinião pública se surpreendem com mais uma citação de Dyogo Oliveira, feita por Carlos Fadigas, ex-presidente da Braskem, ao relatar que Marcelo Odebrecht recorreu a ele em agosto de 2013 para tratar da retirada de um tema que atrapalhava a aprovação de uma MP no Congresso e obteve sucesso. Fadigas entregou à Lava Jato os e-mails nos quais Marcelo relata a conversa com Dyogo Oliveira, que agora teve um ataque de amnésia e disse ao Globo não se lembrar da conversa, repetindo a mesma estratégia que usou ao depor aos federais na Zelotes – não sabe de nada, não lembra de nada.
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PS – Pensei que algum jornalista fosse escrever a respeito de Dyogo Oliveira, mas acho que também não se lembram de nada. Da mesma forma, já esqueceram como se procedeu a negociata de Lula e Silvio Santos para tirar o Panamericano da falência. E o pior é que também não lembram mais de onde saiu o dinheiro para salvar o banco do animador da TV. Mas eu me lembro. Se ninguém escrever a respeito, fá-lo-ei, como diria Michel Temer. (C.N.)
PS – Pensei que algum jornalista fosse escrever a respeito de Dyogo Oliveira, mas acho que também não se lembram de nada. Da mesma forma, já esqueceram como se procedeu a negociata de Lula e Silvio Santos para tirar o Panamericano da falência. E o pior é que também não lembram mais de onde saiu o dinheiro para salvar o banco do animador da TV. Mas eu me lembro. Se ninguém escrever a respeito, fá-lo-ei, como diria Michel Temer. (C.N.)
20 de abril de 2017
Carlos Newton
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