"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

MINISTRO ADMITE AFRONTA DE TEMER PARA RENAN NÃO BOICOTAR REFORMAS

PLANALTO PERMITE A INDICADO DE RENAN NÃO SE REPORTAR A MINISTRO
DESDE 2016, QUINTELLA LIDA COM PROBLEMAS CAUSADOS POR INDICADO DE RENAN PARA SECRETARIA DE PORTOS, MAS DECIDIU ATURAR READMISSÃO DE INVESTIGADO NA OPERAÇÃO (FOTO: EDIVALDO JÚNIOR)

Tratorado pela rebeldia do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o ministro dos Transportes, Maurício Quintella, não tomou como afronta o fato de o presidente da República, Michel Temer (PMDB), ter cedido às chantagens públicas feitas pelo líder do PMDB no Senado contra o governo. Mas Temer e Quintella ficaram irritados, por ter de admitir a nomeação do ex-senador paraense investigado na Operação Leviatã, Luiz Otávio Campos, para comandar a Secretaria de Portos.

Ao aturar a nomeação do ex-assessor que demitiu em janeiro para destravar a política portuária e evitar um escândalo no governo Temer, o ministro Maurício Quintella decidiu não alimentar a fogueira eleitoral que lhe opõe ao projeto de reeleição do enfraquecido ex-presidente do Senado, em Alagoas. E não está incomodado com o fato de o Planalto ter liberado o novo secretário dos Portos de se reportar a ele, hierarquicamente.

O motivo principal para Quintella receber com naturalidade o que se apresenta como uma desmoralização e desrespeito ao seu cargo é o fato de que teria sido convencido com antecedência, por Michel Temer, de que o governo cederia à chantagem para superar dificuldades de cumprir a promessa central de seu governo, que é aprovar as reformas.

“O presidente Temer ficou extremamente incomodado com essa indicação. Ele passa por um momento delicado, precisa aprovar as reformas. E não se aprova reformas sem o Congresso, muito menos sem o PMDB do Senado, que é majoritário, lá. Por mais que o Renan esteja enfraquecido, ele ainda tem sua fatia. E o placar da matéria deve ser apertado. A reforma é o cerne do governo. Se a reforma da previdência não passar, a situação vai ficar gravíssima na economia”, disse uma fonte do Planalto ao Diário do Poder.

NÃO BASTA ARROGÂNCIA

LUIZ OTAVIO CAMPOS É EX-SENADOR (DIÓGENIS SANTOS/AGÊNCIA CÂMARA)

O segundo motivo da complacência do ministro dos Transportes com a nomeação imposta pela rebelião inflamada pelo senador alagoano é o fato de o indicado de Renan e do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) estar blindado pela equipe técnica e jurídica, formada pelo ministro alagoano. Além disso, a Secretaria de Portos atua fazendo juízo de admissibilidade ou não de investimentos, a exemplo de dragagem de portos; depois, submete à Antaq [Agência Nacional de Transportes Aquaviários] e a palavra final é sempre do ministro.

“Podem ter interesse em tudo, mas não realizam nada sozinhos. E o ministro não depende do indicado do Renan e Jader para absolutamente nada. Quem define a política portuária é o Ministério dos Transportes. E há uma assessoria que já foi preparada, em decorrência desse problema com a indicação, que se estende desde o ano passado. Não é uma boa indicação, mas o Ministério e o setor portuário são muito maiores que o secretário indicado e têm vida própria, com excelentes quadros e uma agência reguladora, que é um órgão de Estado. As políticas estão protegidas”, garantiu a fonte do Planalto ouvida pelo Diário do Poder.

Quintella já havia combatido as deficiências técnicas e a arrogância do afilhado de Jader e Renan, ao obter a exoneração de Luiz Otávio Campos, em 5 de janeiro deste ano, antes mesmo de este ter sido um dos alvos da investigação da Operação Leviatã, decorrente da Lava Jato.

As ações do ministério de Quintella em Alagoas já o habilitam a disputar o Senado, contra a reeleição de Renan. Mas o deputado federal licenciado tem dito que é pré-candidato a reeleição, pelo PR, para uma das vagas da bancada alagoana na Câmara dos Deputados.

HISTÓRICO DO PROBLEMA

OBRA DE DRAGAGEM NO PORTO DE SANTOS (REPRODUÇÃO: FNP)

No fim de junho de 2016, mês seguinte à sua posse no Ministério dos Transportes, Quintella nomeou Luiz Otávio Campos como seu assessor especial, mesmo sem conhecê-lo, enquanto não era publicado o decreto que remanejaria os cargos da Secretaria de Portos da Presidência para o Ministério dos Transportes – viabilizado somente em março passado.

Logo apareceram reclamações do setor portuário e atritos internos, decorrentes da tramitação de processos “quadrados”, que não avançavam por falhas. E, para evitar que o indicado de Renan e Jader causasse ainda mais problemas, sendo confundido como seu assessor, Quintella expôs seu incômodo ao presidente Temer, por não ter como tocar o setor com a permanência da indicação.

Após Quintella convencer Temer a avaliar outra indicação, que seria repassada a outro grupo do Senado, Renan e Jader reagiram e não aceitaram perder a indicação, insistindo no nome de Luiz Otávio.

Como o presidente Temer já havia concordado que o nome de Luiz Otávio era insustentável, o ministro pediu e a Casa Civil exonerou o afilhado de Renan e Jader, em 5 de janeiro deste ano. E evitou que mais um escândalo caísse no colo do governo, com a deflagração da Leviatã, em fevereiro.

Mesmo com o clima pesadíssimo após a exoneração, Quintella procurou Renan, Jader e até o ministro da Integração, Helder Barbalho – primeiro a empregar o ex-ministro Luiz Otávio no governo. O ministro expôs a dificuldade e pediu que avaliassem outra indicação. Mas todos fizeram ouvido de mercador e a pressão se agravou.

“O ministro explicou as motivações por ter exonerado o ex-senador Luiz Otávio, porque ele não estava tocando o setor e havia uma reclamação grande sobre a forma como ele atuava. A resposta foi de que iriam verificar, mas, depois impuseram o cara e pronto”, concluiu a fonte do Planalto.



20 de abril de 2017
diário do poder

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