"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

CHINA TEM APOSTAS ALTAS NO CONFLITO NO IÊMEN


Bombardeios sauditas estão arrasando o Iêmen

Pelo que se pode ver, é muito alto o nível de interesse de Pequim nos desenvolvimentos no Iêmen. Era de esperar, pode-se dizer, considerando que a China depende dos países do Golfo para metade de todas as suas importações de petróleo, além de manter amplo relacionamento com os países da região, que nunca parou de se expandir e aprofundar-se.
A iniciativa “Estrada e Cinturão” acrescentou ao quadro uma dimensão estratégica, uma vez que a Rota da Seda cruza o Mar Vermelho.

Na verdade, a China será muito fortemente pressionada para tomar partido numa disputa regional. Isso converte a China numa espécie de ‘fiel depositário’ do destino de todos, especialmente quando o Iêmen chegar ao Conselho de Segurança da ONU, o que é questão só de tempo.

A agência de notícias chinesa Xinhua noticiou a visita da delegação da Defesa do Paquistão à Arábia Saudita, citando o ministro da Defesa Khawaja Asif, que disse que o Paquistão “garantirá todos os recursos, no caso de qualquer ameaça” à Arábia Saudita, mas, ao mesmo tempo, o Paquistão também busca “um fim para os conflitos no mundo muçulmano”.
A matéria diz que o primeiro-ministro Nawaz Sharif “faria contato com líderes dos países amigos” (o que, presumivelmente, inclui o Irã.) A mesma matéria dá a impressão de que o Paquistão pisa em ovos sobre uma linha muito tênue entre a devoção aos seus benfeitores sauditas e o risco de assumir qualquer dos lados numa guerra sectária.

DESAPROVAÇÃO?
Interessante, a agência chinesa Xinhua publicou também comentários sobre o conflito no Iêmen com vestígios de desaprovação contra a intervenção militar dos sauditas, além de visível ceticismo quanto à eficácia de uma ofensiva por terra da aliança liderada pelos sauditas.

Mais significativamente, o papel do Irã é visto com muito clara compreensão e analisado sob uma luz positiva, e a China até antevê como possível que cresça o papel do Irã no mundo; a China, especificamente, prevê que aumentará o envolvimento entre EUA e Irã.

DETALHES INTERESSANTES
Analistas dizem que a ação dos sauditas em apoio ao governo do Iêmen é motivada pelo desejo de preservar o importante status dos sauditas na região. Ainda mais: como fonte importante de ajuda econômica para o Iêmen, Riad de modo algum poderia tolerar qualquer inclinação de Sanna na direção de Teerã.

Uma das razões pelas quais Arábia Saudita e países árabes não pouparam esforços contra os houthis foi a necessidade de deter o rápido avanço dos rebeldes na direção da Arábia Saudita, e para bloquear o estratégico estreito de Bab al-Mandab no Mar Vermelho, pelo qual passam milhares de navios todos os anos, disseram os analistas.

Segundo observadores, incursões terrestres serão muito difíceis e gerariam graves desafios para a coalizão (…) Geograficamente o Iêmen é terreno extremo, com montanhas altíssimas, cavernas e armadilhas de todo o tipo, extremamente difícil para a penetração de soldados por terra.

Irã espera sinceramente o fim dos ataques aéreos dos sauditas contra posições dos houthis, e que se chegue a uma solução política para a crise no Iêmen, apesar de o país estar sendo acusado por alguns vizinhos de intrometer-se no Iêmen, disseram alguns analistas.

O QUE QUER O IRÃ
O objetivo do Irã é ver um governo de coalizão constituído no Iêmen, com a população xiita iemenita devidamente representada.

Os analistas não veem o Irã buscando influência dominante sobre o Iêmen, país que depende muito fortemente de dinheiro externo, que não é item abundante em Teerã por causa das sanções. Além disso, há um mar a separar o Irã e o Iêmen, enquanto a Arábia Saudita, que tradicionalmente tem tido forte influência no Iêmen, está logo ali, do outro lado da fronteira norte.

Ainda além disso, o Irã não quer que a crise no Iêmen crie ainda mais problemas para os esforços iranianos para melhorar os laços com seus vizinhos. O presidente do Irã Hassan Rouhani prometeu melhorar os laços com países vizinhos, como uma das prioridades de seu governo. Zarif também visitou países do Golfo com os quais têm sido raros os contatos e trocas de alto nível, por causa das relações estremecidas.

Para o Irã, a crise iemenita é questão complicada. Mas, se bem conduzida, poderá gerar um efeito-demonstração para todo o mundo, e especialmente para os EUA, do papel essencial que o Irã pode ter na solução de questões regionais.

(artigo enviado por Sergio Caldieri, com tradução da Vila Vudu)


08 de abril de 2015
MK Bhadrakumar

Asia Times Online

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