Na série de manifestações realizadas na sexta-feira 13, o que se viu foi mais um evento inspirado exclusivamente em marquetagem política, sem transparecer a menor motivação popular. A começar pela impressionante padronização visual, com a maioria dos participantes usando camisetas vermelhas do PT, da CUT, do PCdoB, da UNE e do MST, e empunhando bandeiras também vermelhas, , além dos uniformes de cor laranja dos petroleiros, o que demonstrou de forma clara o caráter meramente político-partidário deste ano público.
A infiltração ficou tão evidente que até mesmo no Rio de Janeiro, onde praticamente não existe atuação do Movimento Rural dos Trabalhadores Sem Terra, o pessoal do MST também marcou presença, a partir da concentração realizada nos belíssimos jardins do bairro da Glória, antes de rumar para o centro da cidade.
ATÉ A CUT PROTESTA…
Acontece que nunca dá certo esse tipo de mobilização social à la carte, mediante menu preparado pelos chefs da cozinha palaciana. Pelo contrário, a comida sempre azeda, fica intragável. Foi o que aconteceu na sexta-feira 13. Para começar, houve um importante protesto de surpresa na refinaria Duque de Caxias, onde os petroleiros fizeram uma paralisação de 4 horas para denunciar a errônea política que o governo está adotando em relação à Petrobras, ao pretender tirar a empresa do atoleiro mediante venda de seus valiosos ativos, como os navios-tanque da Transpetro. Segundo os sindicalistas, com a estratégia do chamado “desinvestimento”, a Petrobras vai acabar provocando desemprego em massa no país.
Também a CUT aproveitou a oportunidade para alfinetar o governo. Enquanto na Avenida Paulista o carro de som pedia a retirada das MPs 664 e 665, que alteram regras para acesso a benefícios como seguro-desemprego, auxílio-doença e pensão por morte, em frente à sede paulista da Petrobras o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas, dava entrevista reafirmando que a manifestação da sexta-feira 13 não era a favor do governo e sim contra a política econômica atual.
CLASSE MÉDIA NAS RUAS
Neste domingo, a manifestação será muito maior, atingindo mais de 200 cidades. Não haverá uniformização visual, embora muitos organizadores tenha sugerido camisetas amarelas.
Em lugar dos sindicalistas, dos militantes do PT, da CUT, do PCdoB, do MST e da UNE, as ruas serão tomadas pela classe média, que parece estar tentando reprisar a Marcha com Deus pela Democracia, realizada em 1964 para desestabilizar o governo João Goulart.
Como a História só se repete como farsa (conforme o filósofo Karl Marx ensinou), a manifestação deste domingo não repetirá os idos de março nem fortalecerá nenhuma intervenção militar. Com toda certeza, porém, este gigantesco ato público está destinado a incentivar expressivamente o movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, que já tem mais um pedido tramitando na Câmara.
É o 19º pedido , desta vez apresentado pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que está sempre em busca de mais 15 minutos de fama. Mas ainda é cedo. Impeachment é como determinados frutos, que só podem ser tirados da árvore quando já estão suficientemente maduros. É preciso ter paciência para saboreá-lo.
14 de março de 2015
Carlos Newton
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