BRASÍLIA - A coisa anda tão feia para o governo que a anemia das manifestações a seu favor da sexta-feira (13) foi motivo de alívio para o Planalto. Talvez tenha sido um bode na sala, mas o governo ventilava temer que os atos pudessem sair do controle chapa-branca e virar protestos duros contra o ajuste fiscal.
Como se viu, manifestantes a soldo cumpriram o ritual previsível de apoio acanhado ao governo, à tal reforma política e, enfim, ao que chamam de defesa da Petrobras.
O último item embute um dado fascinante de negação da realidade, visto que foram justamente a gestão e a corrupção ocorridas na era Lula/Dilma na megaestatal que a levaram para o buraco. Cereja do bolo, quando uma figura do naipe de João Pedro Stédile "abraça" um prédio qualquer, fica-se com a piada pronta.
Uma nota positiva foi a ausência de confrontos com os radicais de Facebook, grupelhos inexpressivos no real –aqui não se fala de black blocs, mas de boitatás que defendem a volta da ditadura e afins. Mais um respiro para o governo: não se viu gente de vermelho em batalhas campais.
Agora é ver o que ocorre neste domingo, quando a agenda das ruas não conta com organização militarizada do condomínio CUT/MST/MTST, mas aparenta ter a seu lado o enorme descontentamento popular com o governo e o WhatsApp.
A expectativa palaciana, ressaltando aqui o caráter de "hedge", é de algo concentrado em São Paulo. Se confirmada, já é um problema para Dilma: o motor do país reafirma o "espírito de 1932", de rejeição ao governo central, e deixa aberta uma agenda de novos protestos.
O panelaço do domingo passado, imprevisto apesar das teorias conspiratórias, sugere que algo de maior ressonância pode estar a caminho. Neste caso, a questão para o governo não é nem o grito por impeachment, extremo que poucos de fato desejam, mas sim o ainda maior enfraquecimento do Planalto.
14 de março de 2015
Igor Gielow, Folha de SP
Como se viu, manifestantes a soldo cumpriram o ritual previsível de apoio acanhado ao governo, à tal reforma política e, enfim, ao que chamam de defesa da Petrobras.
O último item embute um dado fascinante de negação da realidade, visto que foram justamente a gestão e a corrupção ocorridas na era Lula/Dilma na megaestatal que a levaram para o buraco. Cereja do bolo, quando uma figura do naipe de João Pedro Stédile "abraça" um prédio qualquer, fica-se com a piada pronta.
Uma nota positiva foi a ausência de confrontos com os radicais de Facebook, grupelhos inexpressivos no real –aqui não se fala de black blocs, mas de boitatás que defendem a volta da ditadura e afins. Mais um respiro para o governo: não se viu gente de vermelho em batalhas campais.
Agora é ver o que ocorre neste domingo, quando a agenda das ruas não conta com organização militarizada do condomínio CUT/MST/MTST, mas aparenta ter a seu lado o enorme descontentamento popular com o governo e o WhatsApp.
A expectativa palaciana, ressaltando aqui o caráter de "hedge", é de algo concentrado em São Paulo. Se confirmada, já é um problema para Dilma: o motor do país reafirma o "espírito de 1932", de rejeição ao governo central, e deixa aberta uma agenda de novos protestos.
O panelaço do domingo passado, imprevisto apesar das teorias conspiratórias, sugere que algo de maior ressonância pode estar a caminho. Neste caso, a questão para o governo não é nem o grito por impeachment, extremo que poucos de fato desejam, mas sim o ainda maior enfraquecimento do Planalto.
14 de março de 2015
Igor Gielow, Folha de SP
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