Há sinais, mas eles são sutis. É preciso usar a lupa e olhar os números. Juntos, eles revelam uma luz fraca ao longe. É a saída do difícil túnel desta crise econômica. Estamos vivendo uma grande recessão em formato de “U”, na qual o país cai, estabiliza no fundo e aos poucos começa a se recuperar. Seria melhor se o movimento do PIB desenhasse a letra “V”, em que cai, bate e volta.
Mas, olhando com a lupa, dá para ver algumas boas novas. Nas consultas feitas em abril aos analistas do mercado financeiro pelo Banco Central, sobre o PIB do ano que vem, a mediana foi que o país cresceria 0,2%. Agora, quatro meses depois, a previsão é de que o país crescerá 1,1%. É só previsão, pode mudar, mas antes nem isso o país tinha.
A confiança do empresário do comércio estava em 77 pontos em novembro do ano passado e agora está em 87 pontos. A intenção de consumo das famílias, calculada pela Confederação Nacional do Comércio, despencou desde 2014, quando a recessão começou. Foi de 132 para 68 pontos. Mas nas duas últimas coletas parou de cair. Se compararmos o índice de vendas do varejo nos meses de junho, houve queda em 2014 de 1,1%, queda em 2015 de 0,7%. E agora ficou em 0,1% positivo. Não é nada, é zero, mas não é negativo. A indústria caiu durante anos e há quatro meses os números de produção são de alta em comparação com o mês anterior.
É assim, ponto a ponto, que vamos colhendo os sinais de melhora. No mercado financeiro, as mudanças nos números são mais rápidas e fortes porque antecipam o que pode vir a acontecer. Acham que haverá recuperação econômica, reversão de ciclo, saindo de recessão para crescimento, e por isso o dólar caiu 25% desde o ponto mais alto em janeiro. O Ibovespa teve uma alta espetacular de 54% desde o pior momento, em janeiro. Saiu de 37 mil para 58 mil pontos. A expectativa que anima a bolsa é a de que o pior tenha passado.
A inflação cai gota a gota. Mais devagar do que era de se supor. Dias atrás mesmo o IBGE divulgou o IPCA de julho que mostrou alta em relação ao mês anterior. Mas uma quedinha de nada na comparação em 12 meses. Era de 8,84% e foi para 8,74%.
Há explicações pontuais: a inflação ficou alta em julho porque os preços dos alimentos estão de amargar. A grande questão é por que o Brasil é assim. Por que neste país, que está há três anos em recessão, com uma taxa de juros de 14,25% — uma enormidade para uma economia caída — a inflação resiste tanto?
O país que venceu a hiperinflação em batalha árdua precisa voltar a se esforçar para desmontar os mecanismos de indexação e de alta de gasto público para ter taxas de inflação compatíveis com as do mundo. Ainda somos estranhos. Matamos o monstro da hiperinflação e resta matar o monstrinho da inflação alta resistente. Pelo menos, as expectativas são de que a taxa continuará caindo. Em abril, perguntados pelo Banco Central sobre a previsão de inflação para 2017, os economistas do mercado apostavam em 6%. Agora, estão em 5,1%. E para provar que eles acreditam que no longo prazo estaremos todos salvos, para 2018 a previsão é de que o índice ficará cravado no centro da meta. Os preços do atacado de alimentos começou a cair, o que deve aparecer no IGP-10, que pode ter deflação. O problema não é como reverter um problema pontual, mas como ter uma economia que reaja como todas as outras em que, se os juros são altos, a inflação cede.
Esta é a mais complexa das crises que tivemos nas últimas décadas porque aliou a derrota da economia com a aflição na política. Por isso, qualquer previsão que use apenas a lógica econômica será falha, porque da política continuará vindo incerteza.
Hoje o país precisa juntar vários números para construir alguma certeza de que o PIB está caindo menos e começará a se recuperar. Quando encerrarmos este ciclo recessivo, teremos aprendido muito do que não fazer. Governantes terão medo de deixar a inflação subir a dois dígitos. O caminho do descontrole dos gastos, da leniência com a inflação, da repressão dos preços e posterior tarifaço derrubou a economia como se fosse um ippon. E dessa queda a economia começa a dar os primeiros sinais de se levantar.
16 de agosto de 2016
Miriam Leitão, O Globo
Mas, olhando com a lupa, dá para ver algumas boas novas. Nas consultas feitas em abril aos analistas do mercado financeiro pelo Banco Central, sobre o PIB do ano que vem, a mediana foi que o país cresceria 0,2%. Agora, quatro meses depois, a previsão é de que o país crescerá 1,1%. É só previsão, pode mudar, mas antes nem isso o país tinha.
A confiança do empresário do comércio estava em 77 pontos em novembro do ano passado e agora está em 87 pontos. A intenção de consumo das famílias, calculada pela Confederação Nacional do Comércio, despencou desde 2014, quando a recessão começou. Foi de 132 para 68 pontos. Mas nas duas últimas coletas parou de cair. Se compararmos o índice de vendas do varejo nos meses de junho, houve queda em 2014 de 1,1%, queda em 2015 de 0,7%. E agora ficou em 0,1% positivo. Não é nada, é zero, mas não é negativo. A indústria caiu durante anos e há quatro meses os números de produção são de alta em comparação com o mês anterior.
É assim, ponto a ponto, que vamos colhendo os sinais de melhora. No mercado financeiro, as mudanças nos números são mais rápidas e fortes porque antecipam o que pode vir a acontecer. Acham que haverá recuperação econômica, reversão de ciclo, saindo de recessão para crescimento, e por isso o dólar caiu 25% desde o ponto mais alto em janeiro. O Ibovespa teve uma alta espetacular de 54% desde o pior momento, em janeiro. Saiu de 37 mil para 58 mil pontos. A expectativa que anima a bolsa é a de que o pior tenha passado.
A inflação cai gota a gota. Mais devagar do que era de se supor. Dias atrás mesmo o IBGE divulgou o IPCA de julho que mostrou alta em relação ao mês anterior. Mas uma quedinha de nada na comparação em 12 meses. Era de 8,84% e foi para 8,74%.
Há explicações pontuais: a inflação ficou alta em julho porque os preços dos alimentos estão de amargar. A grande questão é por que o Brasil é assim. Por que neste país, que está há três anos em recessão, com uma taxa de juros de 14,25% — uma enormidade para uma economia caída — a inflação resiste tanto?
O país que venceu a hiperinflação em batalha árdua precisa voltar a se esforçar para desmontar os mecanismos de indexação e de alta de gasto público para ter taxas de inflação compatíveis com as do mundo. Ainda somos estranhos. Matamos o monstro da hiperinflação e resta matar o monstrinho da inflação alta resistente. Pelo menos, as expectativas são de que a taxa continuará caindo. Em abril, perguntados pelo Banco Central sobre a previsão de inflação para 2017, os economistas do mercado apostavam em 6%. Agora, estão em 5,1%. E para provar que eles acreditam que no longo prazo estaremos todos salvos, para 2018 a previsão é de que o índice ficará cravado no centro da meta. Os preços do atacado de alimentos começou a cair, o que deve aparecer no IGP-10, que pode ter deflação. O problema não é como reverter um problema pontual, mas como ter uma economia que reaja como todas as outras em que, se os juros são altos, a inflação cede.
Esta é a mais complexa das crises que tivemos nas últimas décadas porque aliou a derrota da economia com a aflição na política. Por isso, qualquer previsão que use apenas a lógica econômica será falha, porque da política continuará vindo incerteza.
Hoje o país precisa juntar vários números para construir alguma certeza de que o PIB está caindo menos e começará a se recuperar. Quando encerrarmos este ciclo recessivo, teremos aprendido muito do que não fazer. Governantes terão medo de deixar a inflação subir a dois dígitos. O caminho do descontrole dos gastos, da leniência com a inflação, da repressão dos preços e posterior tarifaço derrubou a economia como se fosse um ippon. E dessa queda a economia começa a dar os primeiros sinais de se levantar.
16 de agosto de 2016
Miriam Leitão, O Globo
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