Em março, foi aquela saraivada de vulgaridades. "Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos o Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado (...)", disparou Lula com sua voz inconfundível, entre queixoso e furibundo, gravado (com autorização da Justiça!) pela
Polícia Federal.
Em maio, ouviram-se ecos dos subterrâneos da República. "Conversei ontem com alguns ministros do Supremo", disse Romero Jucá em gravação feita por Sérgio Machado (ex-dirigente da Transpetro). Em sua fala, com ares de conspiração, Jucá insinuava ter bom trânsito com membros do STF e uma possibilidade de acordo para barrar a Lava-Jato. Até aí, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, permaneceu quieto: não reagiu.
Ah, mas paciência tem limite! Em junho veio o intolerável ultraje: a rapaziada do grupo Nas Ruas (que vive alfinetando o lulo-petismo e associados) levou para a avenida Paulista, em frente ao Masp, dois bonecos em alusão ao presidente do STF e ao procurador-geral da República: Lewandowski aparecia de terno, gravata vermelha, estrela vermelha com a sigla PT no peito, e foi chamado de Petralovski; Rodrigo Janot, cuja figura era exibida como um arquivo, também tinha gravata e estrelas vermelhas, e ainda a grafia Petralhas, e foi apelidado de Enganô.
Chegou o mês de julho. Jornais registraram a reação: o Supremo Tribunal Federal (leia-se Ricardo Lewandowski) pediu à Polícia Federal que abrisse investigação para apurar os responsáveis pela manifestação na Paulista. Oficio assinado pelo secretário de Segurança do STF, Murilo Herz, afirma que os dois bonecos da família Pixuleko representam uma "grave ameaça à ordem pública e inaceitável atentado à credibilidade [do Judiciário]", ultrapassando a liberdade de expressão. O STF pede expressamente que seja investigado se o ato caracterizou crime de difamação - punível com detenção, de três meses a um ano, e multa. O esmerado ofício de Murilo Herz vai à minúcia de anotar que "foi identificada, como suposta líder da manifestação, Carla Zambelli Salgado".
Tudo bem. É papel do Presidente da Suprema Corte zelar pela imagem da instituição. Agora, é estranho o paradoxo: tratar com leniência Lula e Jucá, e com extremo rigor a irreverência dos rapazes da Paulista. Será que o tiro não vai sair pela culatra?
Entrevistada pela Folha de S. Paulo, Carla Zambelli Salgado disse com muita propriedade: "Os bonecos são charges em terceira dimensão e o Supremo deveria tomar isso como uma crítica construtiva".
Aqui, uma citação paralela: chargistas ridicularizavam Dom Pedro II - com o ardil de "sem dizer, dizendo" próprio das charges -, indo ao extremo de pôr-lhe o apelido de Pedro Banana. Como reagia o imperador? Respondia simplesmente "Os ataques ao imperador não devem ser considerados pessoais, mas apenas manejo ou desabafo partidário." Ora, Dom Pedro II tinha talhe de estadista! Era medular defensor da liberdade de imprensa! Jamais (jamais!) cogitou punir alguém pelo escracho.
O Dr. Lewandowski precisará meditar um pouco antes de agir. Ora, de um membro da Suprema Corte é exigível uma postura de estadista. A persecução penal que ele propõe, alvejando os autores da "charge em terceira dimensão", faz que ele pareça menos um estadista e mais um aliado do lulo-petismo. Aparência! Mas é a imagem do Judiciário.
06 de agosto de 2016
Renato Sant'Ana é Psicólogo e Bacharel em Direito.
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