A revelação de que o governo Dilma Rousseff tentou comprar o silêncio de Delcídio do Amaral (PT-MS), segundo a descrição do acordo de delação premiada do senador, implodiu o roteiro previsto pelo Planalto para tentar salvar o mandato da presidente e o projeto de poder do PT. Segundo o planejado, Dilma abdicaria na prática da Presidência em favor de um Luiz Inácio Lula da Silva investido da condição de superministro. O acordo estava praticamente pronto para ser fechado nesta terça-feira (15).
Lula buscaria remendar as pontes políticas com o PMDB e, por extensão, com a miríade de partidos médios que também seguem o cheiro de sangue em Brasília.
Na outra ponta, o petista comandaria ou diretamente ou por meio de um novo ministro da Fazenda uma inflexão na política econômica – que, de resto, mais assusta do que anima os mercados devido às tentações populistas e perdulárias típicas do petismo em crise.
EFEITO MERCADANTE
O governo está paralisado pela gravidade da acusação de que o ministro Aloizio Mercadante teria ofertado dinheiro para Delcídio moderar o tom de sua delação. Mercadante não é só o ministro da Educação, é um homem de confiança de Dilma e do PT, ainda que tenha um histórico turbulento na relação com ambos.
Como sempre, é preciso que tudo isso seja exposto ao contraditório e apurado antes de serem feitos juízos. Mas o impacto político é enorme, não menos porque Delcídio não é um líder obscuro de um partido lateral, mas ex-integrante do coração do grupo que está no poder.
Restará agora ao Planalto dobrar a aposta e insistir no plano Lula ou desistir. Em ambos os casos, contudo, estará à mercê da velocidade aterradora dos acontecimentos.
OUTROS FATOS GRAVES
O restante da delação de Delcídio apresenta diversos fatos graves, a maioria já adiantada por seu vazamento há pouco mais de uma semana. Logo, já estavam algo “precificados”, à espera da etapa de comprovações.
Dilma e Lula ficam muito mal, assim como diversas figuras de ponta da política. As citações ao vice-presidente Michel Temer (PMDB), herdeiro constitucional de uma queda de Dilma, e ao presidenciável tucano Aécio Neves, contudo, são menos contundentes pelo que transparece do acordo.
O mesmo não se pode dizer de figuras como Renan Calheiros (PMDB-AL) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que comandam a máquina do impeachment como presidentes do Senado e da Câmara, respectivamente.
Além da decisão em si do Planalto, a questão central para o futuro imediato do governo é o grau de comprometimento do PMDB com a solução a ser adotada. E, como tudo no país desde 2014, a velocidade da Lava Jato em comprovar seus achados.
16 de março de 2016
Igor GielowFolha
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