"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 25 de outubro de 2014

REFORMAS DECEPCIONAM E CUBANOS SE LANÇAM AO MAR

 
 


Oceano volta a ficar coalhado de ‘balseros’, e ‘The New York Times’ pede que EUA encerrem embargo econômico de mais de 50 anos, restabelecendo relações com a ilha



Cuba tem frequentado o noticiário nas últimas semanas em grande parte pelo papel destacado do seu governo no combate à epidemia de ebola, tendo enviado até agora 256 profissionais de saúde à África. Em editorial, o “New York Times” não poupou elogios à iniciativa de Havana, e o governo americano saudou a “oportunidade de colaborar” com Cuba nessa frente. Em artigo intitulado “A hora do dever”, o próprio Fidel Castro escreveu: “Vamos cooperar com gosto com o pessoal americano.”

Em outro editorial, o “New York Times” chamou a atenção para Cuba ao exortar firmemente o governo americano a “restabelecer relações diplomáticas e acabar com um embargo (econômico) insensato” de mais de 50 anos. Segundo o jornal, o presidente Obama “deve aproveitar a oportunidade para dar fim a uma longa era de inimizade”. Significativamente, Fidel, em sua coluna no jornal oficial “Granma”, republicou quase todos os parágrafos do texto, mesmo os que faziam críticas ao governo cubano, como no caso dos prisioneiros políticos.

Para os cubanos, porém, o que sobra é a dura realidade de sempre. A Venezuela, a mecenas que substituiu a URSS na ajuda à ilha, está em crise profunda e a mesada escasseia. As reformas de liberalização econômica restrita, introduzidas desde 2008 por Raúl Castro, parecem não dar o resultado esperado. A situação em Cuba piorou e os 144km que a separam da Flórida ressurgiram como chamariz em busca de melhores dias.

O oceano voltou a ficar coalhado de rudimentares e frágeis embarcações em que os balseros arriscam suas vidas, e muitos as perdem, para alcançar os EUA. Pelas regras em vigor, se conseguirem chegar a uma praia americana, são acolhidos. Se forem abordados pela Guarda Costeira americana antes disso, são enviados de volta. Nos 12 meses até 30 de setembro, segundo o próprio “Times”, cerca de 25 mil cubanos chegaram aos EUA. O número total dos que tentaram dobrou nos últimos dois anos. O fluxo traz à memória dois episódios que são uma referência: a crise dos balseros, de 1994, quando Fidel permitiu a saída em massa em resposta aos esforços americanos para coibir a imigração ilegal. Cerca de 47 mil cubanos deixaram a ilha. Entre 15 de abril e 31 de outubro de 1980, ocorreu o êxodo pelo porto de Mariel, precipitado por uma desaceleração da economia cubana. Mais de 125 mil cubanos emigraram, os marielitos.

O novo êxodo mostra que a abertura econômica não está sendo suficiente para tirar Cuba do buraco. Havana precisa dar passos concretos para flexibilizar o regime e começar a construir instituições democráticas.

Com isto, os EUA suspenderão o embargo, e uma era de prosperidade pode se abrir para o povo cubano. Investimentos, inalcançáveis hoje pelo o país, acorrerão em busca de um mercado de gente ansiosa para satisfazer a sede de modernidade e integração à economia global.

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