O presidente do Senado, Renan Calheiros, afirmou nesta terça que o país vive “tempos sombrios”. O tema do discurso não era a crise econômica ou a corrupção na Petrobras. Ele protestava contra a operação da Polícia Federal que apreendeu uma Ferrari, um Porsche e uma Lamborghini na casa de seu amigo Fernando Collor.
Depois de uma manhã agitada, o Senado viveu uma tarde de ataques à Lava Jato. Jader Barbalho, preso e algemado pela PF em 2002, vociferou de dedo em riste contra a polícia e o juiz Sergio Moro. “Não será um juiz que vai dizer a mim, que sou formado em direito, bacharel de província, que sei o que é prisão preventiva, o que é delação premiada e o que é violência judicial”, afirmou.
Renan, que também é investigado sob suspeita de receber propina do petrolão, chamou a ação policial de “invasão” e “violência contra as garantias constitucionais”. “Os brasileiros e brasileiras sabem exatamente o custo da democracia no nosso país”, disse, como se os inquéritos contra políticos ameaçassem as liberdades individuais dos eleitores.
Acusado pelo empreiteiro Ricardo Pessoa de receber R$ 20 milhões do esquema na Petrobras, Collor voltou a atacar o procurador Rodrigo Janot. Da tribuna, falou em “clima de terror e perseguição” e em “ditadura do Ministério Público”, embora todas as medidas da operação tenham que ser autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Ao comentar as buscas na Casa da Dinda, o ex-presidente se disse “submetido a um atroz constrangimento”. Também se queixou de “extremo desgaste emocional, mental e físico”. “Pessoal e familiarmente, fui humilhado. Depois de tudo por que passei na minha vida, tive que enfrentar uma situação jamais por mim experimentada”, afirmou.
Renan e Collor estão certos: os tempos mudaram no Brasil. Se as pressões políticas não pararem a Lava Jato, a apreensão de carros de luxo terá sido apenas o começo.
16 de julho de 2015
Bernardo Mello Franco
Folha
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