Tem gente achando que amanhã acontecerá a última volta do ponteiro. Se em todo o território nacional milhões forem às ruas para manifestar seu repúdio a Dilma, ao governo, ao PT e aos políticos, como imaginar os próximos quatro anos? A rejeição se transformará em ebulição. O país ficará ingovernável, com a presidente confinada em seus palácios, os ministros impossibilitados de administrar os setores a eles destinados e o Congresso legislando para o vazio. A população terá passado o atestado de óbito nas instituições, tornando-se fatal a necessidade de profunda reforma de homens e de objetivos.
Claro, essa é uma visão catastrófica. Pode não ser nada disso, caso o governo e o Congresso se conscientizem da necessidade de anunciar e de promover mudanças fundamentais, antes que as ruas o façam. O diabo é que a presidente Dilma, os deputados e os senadores, ao menos até agora, julgam-se estar cumprindo suas obrigações. Ignoram a distância que separa o Brasil real do Brasil formal. Não se trata, apenas, de acabar com a corrupção e a impunidade, mas de alterar as estruturas econômicas, sociais e políticas que sustentam a nação. Essa era a proposta do PT, quando fundado. Deixou de ser.
A VONTADE DE TODOS
Milton Campos era governador de Minas e o governo ia mal. Falta de recursos, greves, transportes públicos em crise, enchentes paralisando rodovias. Um auxiliar entrou em seu gabinete levando exemplares dos jornais do dia, que o criticavam acerbamente. Sugeria processar os diretores e suspender a publicidade oficial. O velho professor de democracia rejeitou e sentenciou: “Esse meu governo anda tão mal que até eu tenho vontade de escrever contra ele…”
Quem sabe a presidente Dilma se inspire para reconhecer as deficiências de sua administração e interrompa as tentativas de maquiá-las. Aliás, por falar em Milton Campos, mais uma lição para Madame: os ferroviários estavam em greve, num dos principais entroncamentos do estado, e o comandante da Polícia Militar sugeriu enviar um trem cheio de soldados para preservar a ordem. Sabendo que a paralisação devia-se aos salários em atraso, o governador perguntou: “não seria melhor mandar um trem pagador?”
Vale o exemplo para a greve dos caminhoneiros. Não seria melhor cancelar o aumento do óleo diesel?
A CRISE DO OUTRO LADO DA RUA
Em sua defesa o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusou o governo de agir para transferir a crise “do outro lado da rua para cá”. Não é que ele tem razão?
14 de março de 2015
Carlos Chagas
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