As eminências pardas |
Não venham com anúncios de rompimento, que na verdade são convites para conversas. É isso que está ocorrendo. É jogo de cena. É puro teatro. Está começando a acontecer o previsível. As quadrilhas estão se unindo, buscando pontos de confluência, equilibrando as chantagens de lado a lado. Avaliando as retaliações. O PMDB e o governo petista estão voltando a conversar para transformar a Operação Lava Jato numa grande pizza. Por mais que os tribunais trabalhem, o Congresso Nacional pode julgar e não condenar, comandado pela troika Temer, Cunha e Renan. Aliás, como sempre. Aliás, ao que parece, chegaram à conclusão que nenhum dos lados têm força para destruir o outro. Então a palavra mágica volta a ser aliança, loteamento do poder, novas oportunidades futuras de assalto aos cofres públicos. Sempre foi assim. A única esperança é o povo na rua. Mas não pra gritinhos e sussurros. Pra botar pra quebrar. A matéria abaixo é do Estadão.
O governo decidiu intensificar as conversas com os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dia depois de a Polícia Federal realizar buscas e apreensões de bens e documentos em casas de políticos da base aliada, como o senador Fernando Collor (PTB-AL), no âmbito da Operação Politeia.
No Palácio do Planalto é comum o comentário de que Cunha e Renan serão as próximas "vítimas" da Lava Jato, mas não há consenso sobre as consequências dessa ação. Embora ministros digam que, se isso ocorrer, a ala do PMDB pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff ficará fragilizada e sem munição para o ataque, não são poucos no governo que temem as retaliações.
"A lâmina de Eduardo Cunha aumenta conforme as circunstâncias", resumiu um auxiliar de Dilma ao Estado, sob a condição de anonimato. "Além disso, Renan já deu provas de que não está ouvindo nem o ex-presidente Lula." Apesar do discurso de que não temem investigações, tanto o presidente da Câmara como o do Senado ameaçam infernizar a vida de Dilma com CPIs e projetos que aumentam as despesas do governo, se forem denunciados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Até agora, o vice-presidente Michel Temer, articulador político do Planalto, e o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, são os interlocutores escalados para jogar água na fervura e vão propor uma trégua a Cunha e Renan. Os novos capítulos da crise ocuparam boa parte da conversa entre Dilma e Temer, na noite de ontem, no Palácio do Planalto.
Em depoimento à CPI da Petrobrás, ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, lançou mais uma vacina em defesa do governo. Disse que as decisões referentes à Operação Politeia partiram de Janot e do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, por envolverem políticos com foro privilegiado. "A Polícia Federal foi apenas executora", argumentou.
O Planalto avaliou que Cardozo mostrou segurança e "passou no teste" da Câmara. Na tentativa de pressionar o governo, a CPI convocou o titular da Justiça para falar sobre a Lava Jato e os vazamentos das investigações. Ministros avaliaram, porém, que o tiro da oposição "saiu pela culatra" porque Cardozo desmontou "intrigas", dando até mesmo detalhes de recente reunião entre ele, Dilma e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, na cidade de Porto, em Portugal, para tratar do aumento dos servidores do Judiciário.
"Quando vivemos uma fase em que os nervos estão à flor da pele, qualquer situação vira misteriosa. Mas eu garanto que não tratamos da Operação Lava Jato. Se fosse para tratar disso, a conversa seria com o ministro Teori", insistiu Cardozo ontem na CPI.
Agora, além da apreensão com o clima de turbulência no Congresso, o governo está preocupado com o impacto da nova etapa da Lava Jato sobre nomes influentes do PT. Motivo: informações reservadas indicam que, nos próximos dias, os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci também estarão na mira da Operação Politeia.
16 de julho de 2015
in coroneLeaks
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