Pressionada pelos milhões de pessoas que ocuparam as ruas no último domingo e pelo teor explosivo das revelações feitas pelo senador Delcidio Amaral, a presidente Dilma Rousseff não resistiu. Sabendo que não teria mais força política para evitar sozinha o processo de impeachment, apelou para o padrinho. Nomeou Luiz Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil e, na prática, lhe entregou o comando do governo.
A estratégia é uma só: sem saber o que fazer para consertar a confusão econômica e política em que seu governo se meteu, Dilma apelou para a última cartada possível. Usa o resto de popularidade que Lula ainda possui para injetar algum sopro de vida na sua administração.
O problema é que o atual estágio da crise não garante que o movimento desesperado funcione. Para Lula, a manobra é reconfortante. Passa a ficar protegido de ser preso por ordem do juiz Sergio Moro, já que terá foro privilegiado por ser ministro. Ou seja, apenas o Supremo Tribunal Federal poderá investigá-lo. De quebra, ganha o que sempre quis, antes mesmo de Dilma se reeleger: passe livre para iniciar seu terceiro mandato presidencial. Dessa vez, sem o voto das urnas, mas com a liberdade de atuação de um bombeiro que tenta apagar um mega incêndio que já lambe toda a casa.
NÃO TINHA ALTERNATIVA
Não é que essa estratégia seja arriscada. Foi a que restou aos petistas, enfraquecidos no poder, como as ruas mostraram no domingo , e fragilizados pelo mar de escândalos que envolve o mundo político.
Lula tem a chance de fazer algum movimento mirabolante que tire o governo do cadafalso. Mas as investigações feitas a seu respeito lhe tiraram boa parte da força política que tinha. Lula precisará inventar novas mágicas para salvar um governo que está desmoronando em praça pública. Quanto a Dilma, o dia 16 de março será marcado como a data em que abdicou do mandato presidencial em favor de seu criador.
16 de março de 2016
Marcelo de MoraesEstadão
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