"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

SOBRE O RAIVOSO TEXTO DE REINALDO AZEVEDO

Evo Morales dá ao Papa Francisco uma réplica do "crucifixo" de Luis Espinal

Republico o artigo, intitulado “Bergoglio, o dito papa Francisco, não me representa! Ou: O sangue de Cristo e de 150 milhões de vítimas do comunismo”, escrito por Reinaldo Azevedo e publicado em 10 de julho de 2015, o farei de forma seccionada para expressar, sendo o caso, minhas objeções e o contraditório.

Em anexo o link do texto:http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/bergoglio-o-dito-papa-francisco-nao-me-representa-ou-o-sangue-de-cristo-e-de-150-milhoes-de-vitimas-do-comunismo/
Sou católico, mas o papa Francisco não me representa. Sei que, em certa medida, a afirmação soa absurda, mas vou fazer o quê? Eu poderia fazer uma graça e dizer que, existindo, como existe, um papa emérito, Bento XVI, tenho a chance de escolher. 
Mas, evidentemente, isso não contenta. O chefe da Igreja Católica, infelizmente, é o argentino Jorge Bergoglio. Quem recorrer ao arquivo poderá constatar que ele nunca me encantou.

Nesta primeira afirmação, Reinaldo escreve o que (ele) não pode ser. Para ser católico é preciso submeter-se ao princípio da “infalibilidade papal”, isto é acatar sem reservas a autoridade daquele que, no colégio cardinalício, foi purgado pelos seus pares – os cardeais. 
Ao afirmar, “ele nunca me encantou”, Reinaldo expressa o argumento pra não admitir em Bergóglio a autoridade de sumo pontífice da Igreja, logo não deveria "estar" na Igreja Católica. 
Mas neste aspecto, Reinaldo é “hours concours”, sua inadmissibilidade da vontade expressa pela maioria, que é a condição óbvia de um democrata. Reinaldo tem sido ardoroso defensor da interrupção do mandado do atual governo do Brasil amparado em suspeitas ou indícios não comprovados de ilicitude. 

Evo Morales, o protoditador da Bolívia, presenteou o sumo pontífice com uma monstruosidade herética: a foice e o martelo do comunismo, onde estava o Deus crucificado. Bergoglio fez um muxoxo protocolar, mas sujou as mãos no sangue de 150 milhões de pessoas. Ao fazê-lo, (re) rencruou as chagas de Cristo e se alinhou, lamento ter de dizer isto, com aqueles que O crucificaram.

Neste parágrafo destila toda a sua raiva contra os regimes que perseguiram minorias, que perseguiram religiosos, que sufocaram e eliminaram o contraditório, o que era de se esperar de alguém que abomina o autoritarismo (será que abomina mesmo?). 
Quanto ao crucifixo, que causou tanto embasbacamento, trata-se de uma obra concebida pelo Padre espanhol Luis Espinal Camps, morto pelos paramilitares de direita na Bolívia em 1980. 
Luis Espinal era um jesuíta, a mesma ordem do Papa. Curiosamente Francisco já havia rendido homenagem ao padre assim que desembarcara em La Paz. A escultura original (Evo deu ao Papa uma réplica) encontra-se na sede da Companhia de Jesus, em La Paz.

E o mais importante, o padre/artista/militante, ou seja lá o que for, entalhou a foice e o martelo não pra aludir ao comunismo, mas o seu desejo pela concórdia entre os bolivianos que, naquela época, eram reféns do arbítrio militarista. 
Espinal foi sequestrado e morto em março de 1980 quando saia do cinema. Seu corpo continha marcas de violência e de disparos. Morreu nas mãos daqueles que atentavam contra os direitos humanos e contra a democracia.



Padre Luis Espinal 1932 - 1980

Mas é claro que Reinaldo não daria estas informações, do contrário não criaria um factoide que possibilitasse expressar sua birra ou o seu descontentamento contra Francisco, pelo simples fato de Francisco "não o representar". 
Quando deparamos com alguém que vocifera contra o ditatorialismo, fica uma impressão de que este alguém é democrata, mas nos argumentos e na ocultação de informações Reinaldo está, prezado eleitor, sendo democrático? Tem ele reserva moral pra concluir que Morales, Correa, Kirchner e Maduro são “protoditadores”?
“Ah, o papa não tem nada com isso! Não tinha como saber o que faria aquele picareta!” 
Ah, não cola! A Igreja Católica de Roma está banida da China, por exemplo. Ficou na clandestinidade na União Soviética e nos países da Cortina de Ferro. Inexiste na Coreia do Norte e enfrenta sérias dificuldades em Cuba. Um delinquente político e intelectual como Morales não pode ofender moralmente mais de um bilhão de católicos com aquela expressão demoníaca. O papa que recusasse a ofensa. Mas ele não recusou. E foi além. 

Em Santa Cruz de la Sierra, nesta quinta, Bergoglio fez um discurso que poderia rivalizar com o de Kim Jong-un, aquele gordinho tarado que tiraniza a Coreia do Norte. Atacou o capitalismo, um “sistema que impôs a lógica dos lucros a qualquer custo, sem pensar na exclusão social ou na destruição da natureza”, segundo ele. E foi além: “Digamos sem medo: queremos uma mudança real, uma mudança de estruturas. 
Este sistema já não se aguenta, os camponeses, trabalhadores, as comunidades e os povos tampouco o aguentam. Tampouco o aguenta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia são Francisco”.

Após "atirar" na direção dos países “prisioneiros do arbítrio esquerdista”, Reinaldo não resiste e dispara "Morales é delinquente político e intelectual”, neste caso falta ao articulista conhecimento de causa, de qualquer modo não é intenção, pelo menos neste texto, escrever a respeito do que se passa em Bolívia e no Equador. 
Apenas um lembrança, Evo e Rafael, respectivamente, são governos eleitos e reeleitos pelas maiorias respectivas e estão mudando a situação destes países. 
A visita do Papa a meu ver é um reconhecimento dos avanços políticos, sociais e econômicos na Bolívia e no Equador.

Critica o papa por ele ter dito verdades sobre o sistema capitalista, dando mais uma mostra de que é um defensor do sistema capitalista de maneira incondicional. O que novamente me leva a duvidar da capacidade do articulista. 

Por uma razão muito elementar: a defesa incondicional de qualquer coisa parece-me estranha ou pouco familiar ao bom intelectual. Por isso pareceu-me crível que Reinaldo escrevesse em seguida: “esse papa, com formação teológica de cura de aldeia, não tem competência teórica e vivência prática para cuidar desse assunto”. 
Frise-se “formação teológica de cura de aldeia”, é isso mesmo leitores, os "aldeões" não são inteligentes e não são cultos para o articulista, que se autoproclama intelectual e democrático. Ademais, Reinaldo conspira contra princípios básicos da antropologia.

É de embrulhar 
o estômago. Em primeiro lugar, esse papa, com formação teológica de cura de aldeia, não tem competência teórica e vivência prática para cuidar desse assunto. 
Em segundo lugar, os movimentos que hoje lutam pela preservação do planeta são exclusivos de regimes democráticos, onde vige o capitalismo. 
Ou este senhor poderia fazer essa pregação na China, por exemplo, onde o capitalismo de estado é gerido pelo Partido Comunista?

Pior: o papa está numa jornada que inclui o Equador e a Bolívia, duas protoditaduras que, na pegada da Venezuela, instrumentalizam o discurso anticapitalista para dar força a milícias que violam direitos individuais e que não reconhecem a propriedade privada como motor do desenvolvimento.

É óbvio que os defensores de um sistema alternativo colocar-se-iam contra os fundamentos do sistema capitalista: a propriedade privada e o lucro, pois mesmo sendo "motores do desenvolvimento" causam espoliação e exclusão. Esta é a razão pela qual estes mesmos defendem um novo sistema com novas bases e com crescimento que importa e atenda à todos e não a uma minoria.

Não tiro a razão do articulista quando se posiciona contra os regimes políticos que foram instalados (alguns ainda subsistem) em nome deste "igualitarismo", contudo é preciso considerar que estes regimes não me representam também, nem a mim e tampouco a Francisco.

Mas as recorrentes generalizações são próprias do "intelectual", Reinaldo, com um agravante: não altera o trajeto da investigação pelo simples fato de ver a hipótese como a "verdade" que deve ser a qualquer custo reafirmada. É um pseudo intelectual que parece não ter conserto.
Evocando um igualitarismo pedestre, disse Sua, não mais minha, Santidade: “A distribuição justa dos frutos da terra e do trabalho humano é dever moral. Para os cristãos, um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres o que lhes pertence”. 
A fala agride a lógica por princípio. Se o tal “que” pertencesse aos pobres, pobres não seriam. A fala repercute a noção essencialmente criminosa de que toda a propriedade é um roubo. Como esquecer que essa concepção de mundo de que fala o papa já governou quase a metade do mundo e produziu atraso, miséria e morte?

“Noção essencialmente criminosa” Nesta passagem o articulista não hesita em afirmar que aqueles que lutam contra os fundamentos de um sistema por natureza excludente são “criminosos”. 
Esquece o articulista que a tese da igualdade não é simplesmente um brado marxista, mas uma reação previsível de quem pouco ou nada tem, e estes são bilhões de seres humanos espalhados pelo mundo. Bilhões de seres humanos que tem sido ignorados convenientemente por quem defende "incondicionalmente" o sistema vigente.

Para o articulista ser "criminoso" é atentar contra a propriedade privada, ora se ele crê que está defendendo algo moralmente aceitável, porque não reconhecer que o contraditório é igualmente aceitável? Mas é simples compreender o que está por traz desta postura: Tudo pode e deve ser feito pra impedir o avanço dos “criminosos” que ,sendo contrários à propriedade privada, almejam comunizá-la. 
Ao longo da História não faltam personalidades que se valeram deste argumento para justificarem seus arbítrios, a saber: os absolutismo-monárquicos na Época Moderna, os fascismos há quase 100 anos e as ditaduras militares em nossa região incluindo, frise-se as ditaduras militares na Bolívia e no Equador contra as quais lutaram Evo e Rafael, respectivamente.

Eu já tinha tido cá alguns engulhos quando, recentemente, o cardeal argentino resolveu se meter a falar sobre a preservação da natureza, com uma linguagem e uma abordagem que lembravam o movimento hippie da década de 60. 
Ele voltou ao ponto: “Não se pode permitir que certos interesses — globais, mas não universais — submetam Estados e organismos internacionais e continuem destruindo a Criação”.

Como? O homem destruindo a Criação? O catolicismo de Francisco, na hipótese benevolente, se esgota numa leitura pobre do Gênesis. Na não benevolente, é apenas uma expressão do trogloditismo de patetas terceiro-mundistas como Rafael Correa, Evo Morales, Nicolás Maduro e Cristina Kirchner.

O próximo papa, por favor!
Por Reinaldo Azevedo
O fechamento de seu artigo não poderia ser outro, deixo aos leitores de boa índole a possibilidade de concluírem, tendo como base o texto acima, sobre esta afirmação. A mim não resta outro desejo senão reiterar vida longa ao pontificado de Francisco.


15 de setembro de 2016
Cires Pereira
postado por m.americo

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