A retórica do comandante do Movimento dos Sem Terra (MST) João Pedro Stedile é muito mais eficaz que a ação de seu “exército”, convocado por Lula para ir às ruas contra os críticos do governo Dilma, que chamam de golpistas. Ele mesmo tratou de dar corda a esse viés militarista e conclamou seus liderados a “engraxarem as botas” por que a luta apenas começou.
Um vídeo espalhado pela internet mostra um discurso recente de Stedile na Venezuela, confraternizando com o companheiro Maduro, onde afirma que uma “elite de mierda” na América Latina está tramando contra os governos populares.
Pela demonstração de ontem, a luta começou mal para os movimentos sociais que atenderam ao chamamento de Lula, que declarara esperar muita gente nas ruas ontem. Por qualquer regra que se meça, não é possível dizer que as manifestações foram um sucesso, embora tenham se espalhado por vários Estados. Foram um reflexo do que constatam as pesquisas atuais: uma minoria de 7% apóia o governo Dilma.
Essa capilarização do movimento serviu até para evidenciar a fraqueza da organização, pois em algumas cidades poucas dezenas de manifestantes se dispuseram a sair às ruas num protesto ambíguo, que defendia a presidente Dilma, mas criticava sua política econômica.
Uma está umbilicalmente ligada à outra, e não é possível neste momento apoiar a presidente e ser contra as medidas de equilíbrio fiscal que o ministro da Fazenda Joaquim Levy está apresentando. Quem age assim, como as centrais sindicais, na verdade está sabotando o segundo governo da presidente Dilma, e pouco importa que diga que faz isso por apoiá-la.
O fato é que a própria presidente já admitiu que as medidas para incentivar o consumo perderam o efeito, e que agora é hora de fazer justamente o contrário, isto é, cortar gastos e reequilibrar as contas públicas. Mesmo que seja um equívoco reiterado da presidente, que continua dizendo que as medidas que tomou no primeiro governo estavam corretas para aquela ocasião, e já não servem no momento atual, quando já está provado que foram elas que ocasionaram a situação que vivemos hoje, de qualquer maneira ela reconhece que tem que fazer diferente hoje para recuperar a credibilidade de seu governo.
O fracasso do movimento de ontem ganhará uma dimensão maior caso as manifestações de amanhã, nas diversas versões contrárias ao governo Dilma, sejam maiores. A medida pode ser São Paulo, onde ontem houve a maior manifestação a favor da presidente Dilma e contra o impeachment. Segundo cálculos oficiais da Polícia Militar, cerca de 12mil pessoas participaram da manifestação em seu pico.
O Palácio do Planalto está trabalhando com a expectativa de que a manifestação de amanhã será maior em São Paulo, que se tornou o centro político antipetista, e fraca nos outros Estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, ontem a manifestação a favor da Petrobras e contra o golpismo reuniu cerca de 1000 pessoas. Amanhã, em Copacabana, os organizadores da manifestação contra o governo nas redes sociais esperam número maior.
Por isso mesmo o Palácio do Planalto tentou até o último momento cancelar as manifestações das centrais sindicais e dos movimentos sociais atrelados ao governo, pois sabia que as conseqüências seriam ruins.
Se fossem fortes, poderiam estimular as manifestações contrárias ao governo. Fracas, como foram, exibiram a incapacidade de mobilização desses movimentos que já foram vistos como uma ameaça à democracia. Hoje, são apenas movimentos de pelegos transportados em ônibus, com diária e comida. A incapacidade de arregimentação da CUT já fora demonstrada meses atrás quando, com Lula de garoto propaganda, tentaram dar um abraço na sede da Petrobras do Rio e faltaram braços.
Um fato positivo foi que não houve violência em nenhuma manifestação pelo país, o que indica que a radicalização política está limitada às redes sociais e aos chamados “gritos de guerra”, sem se transformar em conflitos de rua.
Amanhã, nas manifestações contra o governo, saberemos se o mesmo espírito pacífico prevalecerá, ou se os Black blocs arregimentados pelas milícias governistas tentarão repetir a ação de 2013, quando conseguiram dispersar os manifestantes recorrendo deliberadamente às depredações e à violência física.
14 de março de 2015
Merval Pereira, O Globo
Um vídeo espalhado pela internet mostra um discurso recente de Stedile na Venezuela, confraternizando com o companheiro Maduro, onde afirma que uma “elite de mierda” na América Latina está tramando contra os governos populares.
Pela demonstração de ontem, a luta começou mal para os movimentos sociais que atenderam ao chamamento de Lula, que declarara esperar muita gente nas ruas ontem. Por qualquer regra que se meça, não é possível dizer que as manifestações foram um sucesso, embora tenham se espalhado por vários Estados. Foram um reflexo do que constatam as pesquisas atuais: uma minoria de 7% apóia o governo Dilma.
Essa capilarização do movimento serviu até para evidenciar a fraqueza da organização, pois em algumas cidades poucas dezenas de manifestantes se dispuseram a sair às ruas num protesto ambíguo, que defendia a presidente Dilma, mas criticava sua política econômica.
Uma está umbilicalmente ligada à outra, e não é possível neste momento apoiar a presidente e ser contra as medidas de equilíbrio fiscal que o ministro da Fazenda Joaquim Levy está apresentando. Quem age assim, como as centrais sindicais, na verdade está sabotando o segundo governo da presidente Dilma, e pouco importa que diga que faz isso por apoiá-la.
O fato é que a própria presidente já admitiu que as medidas para incentivar o consumo perderam o efeito, e que agora é hora de fazer justamente o contrário, isto é, cortar gastos e reequilibrar as contas públicas. Mesmo que seja um equívoco reiterado da presidente, que continua dizendo que as medidas que tomou no primeiro governo estavam corretas para aquela ocasião, e já não servem no momento atual, quando já está provado que foram elas que ocasionaram a situação que vivemos hoje, de qualquer maneira ela reconhece que tem que fazer diferente hoje para recuperar a credibilidade de seu governo.
O fracasso do movimento de ontem ganhará uma dimensão maior caso as manifestações de amanhã, nas diversas versões contrárias ao governo Dilma, sejam maiores. A medida pode ser São Paulo, onde ontem houve a maior manifestação a favor da presidente Dilma e contra o impeachment. Segundo cálculos oficiais da Polícia Militar, cerca de 12mil pessoas participaram da manifestação em seu pico.
O Palácio do Planalto está trabalhando com a expectativa de que a manifestação de amanhã será maior em São Paulo, que se tornou o centro político antipetista, e fraca nos outros Estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, ontem a manifestação a favor da Petrobras e contra o golpismo reuniu cerca de 1000 pessoas. Amanhã, em Copacabana, os organizadores da manifestação contra o governo nas redes sociais esperam número maior.
Por isso mesmo o Palácio do Planalto tentou até o último momento cancelar as manifestações das centrais sindicais e dos movimentos sociais atrelados ao governo, pois sabia que as conseqüências seriam ruins.
Se fossem fortes, poderiam estimular as manifestações contrárias ao governo. Fracas, como foram, exibiram a incapacidade de mobilização desses movimentos que já foram vistos como uma ameaça à democracia. Hoje, são apenas movimentos de pelegos transportados em ônibus, com diária e comida. A incapacidade de arregimentação da CUT já fora demonstrada meses atrás quando, com Lula de garoto propaganda, tentaram dar um abraço na sede da Petrobras do Rio e faltaram braços.
Um fato positivo foi que não houve violência em nenhuma manifestação pelo país, o que indica que a radicalização política está limitada às redes sociais e aos chamados “gritos de guerra”, sem se transformar em conflitos de rua.
Amanhã, nas manifestações contra o governo, saberemos se o mesmo espírito pacífico prevalecerá, ou se os Black blocs arregimentados pelas milícias governistas tentarão repetir a ação de 2013, quando conseguiram dispersar os manifestantes recorrendo deliberadamente às depredações e à violência física.
14 de março de 2015
Merval Pereira, O Globo
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